Fanfic: Inalcanzable *Portiñon*-Finalizada | Tema: Rebelde, Portiñon

A quimioterapia não fez seu cabelo cair, mas a deixou tonta, enjoada e sonolenta. Ela não conseguia mais ir para a minha casa, pois quando tomava o remédio ela não conseguia se mexer sem vomitar ou cair, então se jogava no sofá ao na cama e ficava lá por algumas horas, esperando seu mal estar desaparecer. Então eu ia para a casa dela todos os dias e, dessa vez, meus pais não reclamaram nem pediram um dia para “reunião familiar”. Eu ficava ao lado dela, lendo algum livro em voz alta para ela ou lendo alguma poesia, uma vez eu cheguei até a ler o jornal para ela.

Quando ela se sentia um pouco melhor, nós íamos para o jardim de sua casa e sentávamos na grama. Ela não tinha mais força para levar meu carrinho até onde íamos sentar...

Alguns dias eram melhores que outros, então às vezes íamos um pouco ao shopping ou dar uma volta em algum parque ali perto, mas esses dias estavam ficando mais raros a cada dia que seu tratamento avançava.

Eu vi seu corpo definhando diante dos meus olhos, dia após dia, mês após mês (não existiu um “ano após ano”, ela não durou nem um ano após seu câncer tomar conta de seu corpo). A cada dia ela ficava mais fraca, com menos apetite, comia menos, vomitava mais, se cansava mais, ficava deitada mais. Ela começou a perder seus belos músculos fortes que antes me abraçavam com tanta força e me protegiam de tudo, eles começaram a enfraquecer e a se deteriorar. Ela começou a perder peso também, sua barriga, outrora tanquinho, estava começando a ficar lisa e pálida. Seu rosto já não tinha aquela cor tão viva e as pintinhas por seu corpo eram bem mais aparentes sobre a pele branca e enfraquecida.

Eu sabia que aquilo não era por causa da quimioterapia, até porque eu mesma fazia um tratamento e, apesar de não me fazer curar, fazia minha vida se prolongar mais um pouco. Eu sabia que aquilo era seu câncer sobrevivendo e ficando mais forte a cada dia enquanto ela ficava mais fraca.

Mas ela não desistia. Ainda tinha seu mesmo humor inteligente, sua mesma vontade por futebol e jogos de vídeo game, sua mesma paixão para discutir livros comigo, sua mesma paixão por Harry Potter, sua mesma paixão em provocar seu irmão sobre a ironia que era ele fazer faculdade de educação física quando ela não tinha uma perna e não podia correr, sua mesma paixão em tentar fazer seu pai não ficar tão para baixo, em fazê-lo acreditar que ela não morreria, que continuaria ali por um bom tempo, sua mesma paixão em me mostrar sua paixão.

Seu irmão havia trancado sua matricula na faculdade e se dedicava totalmente à sua irmã, ficava em casa o dia inteiro com ela, dava seus remédios na hora exata, a ajudava com algumas coisas que ela precisava e ficava jogando vídeo game com ela. Seu pai, infelizmente, não tinha como largar o trabalho, pois precisava do dinheiro para pagar o tratamento que tentava fazer sua filha viver. Minha mãe também aparecia na casa de Dulce às vezes, para fazer almoço ou só para ver como ela estava. Meu pai raramente aparecia, sei que ele não queria vivenciar agora o destino que eu teria dali algum tempo.

Eu mesma percebia algumas mudanças em mim. Havia emagrecido um pouco, estava mais desleixada com minha aparência, usava o mesmo vestido por dias sem nem ao menos perceber e meu cilindro de oxigênio precisava me auxiliar mais do que antes.

Eu sabia que perder Dulce iria me levar à morte. Pois eu estava ali, ao seu lado, enquanto a via definhar. Enquanto via o amor da minha vida piorar a cada dia, sem poder fazer nada, e, por fim, vê-la morrer. Sabia que ela não tinha desistido de lutar, que ainda lutava bravamente para vencer, ela não queria ir embora e deixar todos chorando para trás, ela não queria ir embora e me deixar sofrendo. Ela lutava, bravamente, fortemente, incansavelmente, todos os dias, contra algo que eu vi, mais tarde, que não podia ser derrotado.

Para o tipo de câncer que Dulce teve primeiramente, cerca de 80% dos casos poderiam ser curados, e ela fez parte dos outros 20%...