Fanfic: Tarde Demais | Tema: Laliter; Quase Anjos

Capitulo 20

Peter estava deitado na cama de casal dos pais, assistindo um jogo de vôlei masculino que passava em um desses canais de esporte. Olhava para televisão com um olhar pouco expressivo e desanimado, e na verdade nem se quer prestava atenção no jogo, a única coisa que conseguia passar pela sua cabeça agora era de sua vida, ou melhor, de sua doença. Agora como ia viver sua vida sabendo que qualquer um em sua volta podia ser sua vítima? Como ia poder se relacionar com outras mulheres? Conversar com seus amigos?

Peter: E agora?

Sussurrou quase inaudível para si mesmo. Passou a mão pelos cabelos, e depois soltou o ar com força. Tudo bem que para ele se relacionar com mulheres no plural não era o que lhe interessava, ele só queria saber no singular, a mulher, e agora .. como seria ele e Mariana? Estava torcendo por dentro para que Emília fosse mais responsável que sua mãe fora e tivesse vacinado Mariana, e que a mesma pudesse ficar com ele. Sabia que sua doença estava no inicio, então não era tão contagiosa e se Mariana tivesse um sistema imunológico forte e fosse vacinada, ela seria imune a ele. Olhou para cima, pedindo em orações para que isso acontecesse. Sentia dentro de si que Mariana um dia voltaria, e se um dia ela voltasse mesmo ia querer poder toca-la, abraça-la, beija-la e ama-la como já tinha feito. Tinha esperanças, a vida não podia ser tão injusta ao ponto de fazer isso com ele, já não bastava ter tirado sua saúde , não poderiam tirar o amor de sua vida de vez também. Seus pensamentos foram interrompidos ao escutar uma voz soar em seu ouvido.

Nicolas: Meu pupilo -sorriu, entrando no quarto e em seguida fechando a porta- Vim lhe fazer uma visita.

Peter: Tio? -virou o rosto um pouco de lado e disse não encarando Nicolas- O que veio fazer aqui ?
Nicolas: Almoçar contigo, ou você acha mesmo que eu ia almoçar sozinho na empresa ? Nem sonhando -sorriu, sentando na beira da cama- Sem contar que a comida de dona Gimena é irrecusável.
Peter: É, tem razão -soltou um sorrisinho frouxo- Mas queria falar com senhor mesmo, desculpe não avisar que não ia hoje é que ..
Nicolas: Eu já sei de tudo -falou, interrompendo Peter - Não se preocupe com o trabalho agora.
Peter: Meu pai já te contou?
Nicolas: Sim, contou! Eu liguei para você hoje cedo e o Mariano atendeu . -suspirou , passando a mão no cabelo- Olha Peter , eu sei que é difícil lidar com uma doenças dessas, mas você tem que ser forte, menino.
Peter: É complicado, tio . -suspirou, se acomodando na cama- É muito esquisito saber que você vai ter que mudar sua vida toda sem escolhas .
Nicolas: Você tem uma escolha sim, a escolha de viver -concertou , se ajeitando na cama , para olhar para Peter- E eu quero que você saiba que para qualquer coisa você pode contar comigo .
Peter: Obrigado! - respondeu , sincero- De coração.

Nicolas sorriu e se aproximou de Peter, lhe envolvendo em um abraço. Peter abriu um sorriso de felicidade involuntário. Era bom saber que tinha pessoas do seu lado, era sempre bom. Nicolas separou e se acomodou de novo na cama.

Nicolas: Antes de entrar aqui no quarto, estava conversando com seus pais na sala -comentou, fazendo Peter o olhar- E acho que tenho uma notícia que você pode gostar de saber, gostar não, pelo que te conheço você vai é amar mesmo.

Peter: Qual? -franziu o cenho-
Nicolas: A Lali, minha filha, tomou a BCG quando pequena -Peter abriu um sorriso involuntário e Nicolas continuou- E ela nunca pegou nenhum tipo de doença, grave assim. Minha filha é forte, como o pai! -sorriu ao ver os olhos de Peter ascenderem de novo- E é com dor no peito e na mente, que eu dou passe livre para você usufruir dessa qualidade dela .
Peter: Você esta falando sério, tio?
Nicolas: Estou -sorriu, e disse passando a mão pelo joelho- Emília sempre foi neurótica com essa coisa de saúde, porque quando nova ela teve todas essas doencinhas, catapora, sarampo, caxumba e etc. Ai vacinou Mariana até com vacinas inexistentes. -Peter sorriu e Nicolas continuou- Mas bom, eu não sou médico, mas acho que pelo menos com Mariana você vai poder ter contato sem nenhum problema.
Peter: Nossa, tio, pelo menos uma notícia boa! -sorriu, se acomodando entre os travesseiros- Mas também tô sorrindo à toa, sua filha não está aqui mesmo, então é quase .. Hn .. Indiferente isso!
Nicolas: Minha filha não vai ficar muito tempo por lá não, eu sinto isso!

