Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   Christian conseguiu convencer Ucker a ir pra casa, tomar um banho e descansar um pouco, antes de passar a noite no hospital, enquanto Dul estivesse sob observação. Ele não topou, prefiria ficar ali no corredor, com fome e frio, só de bermuda e camiseta, mas não a deixaria só. Ele só aceitou quando os argumentos de Chris foram parecidos com os do quartel, dizendo que eles estariam “revezando”. Juan chegou pra fazer companhia pra Chris e o resto do pessoal foi embora junto com Ucker.

   Quando a noite chegou, Ucker voltou para o hospital com uma cara um pouco melhor, mais vestido e descansado. Ele mandou Chris ir embora com Maite que veio somente buscá-lo e Juan foi pois tinha um plantão pra cumprir. Depois de assinar alguns papéis, Ucker foi para o quarto de Dulce e sem acender a luz, numa breve escuridão iluminada apenas por um abajur, o soldado sentou-se na poltrona perto da cama dela e respirou aliviado ao ver a namorada dormir tranquilamente, agora sem os tubos no nariz. Seu cabelo estava penteado e suas maçãs do rosto agora tinham uma leve cor saudável. Ele abaixou o rosto e passou a mão nos olhos, suspirando, quando a ouviu mexer-se na cama.

- Está de sentinela, soldado? – Disse a voz fraca de Dul.

   Ucker levantou o rosto, surpreso. Pensou que ela estivesse dopada, num sono profundo.

- Oi. – Murmurou Dul, inclinando muito de leve o canto da boca.

- Sente-se melhor?

- Tá tudo bem. Vou sobreviver.

- Isso é ótimo. – Ele assentiu, sem expressão.

- E você?

- Eu o quê?

- Sente-se melhor? – Dul perguntou.

- Vou sobreviver. – Respondeu Ucker. – Melhor você descansar um pouco, Dul. – Ele levantou-se e inclinou para ajeitar o cobertor envolta dela, depois abaixou e encostou os lábios na testa dela, depositando um beijo demorado e mantendo os olhos fechados.

- Precisamos conversar, você sabe disso. – Dul disse, quando ele sentou-se na poltrona novamente.

- Não é hora pra conversar.

- Ucker, por favor. – Ela tirou as costas do colchão, quase sentando-se na cama.

- Shii, deite-se e relaxe. – Ele se recostou na poltrona e fechou os olhos.

- Não me faça ir até aí. – Ameaçou Dulce.

- Não me faça chamar a enfermeira pra te dar um medicamento.

- Eu fui injusta. Papai me contou que você doou seu sangue pra me salvar.

   Ucker ficou calado, olhando pra Dulce.

- E eu não quero saber qual foi a armação da Angelina dessa vez, eu não vou deixar que isso estrague o que nós temos.

- Já falei, não é hora de conversar. – Ele suspirou logo depois.

- Pelo amor de Deus, fala alguma coisa. Não aja como se não tivesse escutando o que eu estou dizendo! Ucker, você salvou a minha vida. De várias maneiras possíveis, você me tirou daquela água e doou o seu sangue pra mim. Você fez muito mais que isso, você me amou. – As lágrimas começaram a cair pelo rosto dela, Dulce olhava pra ele, parecendo quase desesperada, as palavras saíam uma atrás da outra rapidamente. – Me desculpa, eu juro que...

- Calma, princesa. Não chora. – Ucker se aproximou, encostando a testa na dela e fechando os olhos, enquanto escutava os batimentos cardíacos de Dul acelerados, altos no quarto. – Shii, eu estou aqui. Tá tudo bem, eu te amo mais que tudo.

   Ele encostou de leve os lábios nos dela, enquanto seus dedos percorriam a face de Dul, secando as lágrimas. Aos poucos, a aceleração cardíaca dela foi se aquietando e eles ouviam os batimentos voltarem ao normal.

- Fica aqui comigo. – Pediu Dul.

- Vou ficar, amor.

- Não vá embora, por favor. Você não sabe o quanto dói quando você me deixa.

   Aquelas palavras, nossa, aquelas palavras foram como um punhal no peito de Ucker. Não havia nada no mundo que doesse mais do que ele ter consciência do quanto magoava Dulce.

- Eu não vou.

- Abandona tudo e fica só comigo. – Pediu ela, entorpecida em sua dor de cabeça que voltava.

- É o que eu mais quero nesse momento, meu amor. – Ele beijou a mão dela.

- Me desculpa. – Dul olhou pro lado e secou as lágrimas.

- Pelo que está se desculpando? Não há nada.

- Olha o que fiz com você. – Ela fungou o nariz. – Fiz um soldado querer largar tudo. Fiz um herói de guerra desistir da luta.

