Fanfics Brasil - 1 A Bastarda (Série Broken Lifes)

Fanfic: A Bastarda (Série Broken Lifes)


Capítulo: 1

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Ela não era tão feia.
Os cabelos loiros eram extremamente ressecados, mas Elizabeth já tinha dito que aquilo
era uma conseqüência do calor de Phoenix. Nada que uma hidratação por semana não
melhorasse, é claro. Mas, para uma menina como ela, ir ao salão de beleza não era uma
das suas atividades favoritas. Era só analisar suas roupas — usava um short jeans
surrado e rasgado, uma camiseta branca de algodão e um par de All Stars vermelhos nos
pés. Nas costas, uma Jansport preta cheia de broches. Nos ouvidos, um headfone branco
de última geração.
Presente do papai — Erin pensou, destilando todo o veneno composto da raiva acumulada
em todo o inverno.
— Lembre-se... — Elizabeth parou atrás dela. Estava encostada na janela do hall de
entrada, assistindo a menina chegar a uma belíssima carruagem ao seu mais novo
palácio. Para uma garota como Erin, aquele carro não era uma carruagem e sua casa,
muito menos um palácio. Porém, se a menina era da forma que imaginava, jamais tinha
visto uma mansão daquele tamanho. — Trate-a como um membro da família.
— Ela não é um membro da família. — Retrucou. Odiava lidar com aquela verdade.
Querendo ou não, seria obrigada a viver debaixo do mesmo teto com aquela garota
esquisita até ingressar em alguma faculdade... Isso se ela não a seguisse. — Ela não vai
ser tratada como um.
— Erin, você vai tratá-la com a educação que eu te dei. — Elizabeth arqueou as
sobrancelhas. Conhecia sua filha o suficiente para saber a quão mimada era, mas também
a quão educada foi.
— Como você pode permitir uma coisa dessas? — Virou-se para a mãe. Tentava segurar
um choro de desespero, preso em sua garganta há semanas. As férias em Nova York, que
deveriam ter respondido todas as perguntas, apenas aumentaram os questionamentos
quase retóricos. Enquanto isso, o grande empresário Robert Montgomery estava com sua
mais nova filha... Ou não tão nova assim.
A descoberta da bastarda foi um choque para a família. Jamais se soube de sua
existência, quem dirá de seu paradeiro. Porém, após a trágica morte de sua mãe, Wendy
Allen estava de mudança para Broken Arrow. Mudança no sentido literal — a partir de
agora, a família Montgomery seria obrigada a lidar com transformações que acarretariam,
principalmente, sua impecável reputação.
— Você podia ter recusado. — Erin murmurou. Voltou a olhar a menina, que tirava duas
malas de couro do carro. Tinha certeza que seu pai tinha financiado tudo aquilo. Até
mesmo a lata de Coca-cola que bebia. — Aliás, deveria. Ela é filha de uma outra mulher!
— Erin! — Elizabeth podia ter berrado, mas apenas murmurou. Estreitou os olhos sobre
sua única filha antes de prosseguir: — Isso é entre eu e seu pai.
— E será que ele é mesmo meu pai?
Elizabeth não teve tempo de responder. A enorme porta de mogno do hall de entrada
abriu-se logo depois. Robert entrou primeiro, trazendo uma das malas da filha em uma
mão e a sua em outra. Wendy veio logo atrás, com a cabeça abaixada. Sua timidez podia
ser sentida a quilômetros de distância. Claramente ela não se sentia bem ali, mesmo que
ainda não conhecesse sua nova família.
— Wendy! — Elizabeth tentou usar seu tom mais natural. Porém, qualquer um que a
conhecesse minimamente bem podia perceber que nunca soara tão falsa na vida. Era
evidente que não gostava da presença de sua enteada... Mas, diferente de sua filha, tinha
plena e total certeza que teria que lidar com a menina. — Seja bem vinda!
A menina sorriu. Tentou dizer um “obrigada”, mas ficou preso entre seus lábios finos. Erin
a observou da cabeça aos pés — era fina por completo. Sua magreza chegava a
incomodá-la, junto dos seios pequenos e as pernas pouco musculosas. Era pálida, embora
morasse em uma das cidades mais quentes dos Estados Unidos. Os olhos, castanhos,
chamavam a atenção em um rosto tão branco.
