Fanfic: Nem sempre o amor pode está certo. 1º Temporada e 2º Temporada | Tema: web novela

Fui pro quarto, tomei banho, pus um pijama e fiquei na cama, com o boné, que havia comprado, na mão, pensando no Lucas.
– porque eu não te esqueço hein?! – eu disse baixinho.

Pus o boné na mesinha de cabeceira, me virei de lado e me cobri com o edredon e continuei falando sozinha.
– espero que você não seja mais um pra minha lista de “homens que eu tenho que esquecer dentro dos próximos 100 anos” – eu ri sozinha – e eu achava que meu maior problema era o Bê quando o reencontrei e agora eu to aqui, sofrendo pelo Lucas, esse era meu atual problema. Ah como eu queria que ele fosse a solução – fechei os olhos e dormir.

Na sexta fiquei em casa com minha mãe e o Rodolfo, às 8 da noite eu estava jogava no sofá vendo TV quando o interfone toca, o Rodolfo atendeu e me chamou. Levantei-me pra ir lá, achei estranho porque não conhecia ninguém que pudesse ir lá em casa. Eu estava com um rabo de cavalo e de pijamas, com pantufas, estava frio naquele dia. Ao abrir a porta me deparo com o André e outro garoto, eles ficaram me olhando e se entre olharam.
– qual o nome daquele bicho que transformou a moça do sapatinho de cristal? – ele perguntou pro amigo que não sabia responder.
– não era bicho, acho que era fada madrinha – eu disse revirando os olhos.
– isso mesmo, você tem alguma aí Thiago? Porque essa daí vai precisa viu?!

Eu olhei boquiaberta pra ele e fechei a porta em suas caras. Ele bateu, eu abri de novo e fiquei olhando pra ele com cara de “o que?”.
– a festa, lembra? Você tem 1 hora pra está pronta.
– eu não vou.
– porque não minha filha? – era minha mãe atrás de mim – vai, você tem que aproveitar Mabi, vai se divertir.
– ai mãe, to a fim não – eu disse em manhosa.
– vai sim, só assim tu parar de pensar no Lucas – ela disse.

Eu olhei furiosa pra ela, que se virou e foi embora. O André me olhava com cara de quem venceu uma batalha.
– hum... L, L, L... Onde eu vi essa letra mesmo? Ahhh naquele boné que você comprou! Será “L” é de que? O que você acha Thiago?
– será que é de Lucas? – o amigo disse fazendo careta.
– ta!!! Tudo bem, eu vou, mas parem de me encher!

Ele me olhou com um sorriso de orelha a orelha.
– te espero lá no térreo.

Eles desceram e eu fui pro quarto. Passei pela sala e minha mãe e o Rodolfo estavam no sofá.
– valeu mãe – disse com sarcasmo.
– de nada querida – ela sorriu.

Tomei banho, abri minha mala e fiquei pensando no que vestir, estava frio, mas eu não queria ir de calça jeans. Não costumava usar muito pra sair, tanto que só levei duas e básicas. Pus meu roupão e sai, peguei o elevador e cheguei ao térreo onde os meninos estavam, fui andando até eles, que me olhavam assustado.
– quer ajuda no banho? – ele sorriu malicioso – Thiago vai pra casa vai – ele disse empurrando o amigo.
– deixa de graça, aonde vamos? – eu disse parando em frente a eles.
– era pra uma festa.
– era? Como assim? Não vamos mais?
– se você continuar só de roupão não.
– dãh eu vou me vestir né?!
– ah que pena, eu já ia te levar pra minha casa – ele sorriu malicioso.
– abusado! – eu disse irritada.
– estressada.
– irritante.
– linda.

Eu nem respondi, apenas bufei! Aquele garoto me tirava do sério.
– calma gatinha, vamos pra uma festa de faculdade, na casa de um amigo – o Thiago respondeu.
– não é festinha particular não né? – eu perguntei desconfiada.
– não doida – o André disse rindo – é uma festona cheia de gente.

Eu olhei os dois dos pés à cabeça, eles estavam de calça jeans escura e tênis, o André de all star, com uma camiseta azul clara e por cima um casaco xadrez, com capuz. O Thiago estava com uma camisa pólo verde e uma jaqueta preta por cima. Virei-me e sai andando.
– gostou do que viu? – ele gritou.