- Eu não quero desistir da luta. Só acho que está na hora de descansar. Chegou um momento da minha vida que só quero parar com essa guerra e respirar aliviado.

- Não se pode parar com a guerra. – Dul contrariou.

- A pior guerra é a que está acontecendo dentro de mim, Dul. – Ele disse, olhando nos olhos dela.

- Você dá conta? – A ruiva pousou a mão no peito dele.

- Não sozinho.

   Ela sorriu e acariciou o rosto de Ucker.

- Não vai estar. É só ficar comigo. Não dizer mais adeus. Não precisa dizer adeus.

- Nunca foi um adeus, Dulce. Sempre foi um até logo.

- Vai ser difícil aguentar mais dois anos. – Confessou ela, lágrimas enchendo seus olhos amendoados.

- Eu sei. – Ucker suspirou.

   Ele sabia. Então, olhando nos olhos dela, decidiu que não queria mais vê-la sofrer, nunca mais. Ele sabia o que tinha que fazer, sabia que tinha que deixá-la seguir o curso natural de sua vida sem nenhuma alteração dele. Tinha que deixar Dul ser feliz, sem parecer uma pessoa à deriva, aguardando por ele e vivendo com seus planos e objetivos voltados para ele. Ela tinha um destino, mas ele não queria que esse fosse alterado por sua causa. Dulce era como um anjo, sempre fora muito pra ele, Ucker não sabia porquê, mas tinha pego algo que sua mão não deveria alcançar.

   E agora, Ucker sabia exatamente o que tinha que fazer, exatamente qual procedimento deveria seguir. Como todo bom soldado, mesmo sofrendo, tinha que fazer. Era uma percepção que ele sempre tivera em sua vida, por mais que pareça difícil, quando uma coisa é a certa, você tem que enfrentar. Ele sabia o quanto iria doer, o quanto a magoaria e o quanto se magoaria, mas um dia ia passar. A dor sempre diminui, o tempo ensina isso. O que não podia era ser egoísta a ponto de pensar em prendê-la aquela história complicada e torturante. Ele tinha assinado o contrato, não ela. Então, estava na hora do soldado voltar pra guerra e destruir as ilusões sobre aquele amor de verão perfeito. Estava na hora de ir, e não voltar.

- Um doce pelos seus pensamentos. – Descontraiu Dulce, sorrindo.

- Não valem tanto assim.

- Quer conversar?

- Não.

- Quer me dizer alguma coisa?

   Depois de um longo momento em pensamentos, ele murmurou:

- Não.

- O que você tem? – Dul teve um pressentimento, algo ruim se instalou em seu peito.

- Tudo, menos você. – Ele fechou os olhos e respirou fundo.

- Do que você está falando?

- Amanhã conversamos. – Ucker apertou o botão perto da cama e Dul arregalou os olhos. – Precisamos de alguns analgésicos aqui, por favor. – Disse ele, para a voz do outro lado da linha.

- Mandarei a enfermeira. – A voz parecia muito entediada.

- Ucker? – Chamou Dulce, querendo atenção.

- Sim, querida?

- Lembre-se do que prometeu.

- Só estou cansado, amor. Não se preocupe com isso agora. – Ucker acariciava o rosto dela quando a enfermeira entrou, brandindo uma seringa.

- Com licença. – Disse ela bruscamente a Ucker.

   Ele saiu do caminho, indo se encostar na parede do quarto, cruzando os braços e observando. Dul ainda o encarava, apreensiva.

- Aqui está, querida. – A enfermeira sorriu enquanto injetava o remédio em um tubo ligado a Dulce. – Vai se sentir melhor agora.

- Obrigada. – Disse ela, sem nenhum entusiasmo. E não durou muito tempo para que ela pudesse sentir a sonolência escorrendo por sua corrente sanguínea quase imediatamente.

- Isso deve funcionar. – Murmurou a enfermeira enquanto as pálpebras de Dulce se fechavam. Ela saiu da sala logo depois.

   Dul lutou contra o estupor, mesmo não se sentindo mais ali. Só havia uma coisa que queria dizer a Ucker.

- Eu te amo, soldado. Sempre vou amar. – Os olhos estavam quase fechados, mas ela pode ver o rosto dele e lágrimas pareciam estar em suas bochechas.

- Eu sei. – Ele sussurrou. – Feche os olhos, querida.

   E assim, ela o fez e começou a ressonar tranquilamente, a noite caindo sobre si. Ucker sentou-se na poltrona, deixando as lágrimas caírem e levou as mãos até o rosto. Aí ele chorou querendo que a dor saísse junto com as lágrimas.

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