Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   Um vento gelado entrava pelas janelas do ônibus, que não parava de balançar um segundo sequer. Aquilo já estava deixando Ucker enjoado e tonto, mas as pessoas daquela cidade pareciam simplesmente estarem acostumados com o clima bipolar e a estrada repleta de curvas fechadas. Na verdade, não era tão ruim quanto ele pensava. Não era uma cidade caipira, nem com aquele aspecto de interior, era apenas pequena. As pessoas eram bonitas e educadas, o clima era intenso, a paisagem era repleta de praias, montanhas, cachoeiras, trilhas e uma floresta com fauna e flora bem diversificada. Então Ucker só estava agradecendo mentalmente pela chance que surgira de ter uma férias decente naquele ano, afinal, ele ralava muito e corria perigo todos os dias, então merecia um bom descanso num lugar tão “paradisíaco” como aquele. Tinha tirado a sorte grande de ingressar na Legião Estrangeira e conhecer seu fiel escudeiro Christian, que sempre o animava e tornava qualquer missão uma grande aventura. O loiro, que às vezes ficava moreno, já salvara a vida de Ucker algumas vezes e isso ele deveria para sempre a seu melhor amigo. Christian era corajoso, parecia não temer nada, sem nenhuma fraqueza e nesses dois anos ao lado de Ucker na legião, tornara-se um verdadeiro irmão de coração e de alma. E agora o estava levando junto para sua cidade natal, para não deixá-lo sozinho nas férias.

   E naquele exato momento, enquanto o ônibus entrava na cidade, o mesmo destemido Chris dormia na poltrona ao lado de Ucker, com a boca aberta e os braços cruzados sobre o peito, a testa franzida de cansaço e incômodo. Ucker deu uma olhada e riu, mas não despertou o amigo do sono, teve pena de tirá-lo daquela pose tão desconcertante e engraçada, mas que parecia fazê-lo descansar. Aliás, eles mal tinham voltado de uma missão na Costa do Marfim, assinaram os papéis e correram para o Charles de Gaulle, aeroporto de Paris. Morar na França era estranho para Ucker, lá os costumes eram outros e as pessoas eram bem diferentes, mas à essa altura do campeonato, já estava adaptado com diversas coisas. Também era estranho o fato da Legião Estrangeira abrigar tantas nacionalidades diferentes, ele tinha amigos de lugares que nem sabia que existiam.

   Ucker era um bom soldado, isso era reconhecido por todos. Seu regimento, 2° Regimento Estrangeiro de Páraquedistas (REP), ficava em Calvi, na Ilha de Córsega e é o melhor de todos, considerado a tropa de elite da Legião Estrangeira Francesa, os melhores entre os melhores. Isso fazia com que ele se sentisse um tipo de herói ou algo assim. Como um personagem de filme, como alguém que estivesse realizando algo raro e quase impossível. Em partes, era assim, mas ser soldado exige muito se um ser humano comum. Não é pra qualquer um, se você não tiver preparo físico, mental, psicológico e todo tipo de preparo possível, você não sobrevive dez minutos.

   O vento gelado fez ele sair de seus pensamentos e voltar para a poltrona que estava sentado. Percebeu que a viagem parecia mais longa quanto mais próximo a cidade ficava e isso o estava angustiando. Devia ter dormido um pouco, as horas passariam mais rápidas, mas não conseguira pregar o olho, não com aquele ônibus sacolejando daquele jeito. Ouviu passos pelo corredor e viu que alguém vinha lá do fundo do ônibus e sentava-se no banco ao seu lado, separado apenas pelo corredor. Por curiosidade e instinto, Ucker olhou para o lado e no mesmo instante, a garota que tinha sentado também o olhou. Ela tinha os cabelos encaracolados vermelhos, escondidos por um boné verde virado para frente e os braços cruzados sobre o apoio do banco a sua frente. Ambos se olharam por breves segundo, conectados, sem nenhuma reação lógica, como se fossem velhos conhecidos prestes a se cumprimentar. A garota então virou o rosto para a janela, mas Ucker permaneceu olhando, avaliando sem nenhuma pressa a figura sentada ao seu lado. Ela não passava de dezoito anos, ainda tinha aquele estilo adolescente, e ele como um homem de vinte e três, devia parar de reparar. Mas não dava. Não era só o corpo desenhado e juvenil da ruiva que despertava atenção, ela simplesmente tinha um jeito bem charmoso, com uma certa atitude. Era muito bonita, mas não parecia disposta a fazer amizade. E mesmo que Ucker quisesse, viu quando a garota levantou da poltrona, passando uma bolsa preta pelo ombro e descendo do ônibus, que acabara de parar. As pessoas começaram a levantar de seus lugares e descer e foi só aí que Ucker finalmente se tocou que ali era o destino final. Ele balançou Chris, que abriu os olhos rapidamente, passando a mão pela boca a arrumando o cabelo amassado.

- Nossa, acorda toda errado. – Zombou Ucker, rindo do amigo, que coçava os olhos.

- Cala a boca, Uckermann. Eu estava um pedaço de carne morta, precisava descansar. Nem todo mundo é feito de aço, garotão. – Chris se espreguiçou. – E aí, vamos?

- Às suas ordens, madame. – Ironizou ele e levantou-se. – Sabe que eu estou sentindo uma coisa?

- Fome?

- Não, sério. – Ucker começou a descer as mochilas. – Acho que essas férias vão ser boas. Na verdade, serão ótimas, vou me divertir muito por aqui.

   Chris revirou os olhos para o amigo, achando que ele já estava ficando maluco.

- Que foi? Viu passarinho verde?

- Não, meu amigo. – Riu Ucker. – “Passarinha”.

- Safado. – Concluiu Christian, erguendo a sobrancelha e rindo de leve. – Você acha isso bonito? Mal chegou na cidade, sequer pôs os pés na minha terra, nem respirou o ar puro do local e já tá com alguém na mira da sniper?

- Relaxa, não tem ninguém na mira, não. Só achei interessante algumas “paisagens” daqui.

- Vai ter as férias toda pra apreciar “paisagens”. Mas agora, carrega sua mala, soldado! – Ordenou Chris, sarcasticamente.

- Sim, senhor. – Ele fez uma continência e riu.