— Dê boas vindas à sua irmã, Erin. — Robert disse após fechar a porta. Percebeu que a
filha a encarava há alguns minutos sem expressão alguma.
Erin revirou os olhos e deu alguns passos para trás.
— Nunca. — Virou-se de costas e correu para seu quarto, no segundo andar. Ela tinha
certeza que não seria capaz de lidar com aquilo. Jamais. Sua reputação estava manchada
para sempre, por culpa de seu pai. Ele mesmo sempre glorificou a imagem da família
Montgomery, afirmando que era sangue puro.
Puríssimo sangue. Desde aquele inverno, o sangue vermelho estava manchado com um
tom homogêneo... Para sempre.
— Você não tem noção, Connie. — Erin chorava no telefone. Imaginava que a amiga
estivesse lixando as unhas enquanto assistia a entrevista da Ellen com Taylor Lautner,
mas continuava a falar mesmo assim. Falar com Connie era muito melhor do que falar
sozinha. — Ela é... Repugnante!
— Defina repugnante, querida. — A voz de Connie soava natural. Era claro que não
estava nem um pouco preocupada.
— Você tem noção que ela não sabe o que é a Barney’s?
Connie desligou a televisão em seguida. Erin imaginou a expressão da amiga de espanto,
como fazia sempre que via uma cena ou ouvia algo inacreditável.
— O que? — Connie indagou, soltando uma gargalhada em seguida. Como uma
adolescente residente dos Estados Unidos não podia conhecer uma das maiores lojas de
roupa do país?
— Ela não deve cortar o cabelo há anos! — Erin voltou a berrar. De uma forma ou de
outra, falar mal de sua irmã bastarda era como uma teoria. Contar os problemas é sempre
mais fácil do que enfrentá-los. — E muito menos ir a uma liquidação de final de estação.
Você acredita que ela, de mudança, trouxe menos roupas do que eu levei para a Europa
quando passei três dias?
— Ela morava onde, Erin?
— Em Phoenix. Isso explica seu cabelo...
Alguém bateu na porta do quarto, que estava trancada há horas. Erin suspirou. Imaginou
perfeitamente a loira estacionada no fim do corredor, esperando-a deixar entrar. Por uma
fração de segundo achou que deveria deixá-la do lado de fora... Mas isso só aumentaria
um problema. Era melhor encará-lo de uma vez.
— Eu preciso desligar, Connie. Ligo mais tarde.
— Boa sorte, amiga. Você vai precisar.
Erin levantou-se da sua enorme cama de casal. Com calma, limpou o rosto com as
próprias mãos enquanto se via no reflexo da penteadeira, na parede oposta. Mexeu nos
cabelos ruivos lentamente, prendendo-os no final. Talvez ela merecesse um novo corte,
para apaziguar os sentimentos dentro de si. Talvez ela merecesse um dia de compras.
Talvez ela merecesse uma semana em um spa, financiado pelo seu pai... Estresse seria
uma desculpa perfeita para faltar aula e, principalmente, se ver longe daquela loirinha
esquisita.
Alguém bateu de novo.
Andou até a porta e, sem pressa, a abriu.
Era a loira, com sua expressão mais morta possível.
— O que você quer? — Erin disse, revirando os olhos. Apoiou-se na entrada, ficando
parada e impedindo-a de entrar no seu quarto.
— Meu pai disse para eu...
— Em primeiro lugar, ele não é seu pai. Ele é meu pai. — Revirou os olhos outra vez e
respirou fundo. Será que ela seria como um cachorro, o qual Erin teria de educar? — Mas
já que os testes de DNA não mentem, você pode chamá-lo de nosso pai. Mas não na
minha frente, por favor.
— Enfim... Robert — Wendy tentou enfatizar o nome, mas sua voz era fraca demais para
dar alguma ênfase — disse para eu vir aqui.
— Com qual objetivo?
— Enquanto o quarto de hóspedes não fica pronto, iremos dividir o seu quarto.
Erin chegou a soltar uma gargalhada.
— Você só pode estar brincando.
— Vá perguntar a ele.
