Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   Não havia nada nem ninguém que pudesse consolar Dulce naquele momento. Todos que vinham ali conversar com ela, diziam palavras repetidas, tentando passar o mínimo de confiança e auto-estima para ela. Mas no fundo, Dul sabia que não adiantava de nada ouvir aquilo e as pessoas também deviam ter consciência disso. Ela sorria amarelo, fraco, esboçava uma careta, uma imitação barata de sorriso que não convencia ninguém nem a si mesma. Annie e Mai foram embora depois de serem convencidas pelos argumentos de Juan. O médico prometera cuidar de Dulce e lembrou a loira que Anabella estava sozinha em casa com a avó. Elas foram com os outros, mas prometeram passar ali mais tarde. Não fazia muita diferença para Dul, pelo contrário, ia ficar lembrando-a sempre o que tinha perdido. Ia ouvir as palavras bondosas das amigas, mas sabia que a verdade era bem cruel: ela havia perdido o melhor homem do mundo. Como poderia ficar melhor depois de perder o melhor? A ruiva deitou-se encolhida no canto da cama e forçou um sono que não tinha a levá-la para um sonho onde Ucker ainda fizesse parte da sua vida.

   Na rodoviária da cidade, um soldado fardado atravessava o corredor com uma mochila nas costas e uma expressão deprimente no rosto. Dentro dele havia uma vontade enlouquecedora de voltar correndo como uma criancinha para os braços seguros de sua amada. Mas não podia voltar atrás. Não por falta de coragem, mas por ser corajoso o suficiente de tomar uma decisão como aquela. Não era qualquer um que abria mão da melhor coisa/pessoa da sua vida por saber que não faria bem ficar com ela. Aliás, onde estava com a cabeça quando pensou por um segundo sequer que daria certo namorar com toda aquela distância entre eles?

   Ucker ouviu alguém lhe chamar e paralisou. Virou-se, olhando pra trás, e Christian corria na direção dele, como quem estava prestes a começar uma briga.

- Quer me dizer porque fez isso? – Chris acusou.

- Chris, não. Por favor, eu não quero falar sobre isso.

- Você ia embora assim, sem dizer um tchau?

- Nos vemos no final da suas férias. – Ucker assentiu de leve com a cabeça.

- Olha, eu sei que você não perguntou, mas eu quero te dizer uma coisa: sabe por que eu lido numa boa com toda essa história de Legião na minha vida? – O loiro disse, bem alto. Ainda bem que a rodoviária estava vazia, aquela hora da noite não haviam muitas pessoas à espera de ônibus. – Resolvi aceitar algumas coisas da vida, sem dor. Ninguém vai ser como você sonha, não espere consideração, nem que os outros façam o que você faria. Não espere que valorizem seu esforço. Não espere que lhe ofereçam a mão. Apenas viva. Aceite que é preciso deixar o orgulho de lado e dizer preciso-de-você-agora. É preciso entender que o outro é diferente e de vez em quando ele vai lhe magoar, e você precisa lidar com isso, senão vive só. Não espere compreensão. Não espere que a vida seja fácil. Nem sempre ela é. Não espere para viver, tem coisa que não volta. – Chris batia com o indicador no peito do amigo, dizendo com convicção.

- Eu queria realmente ser como você. Não pensar a cada segundo dessa porcaria de vida que estou magoando uma pessoa, deixando-a sozinha. – Ucker estava com os olhos cheios de lágrimas.  – Eu me achava forte, mas eu sou fraco. Eu não aguento, cara. Não adianta, mesmo que pareça que eu lido bem com essas coisas, eu não quero obrigar ninguém a me perder.

- É isso mesmo que você quer? – Chris acalmou a voz e aquietou o coração. – Olha, se for isso mesmo, se você achar que deve fazer isso, eu espero que no mínimo esteja agindo da forma certa, escolhendo a opção certa. Eu não acho que vá adiantar você abrir mão dela, mas essa decisão só cabe a você. A Dul está péssima, cara, ela está completamente paralisada. Ela sumiu na floresta e só foram encontrar ela agora pouco.

