Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   Poncho fez o caminho até o hospital em menos de dois minutos, Annie havia obrigado o namorado a treinar para que não houvesse lerdeza na hora do parto. E agora, a preocupação exagerada da loira poupava mais minutos angustiantes de Miriam sentindo dores pelas pernas. Ela era uma menina tão linda, tinha recém feito nove aninhos, era morena mas perdera seus fios negros e a cor bonita de pele assim que descobrira que um tumor ósseo avançava em sua perna direita. Dul conhecia a família da garotinha intimamente, o casal sonhava em ter uma criança, mas nunca conseguiam. Quando Miriam veio ao mundo, a felicidade foi geral e a notícia foi espalhada pela cidade. Ela era a bebê mais linda que já fora vista na cidade, perdendo apenas para Dul. A mesma tomava conta da menina quando ela era pequenina, e depois, quem pensaria nisso, quando viesse a ser internada num hospital para pacientes com câncer em estado avançado. Era triste como a vida era cruel, porque obrigava a garota a viver dores e sentimentos, a amadurecer precocemente, a lidar com o destino embaçado, com as chances de morte. Aquela doença roubara a inocência, a infância dela e de milhares de crianças espalhadas pelo mundo e Dul às vezes queria que toda aquela dor caísse em seu corpo, mas ao mesmo tempo aliviasse a dor daquelas crianças.

   O corredor do hospital estava gelado, silencioso e vazio. Havia apenas uma ruiva, sentada no banco, o rosto apoiado nas mãos, tentando controlar as lágrimas. Miriam já havia sido levada para a sala, na companhia dos médicos e as outras crianças, depois de acalmadas, de volta para seus quartos, quando Liliana chegou correndo, querendo notícias da filha. A mãe estava desesperada e abraçou Dulce, querendo saber o que houve. Depois que Dulce contou os detalhes sobre o que acontecera com Miriam, elas sentaram-se juntas no banco, aguardando notícias. Dez minutos depois, o médico surgiu carregando a garotinha numa cadeira de rodas, com sua roupa de hospital branca.

   Liliana correu e abraçou a filha, enchendo o rosto da menina de beijos.

- Como você está, querida?

- Calma, mamãe. Eu tô bem. – Miriam sorriu.

- Doutor? – Liliana ergueu o rosto.

- Demos uma medicação pra ela, amenizou a dor. Nós podemos conversar em particular? – Perguntou o médico, aquilo não era nada bom de se ouvir. A mãe concordou e saiu com o doutor, deixando a menina com Dulce. A ruiva se abaixou na frente da cadeira de rodas, passando a mão no rostinho gelado.

- Que susto você me deu, garota. – Dul disse.

- Desculpa, tia. – Ela abaixou o olhar.

- Oh, não, não peça desculpa. – Dulce arrependeu-se, levantando o rosto dela pelo queixo. – Tá tudo bem mesmo? Ainda sente dor?

- Já senti tantas dores. Tá tudo bem. – A menina esboçou um fraco sorriso, é claro que nada estava bem. – Eu já me acostumei. Daqui a pouco isso acaba.

- Não fala assim. – Dul sentiu os olhos se encherem de lágrimas e falou, séria. – Não fala assim nunca mais. Você vai morrer bem velhinha, bem quentinha numa cama. Eu prometo.

- Não promete, tia Dul. Não tenta me enganar. – Ela pegou na mão de Dul, a menina estava muito gelada. – Eu já sei o que vai acontecer comigo. Mas eu quero. Quero virar uma estrela, como a vovó, virar um anjinho.

- Você já é um anjinho.

- Sou não. Anjo não sente dor, tia Dul. Eles são fortes, eu só tenho esse corpinho fraco. Eu nem ando e os anjinhos voam. – Miriam passou a mão no rosto de Dulce, secando uma lágrima. – Chora não, titia. Você vai morrer bem velhinha, do lado do tio Ucker.

   Antes que Dul dissesse alguma coisa, Liliana e o médico voltaram, com cara de preocupados. A mãe estava com os olhos inchados e vermelhos, assustada, mas secou as lágrimas e sorriu, disfarçando. Não queria assustar a filha, mas Miriam era muito esperta, tinha sacado tudo já.

- Filha, o doutor vai te levar pra fazer um exame, mas é bem rapidinho e não dói nada, tá bom?

   Miriam fez um biquinho, mas assentiu.

- Calma, Dulce. – O médico passou a mão no ombro de Dulce antes de empurrar a cadeira de rodas para dentro de uma sala. Miriam acenou para as duas, sorrindo e depois sumiu porta à dentro.

   A ruiva caminhou até Liliana e envolveu os braços na mãe exausta e preocupadíssima. Depois de alguns segundos em silêncio, Dul perguntou:

- O que aconteceu?

- Os ossos estão sofrendo degeneração progressiva, em outras palavras, estão esfarelando. Ela só diminui de tamanho e agora, não anda mais. O doutor pediu uns exames, porque se o problema se alastrar, vai afetar os pulmões e outros órgãos também. – Liliana caiu no choro. – Minha filha vai definhar até morrer, Dulce... Minha pequenininha, tão inocente, não viveu nada...

- Calma, Liliana. Se acalma, precisamos passar confiança pra ela nesse momento. – Dul disse isso, mas também chorava. – Confia, Deus é justo.

- Se Deus é justo, então quem fez o julgamento da minha filha? – Liliana olhou nos olhos de Dul e a ruiva não pode responder.

   Não tinha resposta, não havia o que se dizer naquele momento. Dul imaginou a dor de uma mãe, a dor de uma filha, a dor que cada um sentia. Ela, que havia criado um vínculo tão forte com Miriam, agora só queria que um milagre acontecesse na vida da menina. Porque tantas coisas haviam sido arrancadas dela, tantas chances e sensações que ela deixaria de viver. Miriam nunca mais correrria como toda criança normal, ou aprenderia a andar de bicicleta e ralaria o joelho, não jogaria futebol com as meninas, não pularia num pula-pula, não faria nada do que Dul tinha feito. Naquele momento, Dulce descobriu que a vida era assim: arrancava as coisas de você, afastava as chances, te trazia decepções. Mas não tinha saída.

Comentem e obrigada pelos comentários? Eu, linda e fofa? kkk` Amo vocês ! <3