Erin seguiu em disparada para o fundo do corredor. Era razoavelmente grande, com
quatro quartos, dois banheiros e três varandas distribuídos ao seu longo. No chão um
enorme tapete árabe, trazido da última viagem de Robert Montgomery a Dubai com fins
empresariais. Quando estava na metade do caminho, virou-se para a irmã.
— E nem pense em entrar no meu quarto.
O último quarto do corredor era o escritório particular de Robert. Desde criança, Erin
tentava adentrar o local. Contudo, seu pai tornou o lugar restrito, castigando a filha com
semanas sem ir ao shopping caso passasse por ali. Porém, aquela era uma situação de
emergência, na qual a ruiva nem bateu na porta. Entrou berrando e reclamando sobre a
irmã e o fato de que dividiram o mesmo quarto por semanas.
— Você faz o que eu mando, e acabou. — Seu pai disse num tom extremamente seco. Os
olhos passavam do monitor do computador a um caderno de contabilidade, e do caderno a
um iPad. Erin chegou a se perguntar se ele realmente estava ciente do erro que estava
cometendo.
Ela se largou sobre o sofá de couro. Robert mal a ouvia. Digitava apressado com uma das
mãos, enquanto que, com a outra, marcava páginas de um livro sobre o sistema
financeiro. Ao mesmo tempo, assistia ao noticiário na televisão Led de quarenta e cinco
polegadas.
— Você não pode exigir que eu viva com essa menina... Quem dirá dividir o meu quarto
com ela! — Erin berrava, embora soubesse que era impossível discutir com seu pai.
Quando ele colocava alguma idéia na cabeça, independente de quão absurda fosse, era
permanente.
— Já falei que é provisório, Erin. — Robert parou de fazer tudo e virou-se diretamente para
a filha. Estreitou seus olhos sobre ela, fazendo-a estremecer. Por mais que conhecesse
seu pai, continuava sendo intimidada com seu tom arrogante e grosseiro. — Mas se
continuar a insistir, será definitivo.
— Isso não vai ficar assim!
Erin levantou e correu para o seu quarto. Não teve muita noção de quanto tempo a
discussão com seu pai tinha durado, mas Wendy continuava na porta. Fitava o chão,
entristecida. Dava para perceber, sem dificuldade, que ela não se sentia a vontade
naquele lugar.
— O que ele disse? — A bastarda flou. Sua voz era tão fraca ao ponto de irritar Erin.
Sentia-se obrigada a forçar a audição para escutar a menina. Ela não sabia se esse era o
seu tom natural ou estava dominada pela timidez.
— A cama é minha. — Disse em seu tom mais seco. Andou com velocidade até a mesma
e jogou-se pesadamente. Fitou o teto e não assistiu a irmã adentrar o recinto. Pode ouvir,
sem muita dificuldade, as malas sendo despejadas no canto do quarto.
Só não demore a sair daqui — pensou, antes de fechar os olhos e mergulhar em um dos
seus mais profundos sonos.
A manhã seguinte amanheceu chuvosa.
Elizabeth e Robert conversavam silenciosamente na cozinha. Nas paredes ficavam
grandiosos armários de mogno, cujas portas eram de vidro fosco. No centro ficava uma
enorme bancada, onde o café da manhã estava meio servido. A belíssima mulher estava
sentada sobre uma das cadeiras do balcão, enquanto beliscava pedaços de um waffle e
mexia em seu notebook. Na tela, analisava com calma algo que foi fechado no exato
instante em que Erin adentrou o local.
— Bom dia. — Disse em seu tom mais natural. Elizabeth abriu um doce sorriso, mas
Robert manteve sua expressão séria. Diferente do marido, ela tentava amenizar o clima
estranho que dominava aquela casa.
— Onde está sua irmã? — Ele disse entre uma mastigada e outra. Lia o jornal matinal, e
às vezes, negava com a cabeça. Erin achou melhor não se preocupar sobre o que falava a
tal matéria.
— Dormindo, eu acho. — Andou até a geladeira de última geração e pegou a jarra de leite.
Despejou uma quantidade pequena dentro de um copo de vidro, enquanto que, com a
outra mão, digitava freneticamente em seu iPhone.
— E você não a acordou?
Erin virou-se para o pai enquanto dava um longo gole. Arqueou as sobrancelhas, na
intenção de dizer “não”.
— Vá acordá-la!
