Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   O sol quente iluminava a pequena tropa que se movimentava calmamente pela floresta densa no meio do nada. Quase não dava pra respirar ali, era tão sufocante que apenas em pequenos passos, você já sentia uma falta de ar imensa, como se não houvesse oxigênio o suficiente para lhe manter de pé. Ao longe, uma vez ou outra ouviam-se barulhos de tiros e alguns pássaros voavam desesperados das árvores. Ucker e Chris acompanhavam o general, eram como os braços dele, um de cada lado, atento a cada detalhe, a cada sinal de perigo. Os outros soldados vinham atrás, olhando em volta, como sinal de proteção. Ucker já estava com o rosto suado, completamente suado, seu fuzil estava a sua frente, pronto para atirar, o dedo no gatilho, os olhos na mira. Ele pensava em Dul, pensava em como sentia a falta dela e mal conseguia se concentrar nos barulhos a sua volta, seus pensamentos gritavam e as lembranças iluminavam sua mente a todo momento. Aquela dúvida cruel latejava em sua cabeça, ele ainda não sabia se ia ser pai ou não. Desde aquele dia, tinha essa dúvida em si, seu maior sonho sempre foi ser pai, mas não tinha como ficar completamente feliz se Dul estivesse realmente grávida. Não no meio daquela guerra, naquele perigo, naquela angústia. Ele sorria ao pensar em um bebê com seus cabelos e com os olhos de Dul, mas seu sorriso sumia quando em seguida, vinha o pensamento de onde eles estavam. Era uma grande incógnita o futuro dos dois caso Dul estivesse realmente esperando um bebê.

- Armadilha! – Christian gritou e Ucker voltou para a realidade, olhando para o chão. Havia uma mina ali, pronta para explodir o primeiro que pisasse.

   Ucker olhou pra Chris e assentiu com a cabeça, seu amigo acabara de salvar sua vida e de todos os outros soldados, Ucker não tinha visto a mina. Precisava prestar mais atenção, não podia perder a vida por causa de uma besteira, tinha lutado todo aqueles anos para dar mole no finalzinho? “Mais atenção, Ucker, presta atenção”, pensou ele.

   A tropa caminhou por mais uns vinte minutos, até que o rádio do general começou a chiar, com uma voz alta vindo de lá.

- Câmbio, aqui é o general Holmes.

- General, eliminamos mais um grupo. – A voz era de Johnny, ele estava ofegante. – Eram mais de dez, apenas um fugiu. Ele está indo na direção de vocês, a missão dele é eliminar o senhor. Não será difícil, Stovik feriu ele.

   A tropa de Johnny estava indo na direção contrária da de Ucker, a estratégia era caminharem, formando um círculo, até se encontrarem em um ponto fixo.

- Ótimo trabalho. – O general murmurou. – Mas não próxima, não deixem restos para nós. – E apertou o botão do rádio, dando fim ao curto diálogo. – Vicent, aproxime-se.

- Pronto, senhor. – O soldado parou, fazendo uma continência rápida.

- Você fica e faz a limpa, elimina o fugitivo. Nós vamos na frente, corra para nos alcançar. Olhos atentos. – O general ordenou e virou-se de costas, continuando a caminhar, Vicent arregalou os olhos. Ucker olhou para o soldado, era seu primeiro ano de Legião, aquele era o caçula do regimento e da família, tinha vinte anos ainda. Além do mais, Vicent tinha uma namorada o aguardando em casa. Ele tinha percebido que a Legião Estrangeira não era nada parecido com o que sonhara, o garoto já tinha caído em si no primeiro ano.

- Eu fico, senhor. – Ucker disse, em alto tom, todos olharam pra ele.

- Não vou deixar você, é meu esquerda. – Disse o general. – Preciso de você, Uckermann, não pode ficar pra trás. É só um ferido.

- General, se o senhor permitir, eu quero ficar. O soldado Vicent ainda não tem experiência suficiente com identificação de armadilhas, seria um equívoco deixá-lo para trás sem a tropa. Eu ficarei, alcanço vocês em poucos minutos.

- É um homem de sorte, Vicent. Agradeça ao seu colega. – O general assentiu para Ucker e continuou caminhando, Chris lançou um olhar assustado para Ucker antes de ir ao lado direito do general.

- Obrigado, senhor. – Vicent fez uma continência e sorriu, Ucker sorriu de volta.

- Vai lá, caçula. – Ucker assentiu com  a cabeça.

- Vou estar esperando. – Christian disse, apenas os lábios se movendo, a distância entre os dois já era grande.

- Cuida da nossa tropa. – Ucker fez o mesmo e Chris sorriu.

