Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   O avião de Ucker desceu em Charles de Gaulle quando o sol já se colocava forte no céu. Aquele fuso-horário o confundia, sempre que chegava de viagem tinha aquela sensação estranha de estar morrendo de cansaço, como se pudesse dormir por um dia inteiro sem intervalos. Foi pior ainda pra chegar na ilha de Calvi e quando ele entrou no regimento, não se sentiu aliviado. Nem um pouco. Ficaria preso ali, pelo resto das férias, como um soldado isolado sem família e sem amigos, sofrendo naquela solidão inevitável. Quando se identificou na entrada do quartel e adentrou em seu alojamento, Stovik e Johnny estavam sentados na beira das camas, jogando videogame. Stovik era o russo metido e Johnny era um canadense alto e tão maneiro que todos do Regimento o adoravam. Mas o cara tinha uma história triste, tinha perdido a namorada grávida num acidente de carro e desde então, não saía daquele alojamento pra quase nada.

- Ih, quê que aconteceu? – Johnny uniu os olhos verdes. – Isso tudo foi saudades do quartel?

- Já tinha passado da minha hora de voltar pra casa. – Ucker deu de ombros e se jogou sobre a cama estendida.

- E a rruivinha? – Stovik questionou.

- Eu não podia mais fazer isso.

- Fazer o que? – Johnny jogou o controle de lado e foi até a cama de Ucker, sentando-se ao lado dele.

- Namorar com a Dul. Fazê-la sofrer com essa distância que existe entre nós, com essa guerra que separa a gente...

- Então decidiu fazê-la sofrer terminando com ela? – O canadense reprovou. – Não foi uma atitude muito inteligente da sua parte.

- E qual era minha outra opção?

- Tava dando certo até agora. E só faltam dois anos pra você, cara. Passam assim ó. – Jonathan estalou o dedo.

- Ela tem que viver. Tem que ser livre, tranquila, ter noites de sono decentes, se concentrar na faculdade. Não precisar dormir e acordar todos os dias pensando aonde estou e se estou ferido ou morto. – O soldado Uckermann abaixou os olhos. – Se aparecer alguém que possa estar com ela em todos os momentos, que ela esteja livre pra fazer suas próprias escolhas, sem ter compromisso com alguém que não tem compromisso de voltar.

- Isso não farrá a mínima diferrença na vida dela, se ela ainda amarr você. Essas coisas são detalhes. – Stovik pareceu simpático naquele dia. – Pequenos detalhes.

   Ucker pensou por alguns segundos. Por que todos falavam isso, diziam a mesma coisa para ele? Será que só ele via esse lado? Via na distância um obstáculo, um grande problema?

- Mas o que você ainda está fazendo aqui, Stovik? – Ucker mudou de assunto. – Não era seu último ano?

- Erra, mas eu estendi meu contrato. – O russo fez uma cara estranha. – Nem todo mundo tem pra quem voltarr, nem todo mundo tem sorrte nessa vida.

- O que você pretende fazer da vida agora? – Johnny sempre sincero, olhando para Ucker. – Ficar nesse regimento, estender seu contrato, solidão?

- Eu não sei. – Ele levou a mão até o rosto. – Não consigo raciocinar direito, estou preocupado, preciso saber como ela está.

- Ué, liga pra ela então.

- E dizer o quê?

- Que precisava saber como ela estava. – Disse o soldado canadense.

- Ela vai me xingar e achar que eu estou de ironia com a cara dela. Eu termino tudo e depois ligo pra saber se está tudo bem? Eu vou parecer mais idiota ainda.

- Liga pra casa dela, com sorte o pai dela atende. – Sugeriram.

   Ucker aceitou. Pegou o celular na mochila, ainda sem muita coragem de discar o número, mas assim o fez. Depois de quatro toques, segundos antes da mulher com a voz eletrônica dizer para deixar um recado, Juan atendeu. A voz do médico estava cansada e Ucker olhou para o relógio, calculando que ainda era muito cedo na casa dela. Mas agora não tinha mais opção.

- Fale ou desligo. – Ameaçou Juan, depois de dizer alô três vezes.

- Oi, senhor...

- Christopher? – Juan o cortou.

- Sim, senhor.

- O que você quer ligando para minha casa essa hora da manhã? – O médico foi bem rude.

- Me desculpe, é que aqui já é de tarde então...

- Olha, eu tenho que cuidar da minha filha. Não posso conversar com você agora. – Juan foi grosso e estava pronto pra desligar.

- Espere, espere! Eu preciso saber: como ela está?

   O silêncio do outro lado da linha quase fez Ucker acreditar que Juan tinha desligado. Antes que o pai fosse mais grosso ainda com o ex-genro, Ucker pode ouvir um grito ao longe, parecia vindo de um lugar fechado. Ele reconheceu de cara que era Dulce e em seguida, o choro tomou conta dela. Os soluços eram altos e causavam pena em que escutasse e ela parecia desesperada, como se a tivessem torturando. Devia ser um pesadelo, ou talvez, ela estivesse acordada.

- Isso responde sua pergunta? – Juan disse rispidamente e logo depois o som do final da chamada soou em seu ouvido.

   Ucker fechou os olhos e deixou o celular cair sobre a cama. Sentiu uma dor, um aperto forte no peito só de pensar como ela deveria estar. Imediatamente, sentiu-se mal, sufocado, culpado. Apertou os olhos para não deixar as lágrimas caírem e sussurrou:

- Vai passar, meu amor. Vai passar. Fica calma que tudo vai melhorar.

   E ele queria tanto que ela fosse capaz de escutar suas palavras.

Não sintam tanta raiva do Ucker, gente ! Tentem entender o lado dele, ele tá querendo somente o bem dela...

Comentem meus amores <33333