Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   As enfermeiras e soldados em volta olhavam a cena, já comovidos. Alguns já se rendiam as lágrimas, a cena era realmente comovente. Dulce estava deitada sobre o corpo do soldado Uckermann, o rosto manchado de sangue estava coberto de lágrimas e os olhos estavam inchados e vermelhos de tanto chorar. Ela apertava o rosto no peito dele, e só sabia dizer que aquilo não estava acontecendo. Dul estava desesperada, ao encostar o ouvido no peito dele, podia ouvir o silêncio que estava dentro de Ucker agora. Não havia o som de seu coração, aquele ritmo acelerado que ela sempre escutava quando o abraçava e encostava a cabeça no peito dele, agora não estava mais ali. O coração dele não batia mais.

   Ela então, respirando fundo, tentou se controlar e com lágrimas nos olhos, ergueu seu pequenino rosto e o beijou de leve, tocando com muita delicadeza os lábios na boca do namorado. Os lábios dele estavam ressecados, mas ainda eram quentes, tinham a mesma temperatura que Dul marcara em suas lembranças. As mãos da ruiva estavam cruzadas sobre o peito dele e quando ela se afastou para olhá-lo, sentiu um batimento embaixo de suas mãos. Dul esboçou um pequeno sorriso e não precisou encostar o ouvido no peito de Ucker para ter certeza que ele estava vivo. Ucker mexeu os dedos lentamente, depois os lábios e por fim, abriu uma pequena linha com os olhos. Seu peito começou a subir e descer rapidamente, com certeza, com um tiro nas costas, ele estava com muita dificuldade em respirar.

- Rápido! Precisamos levá-lo para o caminhão! – Dul olhou para trás e levantou-se. – Por favor, ajudem, ele precisa ir para uma enfermaria!

   Minutos depois, o motorista do caminhão, um soldado que conhecia Ucker, dirigia apressadamente pela estrada de terra, os olhos focados, todos ansiosos para chegarem a enfermaria. Dul segurava a mão de Ucker, ele estava deitado num banco na parte de trás e seu sangue manchava o chão do caminhão. Ele estava de olhos fechados, mas continuava respirando pesado, isso sempre acontece com quem leva um tiro no abdômen, por ser doloroso utilizar os músculos da barriga que nos ajudam a inflar e desinflar os pulmões.

   Quando eles chegaram, Dul olhou pra cada detalhe, aquela enfermaria era bem diferente do que ela imaginava, era bem grande, espaçosa, toda branca, parecia mais um hospital. E podia ser classificado como um hospital, ali estavam os médicos da Legião Estrangeira, homens que eram soldados formados em medicina. Ucker foi levado numa maca para dentro de um quarto, com duas enfermeiras empurrando e um médico acompanhando. Mas ele não parecia ser a prioridade ali, haviam muitos casos, muitos soldados feridos, sangue e um cheiro impregnado de hospital. Efeitos da guerra. Não se passaram dez minutos e o médico chegou, Dul levantou-se.

- Tenho notícias do cabo. O tiro foi de pistola e como foi pelas costas, atingiu um rim. – O médico murmurou, Dul arregalou os olhos. – Esse tipo de ferimento não é tão preocupante, afinal, como enfermeira a senhorita deve saber que o abdômen muitas vezes estanca o sangue pela faixa de minutos.

   Dulce assentiu.

- Então, foi isso que aconteceu com o cabo. – Continuou o médico. – Ele precisa de uma doação de sangue e o tipo dele é considerado raro, não temos no nosso banco.

- Eu sou compatível! – Dulce exclamou, lembrando da vez que Ucker doara sangue pra ela.

- Bom, isso é ótimo. Vamos aferir seus sinais vitais e vou pedir para que uma enfermeira faça sua coleta de sangue e seu teste, para poder doar o sangue...

