Fanfic: Inalcanzable *Portiñon*-Finalizada | Tema: Rebelde, Portiñon

Conversamos por mais dez minutos dentro daquela sala, antes que ela levantou da mesa onde sentamos e me estendeu a mão, me ajudando a descer também.

“Prometi a sua mãe que ia te levar um pouco no Grupo de Apoio.” Ela disse. “Se formos agora dá tempo de ficar pelo menos 2 horas.”

“Eu não quero ir.” Reclamei, parecendo uma criança.

Dulce sorriu e entrelaçou nossos dedos. “Vai ser rápido, você vai ver. Depois eu posso te levar comer alguma coisa.”

“Pensei que você também odiasse o grupo.”

“E odeio.” Ela concordou, começando a andar até a saída. “Mas prometi a sua mãe que te levaria.”

“Ela nem vai saber.” Argumentei.

“Eu gostaria de começar esse namoro sem mentir para sua mãe. Pelo menos por enquanto.” Ela brincou, indo direto para a área de táxi.

“Não é mentira, é ocultação da verdade.”

“Então sua mente maligna funciona assim?” Dulce abriu a porta para eu entrar e entrou logo depois. “Vai ser rápido.” Repetiu, depois deu o endereço para o motorista.

Em questão de meia hora estávamos no local da reunião do grupo. Entramos silenciosamente enquanto um garotinho falava sobre o último tratamento frustrado contra a leucemia que fizera, nos sentamos em duas cadeiras vazias e Dulce acenou discretamente para Peter, que deu um pequeno sorrio para ela, antes de voltar a prestar total atenção no garoto.

Quando o garotinho terminou de contar e Peter lhe falou algumas palavras sobre continuar a ter fé, eu já tinha parado de prestar atenção total a algum tempo. Mas Peter conseguiu minha atenção ao se dirigir à Dulce.

“Então, Dulce, parece que nossa última reunião teve muito sucesso. Todos nós concordamos que devemos fazer isso mais vezes.” Ele comentou.

Dulce deu de ombros. “Não faço faculdade e não trabalho, tenho o dia inteiro livre.” Falou simplesmente.

“Você não trabalha?” Um garotinho de 10 anos perguntou. “Como você tem dinheiro?”

Dulce sorriu para ele. “Eu moro com meu pai e meu irmão.”

“Não é velha demais pra isso?”

“Essa é a única vantagem de se ter câncer.” Ela respondeu. “Nunca estamos muito velhos pra nada. Sem contar que eu não sou tão velha assim. Só tenho 19 anos.”

“São 9 a mais que eu.” Ele rebateu.

“Mas são 30 anos a menos que meu pai. Então, ainda sou jovem.”

“Do ponto de vista dele, mas do meu você é velha.”

Dulce riu e concordou um pouco. “Tudo bem, você é jovem e eu não.”

Ele parecia bem satisfeito em ter ganho uma discussão contra alguém mais velho. Dulce, no entanto, sorria, parecendo aprovar sua atitude.

“Bom, Dulce, quer falar sobre alguma coisa? Seu tratamento, sua família, algum problema que tenha?” Peter perguntou, se inclinando na cadeira um pouco.

Dulce balançou a cabeça. “Não.” Respondeu.

“Certeza?” Perguntou o outro cara, que só aparecia nas terças. “Pode falar conosco, costuma ajudar muito.”

“Tudo bem.” Ela revirou os olhos. “Meu tratamento diminuiu a velocidade com que o câncer avança, mas ele ainda está avançando. Meu pai está ótimo, meu irmão também. Meu problema, além do câncer, é não ter um jogo de vídeo game descente. Quero dizer, que soldado teria sua missão completa em se salvar e não salvar as outras pessoas?! Nenhum, é o que eu digo! Mesmo assim, insistem em fazer jogos desse jeito macabro.”

“Finalmente alguém que concorde comigo!” Um garoto exclamou. Ele devia ter uns 15 anos, no máximo.

“Algo mais?” O cara perguntou, olhando para Dulce com um olhar meio severo. Qual é o ponto de se ir a um Grupo de Apoio se você não pode nem falar o que realmente quer sem alguém ficar te olhando de modo reprovador?

“Hum, bom, pela primeira vez em cinco anos algo realmente bom aconteceu na minha vida.” Ela falou.

Peter sorriu, bastante interessado. “O que?”

“Estou namorando.” Dulce respondeu, sorrindo largamente. Por um segundo de terror eu pensei que ela fosse falar meu nome ou olhar para mim de forma sugestiva, mas ela não continuou a frase.

“Isso é maravilhoso!” Peter exclamou. “Quando temos alguém nos apoiando é sempre mais fácil enfrentar os problemas.” Afirmou.

“Não creio que ela tenha mais força para me apoiar do que eu tenho para apoiá-la.” Dulce brincou.

“Ela?” O mesmo garotinho que discutiu sobre idade perguntou. “Você é lésbica?”

“Na verdade, sim, eu sou.” Dulce respondeu, sorrindo.

“Legal.” O garotinho disse.

“Sexy.” Disse o garoto do vídeo game.

Dulce olhou-o de modo estranho, antes de sorrir. “Fique longe de mim de agora em diante.”

“Podemos continuar com a reunião?” O outro coordenador perguntou, se irritando com as conversas sem sentido.