Eu não respondi, dei o dedo do meio pra ele e subi pra me vesti. Decidi por um vestido tipo “camisetão”, era sem manga, com decote em V, cinza. Pus uma meia calça com fio 80, preta, já que o vestido era curto demais e por cima uma jaqueta tipo de couro preta, calcei uma unkle boot, fiz maquiagem escura nos olhos e um batom nude, soltei os cabelos, pus meu celular no bolso da jaqueta e sai.
– ta bonita demais pra quem não queria ir – minha mãe zoou.
– não é porque eu não queria ir que eu tenho que sair mulambenta, né mãe?

Peguei o elevador e ao chegar ao térreo os avistei encostados no carro lá na calçada, fui até eles.
– nossa mãe! Você achou onde a fada madrinha André? – o Thiago disse me olhando.
– melhor que isso impossível, hein?! – o André disse me olhando por completo.
– ah impossível nada, eu nem te conto como ficaria melhor... – o Thiago disse entrando no banco de trás do carro.
– afff nunca viram mulher não é? – eu disse virando os olhos.
– linda assim não – o André falou enquanto abria a porta do carro pra mim.

Eu entrei, sentei e quando ele entrou, eu sussurrei.
– virgens!

Eles apenas riram, o Thiago esticou o corpo entre os bancos e pôs uma música, eu novamente fiquei analisando o carro e abri o porta luvas, tinha um pacote de camisinhas lá.
– vão perder a virgindade hoje? – eu disse irônica.
– engraçadinha – o André resmungou.
– se você quiser tirar eu topo – o Thiago fez gracinha.
– e eu achando que você que era abusado – eu olhei pro André.
– essas coisas ai não são minhas – ele disse olhando pro pacote de preservativo.
– ah ta! Sei... É de um amigo né? 
– faltou o “marreco”.
– o que?
– “ah ta marreco” não foi isso que você me falou ontem?

Eu ri. Já estava acostumada com a Carol me falando “deixa de onda marreco” que eu nem tinha me tocado que eles não sabiam o que era.
– é que minha amiga sempre fala pra mim “deixa de onda marreco”, porque ela diz que eu sou cheia de frescura.
– concordo com ela.
– não mude de assunto. De quem são?
– esse negócio aí é do meu irmão.
– essas “coisas” e esse “negócio” – eu fiz aspas com as mãos – se chamam camisinha ou preservativo, servem pra se proteger, sabe?! – eu disse irônica – e se forem suas ou dele qual o problema?

Eles riram.
– problema nenhum, mas não são nossos.
– é do irmão do André – o Thiago falou enquanto cantarolava uma música.
– ah claro... E o que fazem aqui? Seu carro é motel?

Ele riu e o Thiago se adiantou na resposta.
– o carro também é do Pablo, o irmão dele.
– ahhhhhhhhhhhh sei... E o que mais aqui é do Pablo? – falei debochando.
– a festa que nós vamos é dos amigos do Pablo, turma da faculdade dele – o Thiago o entregou novamente.

Eu comecei a rir. Não acreditava naquilo. Será que ele estava mentindo em tudo?
– nunca disse que o carro era meu – ele disse virando os olhos.
– o Thiago é seu amigo mesmo ou também é do Pablo?
– ei, sou de ninguém não, deixe de graça menina bonita – o Thiago disse se apoiando entre os bancos do carro.
– a propósito, sou Mabi, prazer – estiquei a mão.
– Thiago – ele beijou minha mão.
– mas então, me conte mais sobre o seu amigo, acho que o André me escondeu muitas coisas.

O André virou o retrovisor e olhou feio pro Thiago.
– não posso falar, ele mata antes de voltar pra BH.
– BH? Como assim voltar?