   Ucker abaixou o olhar e passou a mão nos olhos, evitando as lágrimas que queriam cair.

- Ela vai ficar bem, eu sei que vai. Por incrível que pareça, a Dul é mais forte do que eu.

- Você se tornou a fortaleza dela. E depois partiu, deixando-a desprotegida. – Christian colocou a mão no ombro do amigo.

- Tudo nessa vida passa, cara.

- Passar, passam mesmo. – Disse ele. – O problema é que algumas passam e ficam pra sempre.

   Ucker abaixou o rosto e Chris o puxou pelos ombros.

- Vem cá, mano. Eu tô contigo e não abro, meu irmão. – Christian abraçou o amigo bem firme, deixando que seu irmão de alma sentisse que tinha com quem contar. Depois que se afastaram, ouviram o motorista chamarem todos, dizendo que oônibus já estava saindo. Depois de se despedirem, Ucker subiu no ônibus e seguiu seu caminho. De volta pra casa, de volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

   Quase uma hora depois, Ucker estava sentado na cantina do aeroporto, tentando colocar alguma proteína pra dentro, obrigando-se a tomar o suco de laranja e comer a cesta de pão de queijo. Mas aquilo parecia tão ruim diante de seus olhos, ele não conseguia sequer mastigar e era um sacrifício fazer a massa passar pela boca.

   Foi quando Ucker surpreendeu-se ao ver em sua visão periférica, uma mulher de cachos vermelhos vibrantes sentar no banco ao seu lado. Ela estava olhando diretamente para ele quando Ucker levantou o rosto. Sua expressão desmoronou na mesma hora, estava equivocado ao pensar que era Dulce, tinha se iludido completamente. Ele então, no mesmo instante, abaixou o rosto de volta para sua cestinha de pão de queijo e suspirou.

- Decepcionado? – Disse a mulher ruiva ao seu lado.

   Ucker demorou alguns segundos pra perceber que ela estava falando com ele.

- Ah, não. Não é isso, me desculpa. Eu só confundi você com uma pessoa. – E depois voltou a olhar pra baixo.

- Hum... – Disse ela. – E é essa pessoa que está fazendo você ficar com essa carinha aí?

- Que carinha? – Ucke perguntou, olhando pra ela. Só depois desse tempo conversando com aquela desconhecida é que ele tinha percebido o quanto era bonita a mulher ao seu lado. Ela tinha o rosto fino e delicado, leves sardas espalhadas pelas bochechas e os olhos verdes como orvalho.

- Cara de criança que perdeu a bicicleta. – Sussurrou ela.

- Quem me dera que eu tivesse perdido uma bicicleta só. – Ele ergueu as sobrancelhas.

- Pessoa especial?

- Fundamental.

- Adiantaria se eu dissesse que tudo vai ficar bem e blá, blá, blá?

- Eu já ouvi isso antes. – Murmurou ele.

- É um clichê muito usado. – A mulher sorriu. – Me responde, por que me confundiu com ela?

- Ela tem o cabelo parecido com o seu. – Ucker levantou-se, deixando quase todo o lanche na mesa.

- Não quer comer comigo? – Sugeriu ela.

- Não, obrigado. – Ele tentou ser o mais simpático possível. – Eu preciso pegar um avião.

- Pelo menos pode me dizer o seu nome?

- Christopher. – Ucker deu um leve sorriso de canto de boca.

- Eu sou a Laura. É um prazer conhecer você, Christopher. Quem sabe eu não dou a sorte de esbarrar com você outro dia?

   Ele riu e acenou, despedindo-se, enquanto ia caminhando para seu destino. A verdade era essa e era cruel: por mais que quisesse, tudo a sua volta lembraria Dulce. Cada passo que ele desse teria uma parte dela, um motivo. E esse motivo tinha o cabelo ruivo mais bonito do que qualquer um sobre a face da terra. Era esse motivo que fazia o coração de Ucker bater e acelerar.

Acrescentei a Laura nos personagens, vocês vão entender o porquê depois ...