O resto do tempo passou rápido e logo todos estavam indo embora. Dulce conversou um pouco com Peter, antes de sair comigo para o estacionamento. Ela não fez menção de pegar minha mão em nenhum momento, preferindo deixar suas mãos no bolso.

“Está com fome?” Ela perguntou.

“Não muito.”

“Está cansada?”

“Um pouco.” Admiti. “Mas estou bem.”

“Vou te levar pra casa.” Ela disse, no entanto.

“Hey, eu estou bem, podemos ir comer se quiser.” Falei, parando na frente dela.

“Não quero correr nenhum risco com você. Vou te levar pra casa. Sua mãe me adora, ela vai me convidar para o jantar.” Ela deu de ombros.

“Ah, minha mãe te adora, é?” Perguntei, provocando. “Não tenho certeza que ela vai continuar te adorando quando descobrir que você está desvirtuando sua filha.”

“Não estou desvirtuando ninguém. Não é minha culpa se você não resiste ao meu charme.” Dulce sorriu.

“Convencida!” Acusei, dando um soquinho super fraco em seu ombro.

“Cuidado, você pode me machucar e se meu charme ficar danificado como vou poder conquistar outras garotas que vão a Grupos de Apoio para Pessoas com Câncer?”

Revirei os olhos. “Vamos logo para minha casa.”

“Ouço segundas intenções?”

“Você vai ficar na sala e não vai chegar nem perto do meu quarto. Agora estamos namorando, esqueceu? Não pode ficar simplesmente frequentando meu quarto.” Falei.

“Eu não acho isso muito justo.”

“Pois eu acho justíssimo.”

“Você não vai resistir tanto tempo.”

“É o que veremos.”

Dulce estava certa, no entanto. Minha mãe a convidou para o jantar e só faltou soltar fogos de artifício quando eu disse que Dulce me pediu em namoro. Meu pai assumiu seu papel e deu alguns avisos para Dulce, enquanto eu estava vermelha de vergonha por causa disso. Depois do jantar nós fomos para a sala, onde meu pai foi trocando de canal até achar um canal de esporte, onde estava passando a reprise de algum jogo. Dulce e ele entraram em várias discussões sobre técnicas e jogadores, enquanto eu apenas assistia sem muito interesse. Eu preferia estar vendo alguma série ou um filme de romance.

Era quase nove horas quando Dulce declarou que estava indo embora. Ela não morava tão perto da minha casa e ainda tinha que pegar um ônibus de volta. Ela podia pegar um táxi, mas ela ia poupar dinheiro, já que nesse horário os ônibus não estão tão cheios e ela consegue um lugar para sentar. O maior problema era subir e descer, mas ela geralmente achava alguém que a ajudava. Meu pai se ofereceu para levá-la, já aproveitando para conhecer o pai e o irmão dela e saber seu endereço, mas Dulce recusou, dizendo que eles poderiam marcar alguma coisa para que eles se conhecessem. Minha mãe entrou na conversa e sugeriu um almoço no domingo. Dulce concordou e disse que eles comprariam a carne e assariam na casa deles. Minha mãe disse que iria fazer maionese, arroz e salada. E assim eles combinaram um almoço no domingo na casa de Dulce.

Não sei bem ao certo o que eu acho sobre isso.

Eu levei Dulce até a porta, depois dela se despedir dos meus pais, e fiquei escorada no batente, sem saber o que fazer realmente. Depois do nosso primeiro beijo (selinho), nós não tínhamos nos beijado de novo e eu estava um pouco nervosa sobre isso. Ela poderia passar o simples selinho e me dar um beijo maior, melhor, mas eu estava nervosa com essa ideia.

Dulce, no entanto, não me beijou mais forte, nem me deu um abraço. Ela se inclinou, me deu um selinho, um pouco mais demorado que nosso primeiro, não que eu estivesse contanto o tempo (6 segundos) e se afastou com um lindo sorriso. “Boa noite, Anahi Giovanna.” Ela disse.

“Boa noite, Dulce Maria.” Respondi, sorrindo também.

“Me liga amanhã quando acordar?”

“Você nem foi embora e já está esperando eu te ligar?” Brinquei.

“A culpa é sua.” Ela disse de novo.

“Porque eu sou linda?”

“Porque é incrível, e porque é linda também.” Ela concordou. “Vai me ligar?”

“Porque eu deveria?” Provoquei.

“Caso contrário vou aparecer aqui sem permissão.”

“Você já fez isso antes.” Lembrei-a.

“Tudo bem, se você não vê problemas nisso.” Ela deu de ombros.

Eu sorri. “Eu vou te ligar assim que acordar.”

“Quando acordar, não quando levantar.” Ela falou.

“Quando eu acordar.” Concordei.

Dulce sorriu de novo e deu um beijo estalado na minha bochecha, antes de se afastar e começar a caminhar até o ponto de ônibus, uma quadra pra baixo. Eu sorri e fechei a porta, voltando pra sala.

“Ela é uma garota legal.” Meu pai comentou. “Estou feliz por estar namorando ela e não um crápula qualquer.”

“Eu jamais namoraria um crápula, você me ensinou a ter juízo.” Brinquei, beijando a cabeça dele. “Vou ir tomar um banho e depois vou direto pra cama.” Anunciei, já indo pra escada.