Fanfic: Merdaa...O astronauta vermelho desceu! •1ª e 2ª Temporada•

Acordei cedo naquele domingo, pra falar a verdade eu nem consegui dormir. Sentia uma enxaqueca horrível, um enjôo horrível, resumindo: o meu dia estava horrível. Mas mesmo assim resolvi me levantar, me arrumar da forma mais descente possível (por mais que já tenha saído de moda saia longa, hoje eu a escolhi, e, para completar o look descente, vesti uma blusa de manga três quartos, sem nenhum decote), pois eu queria dar uma boa impressão. Sabe como é, já que era pra levar uma bronca, demonstrar que eu estava afim de mudar não seria nada mal. E começar com a roupa, muito menos.

Senti frio na barriga ao adentrar a igreja. Pé em frente de pé, e Anahí agarrada em meu braço, para me dar apoio.

O culto começou no horário de sempre, as nove da manhã, e não havia nem sombra do Christopher.

Eu já estava quase tendo um troço, pois sem ele como eu enfrentaria tudo? Eu precisava de um apoio, ou pelo menos alguém pra sofrer comigo, e nas condições atuais ele era perfeito para o cargo.

As nove e dez ele chegou, sentou-se ao meu lado, e apertou minha mãe de forma carinhosa, para me encorajar.

Eu mal conseguia prestar atenção no que era cantado, falado, ou lido, a única coisa que eu conseguia pensar —com as mãos soadas, sentindo meu estômago dar voltas — era que em pouco tempo estaria cara a cara com o pastor falando sobre minha vida “amorosa”.

Minutos depois o culto acabou.

—Anny, vou beber água. —Eu menti, pois eu, na verdade, pretendia sair correndo da igreja para qualquer lugar bem distante de todos.

Não, eu não ia agüentar tudo assim...Sem nenhum enfarte. E como eu era muito nova para enfartar o melhor era não ir conversar com o pastor. Sabem como é, eu estava prezando pela minha saúde, não fugindo como uma covarde. Qualquer um perceberia, não é mesmo? Qualquer um que não fosse a Anahí, obviamente.

Eu já estava quase saindo, quando alguém acenou do outro lado da igreja. Meu corpo congelou. O pastor havia me visto, e estava acenando para que eu fosse em sua direção.

Calma, Dulce. Não morra agora. Você ainda tem que ter esse filho e depois de vê-lo crescer pode morrer, e ter quantos enfartes te der vontade, mas agora não.

Mas quem disse que meu coração ouvia meus apelos? Ele a cada segundo, a cada passo que eu me aproximava do pastor, parecia bater cada vez mais forte. Eu iria morrer, já podia até ver todos chorando ao redor do meu caixão e dizendo “Era tão jovem”, e quando soubessem o motivo do meu enfarte falariam “Isso que dá aprontar!”, e quando as mães falassem com seus filhos diriam “Está vendo? Olha onde foi parar por fornicar fora do casamento”.

Meu futuro estava destroçado e se eu não me controlasse nem futuro iria haver mais.

*\O/*

Eu e o Christopher estávamos sentados, em frente ao pastor, que nos sorria tanto que eu nem entendia a causa. Ele não estava aqui para dar a maior bronca em nós dois? Não iria dizer que o que fizemos era errado, e como Deus estava chateado conosco?

—Assumo que quando fiquei sabendo de sua gravidez, Dulce, no inicio, fiquei muito surpreso. Sempre imaginei que você não fosse como essas menininhas por aí, que saiem fazendo... Essas coisas. —Ele sorriu para mim, feliz da vida. —Mas quando eu soube quem era o pai, fiquei contentíssimo por vocês dois.

Eu e o Christopher nos entreolhamos sem entender nada. Ele não iria dar um sermão? Contar para que o sexo foi criado, e como o que fizemos era errado? Então, por que, pelo amor de Deus, ele estava sorrindo para nós dois?

—Vocês pretendem reatar o casamento, certo? —Ele nos perguntou, com um sorriso amoroso nos lábios.

Eu abri a boca para responder, mas faltou coragem para falar. Minha voz travou e nada me faria falar, então voltei a fechar a boca.

—Não, pastor. Não iremos voltar. —Christopher respondeu, depois de segundos, angustiantes, de silêncio.

—Não? —O pastor arqueou uma sobrancelha, surpreso. —Como não?

—O que aconteceu conosco... —Christopher parou de falar e começou a refletir qual a melhor maneira e explicar. Depois de alguns segundos, concluiu: —Não iremos voltar, pastor, não deu certo e nosso casamento já não tem mais jeito...

—Nada é impossível para Deus, Christopher. —Ele o interrompeu falando, com os dedos entrelaçados e um olhar severo.

—Sim, pastor... —Christopher suspirou. —Já refiz minha vida. E pretendo me casar daqui a alguns meses.

Durante um interminável minuto todos ficaram em silêncio. O pastor ainda estava mirando o Christopher sem nem sequer piscar.

—Deus não faz as coisas por acaso. E vocês sabem disso. Perante Ele, vocês sempre serão marido e mulher, e o fato de terem conseguido pela lei dos homens se separar não quer dizer que Deus o aceite. Vocês dois sabem. —Pastor falou nos olhando. —Você também refez sua vida, Dulce? —Ele me olhou esperando uma resposta.

Fiquei tão encabulada, que não consegui mentir.

—Não. —Respondi, mas logo depois me arrependi. Por que eu não menti? Pelo menos assim eu ficaria de cabeça erguida ao olhar o Christopher.

Parabéns, sua anta!

—Christopher, a moça também é desta igreja? —O líder religioso do recinto, perguntou.

—Não.

—Pois bem. Você conhece o processo e sabe suas responsabilidades. Não estou aqui para julgar ninguém, mas tenho a obrigação de alertá-lo. —Ele, o pastor, falou se levantando da cadeira.

—Iremos para assembléia geral? —Eu perguntei, sentindo um nó na garganta.

—Não. —O pastor me respondeu. —Da mesma maneira que perante Deus vocês são casados, vocês têm os direitos e deveres de casados.

Meu queixo foi ao chão. Ele queria dizer que eu não iria para a assembléia?

—A criança, segundo as leis divinas, foi concebida no casamento.

Oh, Jesus! Obrigado. De verdade, obrigado.

—Mas você, Christopher, pense bem em suas decisões. Um casamento que não é construído conforme a vontade de Deus, tem a tendência a fracassar. Orarei por vocês dois, quero muito um dia vê-los juntos novamente. Tão apaixonados como quando anos atrás se casaram. —O pastor acrescentou. —Colocarei na lista de orações da igreja, sem mencionar os nomes. A oração de um justo, com grande fé, pode mover montanhas.

Montanhas tão grandes como as que me separam do Christopher?, me perguntei pensativa.

CONTINUA...