   Foi aí que Dul paralisou. Suas pernas travaram e ela lembrou-se que não podia, levando as mãos até a barriga. Dul era técnica em enfermagem e qualquer técnico sabia que gestantes não podem doar sangue, pois isso compromete seu estoque de ferro no organismo, o que pode evoluir para um quadro de anemia trazendo riscos ao feto. Ela paralisou, tinha que contar isso ao médico.

- Ah, eu... eu... não posso. – Dul murmurou, entredentes.

- O que? – O médico virou-se para ela.

- Eu... – Dul engoliu em seco. – Estou grávida.

   O médico olhou sério para Dulce e depois, levantou o olhar para alguém que estava atrás dela, olhando por cima do ombro dela. Dul mordeu o lábio, olhando para trás, dando de cara com o general Holmes. O general de seu regimento estava ali, que droga!

- Eu posso doar pro Uckermann. – Murmurou o general, olhando pra Dul com os olhos estreitos. – Ele já me doou uma vez, somos compatíveis.

- Me acompanhe, senhor. – Respondeu o médico, depois de fazer uma continência em resposta ao general.

- Depois conversamos, Saviñon. – O general olhou para Dulce.

- Sim, senhor. – Ela sussurrou e também fez uma continência, o general foi caminhando com o médico, olhando pra trás.

   Dulce acariciou a barriga de leve e sentou-se no banco de espera, Luna estava ali e passou os braços pelos ombros de Dul, tentando reconfortá-la. Passaram-se quase uma hora antes do general surgiu na sala de espera novamente, ele vinha sendo apoiado por um soldado, mas estava perfeitamente bem. Todos levantaram-se, ficando em suas posturas corretas de soldados, e ele caminhou até Dulce, parando na frente dela, a centímetros de distância.

- Me acompanhe. – Ordenou ele e saiu caminhando até a capela do hospital, uma pequena parte montada com um pequeno altar. Estava vazia, Holmes entrou e Dul entrou em seguida. – Está tudo bem com Uckermann, o rim dele foi retirado, mas muitas pessoas vivem bem com apenas um rim. – Dul assentiu e respirou aliviada, tinha certeza disso, sua avó era a prova viva disso, o rim dela tinho sido tirado com apenas três meses de vida e ela vivia uma longa e saudável vida como qualquer pessoa normal.

- Obrigada, senhor. Você salvou a vida dele. – Dul abaixou a cabeça.

- Ele já salvou muitas vezes a minha. – O general cruzou os braços. – E é por isso que eu vou fingir que não sei que Uckermann é o pai do seu filho, e que isso pode acarretar uma prisão pra ele e uma expulsão. Eu não sei em que momento dessa guerra vocês se apaixonaram e nem é do meu interesse, mas em consideração a ele, vou fingir que nada disso é do meu conhecimento.

   Dul engoliu em seco.

- Mas não posso permitir que você continue aqui, conosco. Você está grávida e como profissional da área de saúde, sabe muito bem que precisa ir ao médico, acompanhar sua gestação para que esse criança nasça saudável. E isso não pode acontecer com a senhorita trabalhando nessa guerra. O estresse e a pressão vão lhe prejudicar, Saviñon, e também ao seu bebê.

   Ela acariciou a barriga e continuou ouvindo atentamente.

- Eu tenho filhos, Savinõn, uma menina que regula de idade com você e um menino um pouco mais velho que Uckermann e acredite, se algum dos dois estivesse numa situação como a de vocês, eu gostaria que alguém os ajudasse. Eu serei esse alguém, Saviñon. Hoje mesmo assino os papéis pra dispensá-la, não colocarei o motivo real, sabe que é prioibido envolvimento na Legião e se soubessem sobre sua gestação... Bom, não quero nem imaginar. Então, vou colocar que você foi dispensada por motivos de saúde.

- O que... como assim? – Dul perguntou.

- Saviñon, isso significa que você vai pra casa. A Legião Estrangeira pra você acaba aqui.

   Dul arregalou os olhos. Não acreditava no que estava ouvindo. Não podia acabar, não agora. Ela não podia ir embora.

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