Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   Ucker abriu os olhos e sentiu as costas deitada numa placa de ferro desconfortável e dura. Ele passou a língua nos lábios, estava com a boca seca e uma sede irradiante que queimava sua garganta, lhe deixando torturado. O soldado olhou em volta, estava mesmo na enfermaria, só com a calça e com o coturno da farda, mas a perna direita de sua calça estava rasgada, devido ao corte na perna. Mas não havia dor, não havia dor nenhuma. Ele esperava que sua perna estivesse queimando, mas já tinha cessado e a febre também. Seu corpo estava colando por causa do suór, a boca rachada.

- Olá, cabo. Sente-se melhor? – Sussurrou uma voz bem próxima da sua, Ucker olhou para o lado e viu uma enfermeira parada ao lado dele, com um copo de água na mão e um comprimido numa bandeja de metal. A mulher era negra com os olhos claros, sorria de leve e vestia uma farda impecável de enfermeira.

- Sim. – Sua voz saiu rouca demais, a garganta ardeu, sua boca estava sem saliva. Ele estendeu a mão e pegou o copo, bebendo água antes de tomar o comprido. Sentiu um alívio caindo por sua garganta.

- Lembra do que aconteceu? – Murmurou a enfermeira, olhando pra ele.

- Sim, eu machuquei minha perna e o Chris me trouxe pra cá com o comboio de emergência. Eu já estava alucinando, sonhei até... – Ucker pigarreou. – Com a minha noiva. Ela estava aqui, com você, cuidando da minha ferida, estava vestida assim como você.

   A enfermeira, que tinha o nome de Luna escrito na identificação colada na farda, abaixou o olhar. Ucker não entendeu e lhe entregou o copo, encarando a enfermeira.

- Que cara é essa? – Ele perguntou e sentou-se na maca, colocando os pés no chão.

- Cabo Uckermann, eu não sei é a hora certa de dizer isso, mas...

- Fala logo, pelo amor de Deus. – Ucker apertou os olhos, dizendo entredentes.

- Eu estou aqui, Ucker. – Uma voz delicada entrou na conversa e Ucker tremeu na base, sentindo as pernas bambearem. Não acreditava que aaquela voz estava tão próxima de si, mas estava. Era a voz de Dulce. O soldado demorou pra tomar coragem e abrir os olhos, mas quando o fez, sua noiva estava parada na porta da enfermaria vazia, os olhos marejados, o rosto sem nenhuma maquiagem, o cabelo preso num coque e uma boina de enfermeira. Ele nunca esperava ver Dulce daquele jeito. Estava alucinando novamente, com certeza era isso, ia acordar a qualquer momento, talvez até num saco de dormir no meio do nada. Mas aquilo só podia ser um sonho, um pesadelo... Enfim, aquilo não era real.

- Vou deixar vocês sozinhos, precisam conversar. Com licença. – Luna saiu pela porta da enfermaria, passando ao lado de Dulce, mas nennhum dos dois disse alguma coisa. O silêncio começou a ficar constrangedor, estranho, desconfortável. Dul tomou coragem e caminhou até Ucker em passos lentos, com as duas mãos entrelaçadas sobre a barriga, soando bem formal. Ela olhava pra ele, no fundo dos olhos. Dul parou de frente para Ucker, centímetros os separavam.

   Faltavam palavras para o momento. E quando faltam palavras, atos substituem.

- Dulce... – Ucker suspirou, seus olhos arderam imediatamente e ele puxou a ruiva para si, seu braço passou na cintura dela e os corpos se colaram, cada centímetro encostando um no outro. Dul encaixou a cabeça no pescoço dele, aspirando o cheiro de Ucker e sorrindo, lágrimas caíram sem controle nenhum.

- Oi, amor, oi. Estou aqui. – Dul sussurrou, a voz embargada.

- Eu não acredito nisso. – Ucker sorriu abertamente, uma lágrima caiu e ele sentiu o coração acelerado palpitando dentro do peito. Ela estava ali, não dava pra acreditar naquilo, ela estava ali com ele, abraçada. Aquele abraço era real.

- Eu te amo, meu amor. Eu te amo. – Dul beijou o peito dele, ouvindo o coração dele pular.

- O que você fez? – De repente, num lapso de juízo, quando a ficha caiu e Ucker finalmente percebeu onde estavam, ele pegou Dul pelos ombros e a encarou, afastando o corpo do dela.