   Ucker se posicionou em um lugar estratégico, caminhou até a única estrada de terra onde uma hora ou outra, o fugitivo teria que passar. Ele andou mais um pouco, no meio da floresta havia uma grande campina em forma de círculo, aberta no meio da floresta. A grama batia no joelho de Ucker, mas era um ótimo lugar pra ficar. Ali o ar parecia mais puro, mais fácil de se respirar. Ucker parou no meio do lugar e olhou pra cima, o céu estava tão azul quanto as águas oceânicas, o sol quente bateu em seu rosto cansado, mas ali, diferente do restante da floresta, o vento batia leve e refrescava. Ele queria estar ali com Dul, deitar com ela na grama, olhar para o céu e esquecer que aquele lugar era no meio de uma guerra. Esquecer que eles estavam numa guerra. Mas não podia, isso doía tanto. Ucker fechou os olhos e como sempre, sua audição ficava bem melhor quando faltavam-lhe os outros sentidos. Ele ouviu claramente passos que se aproximavam sorrateiros e arrastados, um homem respirava ofegante, quando Ucker abriu os olhos, o fugitivo estava na sua frente, roupa típica dos grupos rebeldes, um pano preto cobrindo o rosto, somente os olhos de fora, e uma ferida de bala de fogo em sua barriga, onde o homem apoiava firmemente a mão, tentando conter o sangue, que caía por seus dedos e escorria pela perna.

   Ucker não pensou duas vezes e levantou o revólver, acertando um tiro no outro lado da barriga do homem, que caiu no chão com o impacto. Ele fechou os olhos e ouviu um barulho de caminhão se aproximando, ficou escutando por alguns segundos.

   Dul estava na parte do caminhão aberto da enfermaria, seus olhos atentos e os de outras enfermeiras procuravam por qualquer vítima que estivesse por ali. Foi quando o caminhão passou por uma estrada ao lado de uma campina e ela sentiu aquela pontada na barriga novamente. Olhou em volta, olhou de novo. Foi quando o viu. Ucker estava parado de costas para ela, acabara de abaixar uma arma e ficou parado por alguns segundos. Ela tinha certeza que era ele, sabia reconhecê-lo de longe.

- Rapide! Plus vite! – Gritou ela para o soldado motorista.

   O caminhão começou a se aproximar cada vez mais, Dul se apoiou e ficou olhando diretamente para Ucker, até que ele virou-se em sua direção. O soldado colocou a mão na frente dos olhos para enxergar o caminhão que se aproximava, quando viu uma ruiva apoiada na traseira. Então, ele abriu seu sorriso mais lindo, Dul estava lá. Aquele pequeno momento causou uma alegria incrível nos dois, um reencontro emocionante, o coração estava mais acelerado do que nunca.

   Dulce sorriu e quando o caminhão estava a menos de cem metros de distância de Ucker, um som alto de tiro ecoou pela campina. O sorriso de Dulce se fechou. Pássaros voaram das árvores, gritando, e ela sentiu uma pontada muito forte em sua barriga, se esquivou pra frente de dor e se segurou em alguém que estava ao seu lado. O sorriso de Ucker foi sumindo aos poucos e ele piscou os olhos diversas vezes, antes de cair lentamente de joelhos no grama. Uma mancha vermelha apareceu no lado esquerdo do abdomên e Ucker colocou a mão sobre ela, antes de cair por completo, com as costas no chão. Dul gritou e pulou de cima do caminhão sem pensar duas vezes, correndo com as pernas fracas, seus pés pareciam se embolar e prontos para fazê-la tropeçar, mas ela continuou correndo. A boina saiu de sua cabeça, seu coque desmanchou-se, o cabelo vermelho soltou-se no vento. Seu corpo queria desmaiar, queria cair e morrer, mas precisava ser forte para chegar até ele. Gritos do caminhão, passos atrás de si, e um tiro passou por cima dela, atingindo em cheio a cabeça do homem ajoelhado que tinha dado um tiro em Ucker pelas costas. Ela continuou correndo, quando chegou perto de Ucker, seu corpo se jogou pra frente, os joelhos ralaram-se ao encontrar a grama e as lágrimas começaram a molhar o rosto dele.

- Não, por favor, não! – Ela começou a dizer, lágrimas caíam, soluços altos, a adrenalina em seu corpo estava a mil.

- Oi, amor. – Ele tossiu e deu um pequeno sorriso de lado.

- Tragam o caminhão, eu preciso de... – Dul gritou, olhando para trás, para as enfermeiras que chegavam. Droga, ela não conseguia lembrar do que precisava, do que fazer numa situação daquelas, qual era a sua conduta como enfermeira. Precisava parar e pensar, mas era impossível com Ucker ferido.

- Shii, shii. Olha pra mim. – Ucker segurou o rosto dela, virando-o para si. – Para com isso. Há um lugar e uma hora pra morrer.

- Mas não é agora! – Dul gritou. – Não é aqui!

   Ele suspirou.

- Eu te amo. – Depois tossiu e piscou os olhos, segurando o rosto dela com mais força.

- Por favor, não se despeça. Não faz isso, por favor. – Dul disse com voz embargada, o choro não cessava. – Você não vai morrer, você não pode morrer. Você vai ser pai, Ucker! Tá me ouvindo? Você vai ser pai! – Ela segurou nos ombros dele, o balançando.

   Ele esboçou um pequeno sorriso e fechou os olhos, foi a última coisa que escutou antes de encontrar com o escuro, deixando sua cabeça cair pra trás. Dul encostou a testa nele, chorando muito, lágrimas e soluços saíam e o rosto manchado de sangue afundou no farda, abafando os gritos desesperados. 

Senhor, que triste! Não me matem antes de eu contar tudo, não se precipitem, ok? Beijos, até e comentem !