Erin revirou os olhos como sempre fazia e, após hesitar, foi. Subiu as escadas com calma,
tomando cuidado para não tropeçar nos próprios salto altos. Seu quarto ficava do lado
oposto no corredor do segundo andar, com uma belíssima vista para toda East Union.
Bateu na porta, evitando fazer barulho. Entretanto, estava encostada, e abriu logo depois
da segunda batida. Erin deu dois passos a frente, contendo a respiração. Não pretendia
fazer qualquer som.
— Wendy... — Murmurou, acreditando que a irmã não fosse escutar. — Está na hora da
escola.
A menina não se mexeu.
— Tudo bem, pode ficar aí dor...
— Estou acordada. — Ela a interrompeu. Erin arregalou os olhos, chegando a tomar um
susto. Esperava que Wendy estivesse completamente apagada após horas de viagem, ao
ponto de não acordar com berros... Quem dirá sussurros.
— Excelente. — Erin ligou a luz instantaneamente e desfilou até a penteadeira. Sentou-se
sobre o banco e mexeu nos cabelos com as duas mãos, manipulando vários penteados.
Por fim, pegou uma tiara vermelha com um laço e colocou entre suas madeixas ruivas. —
Estou saindo em cinco minutos.
Wendy levantou com calma. Enquanto passava pó compacto e delineador nas pálpebras,
Wendy colocava uma calça jeans e uma camiseta quadriculada. Do interior — Erin
pensou. Antes mesmo que terminasse de escovar os cabelos, a bastarda já estava pronta.
— Você pretende ir assim?
Wendy se olhou da cabeça aos pés.
— Algum problema?
— Wendy, querida... Você está em Oklahoma, não mais no Arizona. Aqui os hábitos são
outros. — Erin voltou-se para o espelho. Passou um brilho sobre os lábios e sorriu
forçadamente. Diferente de Wendy, ela sabia como se arrumar.
— Não vou mudar meus hábitos por causa de uma cidade. — Disse automaticamente. Seu
sotaque carregado irritava mais Erin do que sua voz.
A loira deixou o quarto em seguida. Erin revirou os olhos da sua forma mais particular e a
seguiu. Desceu as escadas com calma, enquanto digitava freneticamente em seu aparelho
celular. Deveria encontrar Bryan no muro leste do pátio antes do primeiro tempo começar,
para matar as saudades que as férias deixaram. Por mais que tenham sido apenas duas
semanas... Foram intensas duas semanas.
Robert e Elizabeth conversavam normalmente com Wendy. A menina sentia dificuldade
em falar, mas parecia estar se soltando. Enquanto esteve com o pai na sua antiga casa,
muito ouviu sobre a importância da comunicação. Ao chegar a Broken Arrow seria tratada
como uma novidade, e ela deveria aproveitar a oportunidade. Afinal, em uma cidade
pequena como aquela, tudo que acontecia era sinônimo de notícia.
— Estou indo, família. — Erin passou pela cozinha americana sem tirar os olhos da tela.
Percebeu que os pais trocaram um olhar sério, mas não se preocupou em perguntar o
motivo.
— Leve a sua irmã, Erin. — Elizabeth disse, quase pasma. Tinha dado o carro a filha como
presente de dezesseis anos. Desde então, fez com que ela desse carona a todos que
precisassem, independente do motivo. Ser gentil estava dentre as qualidades de sua
filha... E não ter se oferecido para levar Wendy fora algo proposital.
Erin encarou Wendy por um segundo. A menina abaixou o rosto.
— Estou saindo nesse instante.
Continuou andando em direção a garagem da casa. Wendy continuou onde estava, sem
ter total certeza do que deveria fazer. Sabia que era um incômodo para Erin levá-la, mas
também não faria diferença alguma. Caso ela não fosse com a irmã, poderia ir a pé.
Robert lhe dissera que a escola era apenas três quadras dali.
— Você não vem? — Erin arqueou as sobrancelhas. Já era difícil ser gentil com a novata,
e pior ainda era levar um “não” como resposta.
Wendy voltou a fitá-la. Erin estava na porta da garagem, encarando-a com uma expressão
duvidosa.
— Não. — Levantou-se e seguiu em direção a porta de entrada. — Eu prefiro ir a pé.



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Autor(a): luisanewlands

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