   Dul fechou o sorriso e secou algumas lágrimas com as pontas dos dedos, depois abaixou o olhar. Em um minuto, ele estava feliz por ela estar ali, no outro, tinha percebido a burrice da namorada.

- Eu não acredito nisso. – Ucker levou as duas mãos até a cabeça e abaixou o rosto, confuso. Do nada, começou a sentir uma forte dor de cabeça e uma sensação de aperto, de sufoco no peito.

- Ucker... – Ela começou a se desculpar, pegando na mão dele, mas Ucker pareceu irredutível e puxou a mão.

- Que droga, você não fez isso. – Ele já estava entre um momento de fúria e um momento de choro.

- Ucker, amor, era o melhor pra gente. Assim, podemos ficar juntos e perto um do outro...

- Para, Dul, para com isso. – Ucker alterou o tom da voz, olhando Dul. – Será que você não percebe? Não enxerga as coisas a nossa volta, a guerra em que estamos... Vamos é acabar os dois morrendo nesse inferno!

- Amor, não é assim... – Dul disse, a voz calma. Ela envolveu o rosto dele com as duas mãos, mas ele as tirou, se afastando.

- Você não podia ter feito isso, Dul. Não podia ter feito isso comigo, com a gente...

- Nunca mais íamos nos ver, Ucker! – Dul exclamou. – Se for pra morrer, que pelo menos seja com você! – Lágrimas saltaram dos olhos de Dul, enquanto o tom de voz subia. – Eu vim porque prometi pra mim mesma que estaria com você em qualquer lugar, em qualquer situação, acima de todas as coisas. Eu só queria... Eu não sei o que eu queria, mas...

- Shii, shii. – Ele  puxou pelo braço e a abraçou, consolando Dulce. – Calma, amor. Não chora. Eu te amo, princesa.

   Ela secou as lágrimas e levantou o olhar, vendo seu soldado ali, na sua frente. Como não ter certeza daquele amor? Como não saber que faria qualquer coisa pra ficar com ele, pra estar com aquele homem, para ser dele? O casal ficou se encarando por longos segundos, olho no olho, uma conexão mágica os envolvia. Ucker pegou o rosto de Dul com as duas mãos e encostou a testa na dela, fechando os olhos e suspirando alto.

- Amantes desafortunados, trágica história... Como em Romeu e Julieta. – Ele sussurrou, sem abrir os olhos, sentindo a respiração dela.

- Maldita sorte. – Dul deu um risinho pra não chorar.

   Ele inclinou o rosto de leve e passou o nariz no dela, acariciando. Mas quando faltavam milímetros para os lábios apaixonados se encontrarem, houve um barulho de botas marchando no chão, a caminho da enfermaria, o som estava bem próximo. Dul abriu os olhos e se afastou, recompondo-se rapidamente e Ucker apenas olhou para a porta. O general entrava, fardado, acompanhado de mais dois soldados que ficaram na porta quando o senhor entrou.

- Enfermeira Saviñon, se apresentando senhor. – Dul parou reta, fazendo uma continência. Ucker olhou a cena, nunca, em momento algum, pensou que veria aquilo acontecendo.

- Dispensada. – O general também fez uma continência e Dul passou por ele, olhando para trás.

   Ucker ficou vendo a ruiva sair, se afastar dele lentamente, a chance de tê-la lhe escapar pelos dedos. Ela olhou pra trás com uma expressão de tristeza, depois virou-se pra frente e saiu.

- Cabo Uckermann, se apresentan...

- Ei, ei, não precisa levantar, Uckermann. – O general estendeu a mão.

- Posso ajudá-lo em alguma coisa, senhor? – Ucker perguntou.

   O soldado teve que fazer um grande esforço para prestar atenção no que o general começou a dizer, porque seus pensamentos focaram em Dulce. Ela estava lá, tão próxima dele, mas ao mesmo tempo tão distante. Ucker cerrou os olhos e começou a arquitetar em sua cabeça uma forma de estar com ela, nem que fosse por poucas horas, precisava estar com ela antes de voltar de vez para o combate. Ele mordeu o lábio e pensou, com muita determinação, que tinha mais uma missão a cumprir. E cumpriria, ainda que fosse a última coisa que fizesse, ele estaria com Dulce e a amaria como se fosse a última vez.

Comentem, meus bebês... Boas Festas, guardem rabanadas para mim ;)