Nicolas percebeu que Peter entristecia ao tocar no assunto. Negou com a cabeça, estava ali para anima-lo, então logo puxou outro assunto, o distraindo. Ficou até seu horário de almoço acabar com Peter e por incrível que pareça conseguiu que o moreno desviasse seus pensamentos da tuberculose. Peter, por sua vez , estava começando a se conformar sobre o que tinha e já estava ficando preparado para começar todo tratamento.

Emília: O QUE? -arregalou os olhos supressa, no outro lado da linha- Você está falando sério, Nicolas?
Nicolas: Por Deus , Emília! Acha mesmo que brincaria com um assunto desses.
Emília: Não, eu sei que não! Mas virgem Maria, é difícil de acreditar .. O Peter é tão novinho, era tão cheio de saúde.
Nicolas: Sim, mas a vida é assim mesmo -suspirou tristemente- Tô te ligando aqui do trabalho, sei que Mariana daqui a pouco está voltando para casa e quero que conte a ela sobre isso.
Emília: Nossa Mariana vai ficar arrasada! -lamentou- Mas ela tem que saber mesmo .. Nossa, tô sem palavras, Nicolas.
Nicolas: Eu também fiquei assim .. Fui visita-lo hoje, tadinho, está bem mais magro, caidinha, uma lastima.
Emília: Mas o Peter é forte e vai sair dessa .. Tenho fé em Deus que vai!
Nicolas: Deus te ouça. Mas enfim, tenho que desligar Emília, o ..
Emília: O trabalho me chama -completou , antes mesmo que ele-
Nicolas: Isso mesmo! -sorriu sarcástico e continuou- Beijos e boa sorte aí com a Mariana.
Emília: Obrigada , outro , tchau.

Mariana chegou em casa, como todos os dias, cansada e exausta. Se tacou no sofá, deixando a bolsa no chão mesmo e ficou descansando enquanto tomava coragem de ir até seu quarto. Depois de alguns segundos, apoiou a mão nos joelhos para dar impulso para se levantar, mas voltou a se sentar ao ver Emília com uma expressão entristecida, sentando no sofá, ao seu lado. Mariana observou sua mãe e estranhou, perguntando.

Mariana: Viu fantasma, dona Emília?
Emília: Muito pior, filha, muito pior.
Mariana: O que houve? -se inclinando em frente a Emília, com o cenho franzido- Aconteceu alguma coisa, mãe?
Emília: As notícia não são muito boas não, filha.
Mariana: Ih mãe, sem enrolar! -falou, ficando preocupada- Odeio essas entradinhas chatas de ` fica calma` e blá blá blá .. Seja direta, por favor.
Emília: Como quiser -assentiu com a cabeça- Mariana, seu pai me ligou .. Vai fazer o que? Hn .. Umas meia hora! E me deu uma notícia péssima -suspirou, encarando a filha- O Peter está doente, filha .
Mariana: Como? -alterou um pouco a voz, ainda raciocinando as palavras de Emília- Não me diga que ele ficou doente? -sussurrou para si, mais do que para Emília- Ele me disse que ia fazer uns exames aí, mas nada sério assim. -suspirou, colocando o cabelo para trás da orelha- Mas o que ele tem? É sério?
Emília: Infelizmente .. Ele está com tuberculose, Lali.
Mariana: OQUE? -tragou a saliva, ainda descrente- O Peter? Tuberculose? Não, mãe .. não pode!

Emília: Filha, se acalma! -pediu, colocando a mão no ombro de Mariana- Tuberculose tem cura e o Peter é um menino forte, ele vai se curar.
Mariana: Eu não posso deixar ele sozinho nessa.

Sussurrou mais para si do que para Emília, com um olhar perdido. Não podia acreditar no que estava acontecendo, Peter não podia estar doente, não o seu Peter.

Emília: O que pensa em fazer?

Mariana levantou a cabeça e mirou, finalmente, sua mãe. Engoliu seco, sentindo um nó se formar em sua garganta, não pensou mais e tomou, por fim, a decisão que por algum tempo rondava em sua cabeça... Voltar para Buenos Aires.

Mariana: Eu vou voltar, mamãe.
Emília: Voltar? Para Buenos Aires? -alterou um pouco a voz, negando com a cabeça- Mas Lali..
Mariana: Não posso deixa-lo sozinho nessa, eu vou ficar com ele.
Emília: Você tem uma vida aqui, filha .. e ele não está sozinho, ele tem os pais, os amigos .-suspirou, ajeitando o cabelo- Liga para ele, mas filha... Não há necessidade para voltar!
Mariana: Não tem mais o que falar mamãe! Amanhã mesmo já vou comprar minha passagem para daqui uma semana .. Que será o tempo suficiente para ajeitar tudo aqui.
Emília: E eu?
Mariana: Venha comigo também.
Emília: Filha, pensa direito .. Não tome decisões precipitadas!
Mariana: Eu já to decidida, mãe! E espero que a senhora entenda e venha junto comigo.

Emília não disse mais nada, apenas balançou a cabeça, levantou do sofá e saiu da sala. Mariana revirou os olhos e deixou sua cabeça repousar no encosto do sofá. Estava sentindo um vazio em seu coração, não conseguia imaginar um homem como Peter com uma enfermidade dessas, mas agora, faria o que era certo .. Voltaria para Buenos Aires, voltaria para ele.