O Thiago fez uma cara de quem falou besteira e o André riu sem graça.
– iae, quem me conta a verdade?
– não tem verdade nenhuma Mabi, eu não moro aqui, não mais... Prestei vestibular há 2 anos em BH e passei, estou no terceiro ano de fisioterapia, 6º semestre. Trabalho desde os 17 anos como instrutor de artes marciais e a uns 3 meses que dou treinamento em uma academia de lá, vir pra cá pra uma competição e volto na segunda-feira por causa da faculdade.
– hum... Olha que coisa, tudo se esclarecendo. Você luta o que?
– tudo, lá eu dou treinamento de outra coisa, mas esse campeonato foi de luta livre, terminou na quarta–feira, fiquei em 3º lugar – ele fez uma carinha de coitado – e resolvi ficar até domingo à noite pra aproveitar meus amigos.
– e você mora com quem? – eu estava super curiosa.
– lá sozinho, aqui com meu irmão e meus pais moram no Rio de Janeiro.
– hum... E você já me conhecia de lá ou me abordou por acaso no shopping?
– então, eu tenho 21 anos, gosto de sair pra baladas, barzinhos, festas, mas não sei dançar, bebo pouco, aliás, só às vezes, pra não atrapalhar meu treinamento, não tenho namorada...
– você me conhecia né?! – eu o interrompi.

Ele ficou me olhando desconfiado, até o Thiago por a cara entre os bancos de novo, quando ele ia abrir a boca, o André tampou a boca dele com uma mão e falou.
– chegamos à festa.

Descemos, deixei minha jaqueta no carro e esqueci meu celular. A casa era grande, com piscina, uma área externa bem bonita, jardim, tinha muita gente, a pista de dança estava bombando, tinha bar, umas mesas e cadeiras. Entramos e o André viu o irmão dele de costa, ele estava abraçado em uma loira.
– iae Mané! – ele disse cutucando o irmão no ombro.
– achei que não vinha mais – o tal Pablo disse quando se virou.
– que nada, eu não disse que ia aparecer? Então... to aqui.
– fala thiaguito! – o Pablo disse cumprimentando–o.
– oi Luana – o André disse sem graça pra loira, que se quer respondeu, apenas assentiu com a cabeça – essa aqui é a Mabi – ele me apresentou.

O tal Pablo era mais velho, devia ter uns 25 anos, ou menos, sei lá. Ele até era bonito, assim como a tal Luana, mas dava pra notar que ambos eram metidos.
– oi – eu disse sem graça.
– tudo bom linda? – o Pablo me deu dois beijinhos na bochecha – vocês são... – ele disse apontando pra mim e pro André insinuando que estávamos juntos.
– ah não não – nós dois dissemos juntos – ela é uma amiga de BH – o André disse sozinho.
– hum... então aproveitem a festa.
– de quem é a festa? – eu perguntei curiosa.
– é da minha turma da faculdade, a casa é de um amigo de turma. Mas fiquem à vontade. Quer beber Mabi? tequila? Vodka? Gosta?
– Uou! E como gosto – eu fiz uma carinha sacana – mas melhor não to a fim de viajar de ressaca.
– hum... Estão viajando juntos? – a Luana perguntou
– não – eu sorri e ela continuou de cara fechada. 
– ice? Batida? Cerveja? – o Pablo ofereceu.
– ice, obrigada.

O Thiago logo se enturmou com outro pessoal. O André pegou uma cerveja e me chamou pra dar uma volta. Ficamos andando pela área externa e conversando.
– eu já te conhecia. Te vi na internet – ele falou de repente olhando distraído pro nada.
– espero que não pelada – eu disse rindo.
– lutando – ele continuou.
– ah... Luto Boxe por prazer só, aqueles vídeos foram campeonatos entre academias. Preciso voltar, sinto falta – eu disse olhando em volta.
– você é boa. Muito boa – ele deu um sorriso sacana – em todos os sentidos – e piscou.
– achei que estávamos conversando sério – olhei feio pra ele.
– desculpa – ele fez uma pausa e ficamos parados olhando pra pista – quer dançar?
– agora não, você quer?
– não, nem sei dançar.

Eu ri.
– já vi que vou dançar com o Thiago hoje então – olhamos pra pista e ele estava dançando com uma galera.

Ele apenas riu e abaixou a cabeça. Eu olhava pra pista e depois pra ele. Ele estava com uma mão no bolso e outra com a cerveja, olhava pro chão e depois pra mim. Ficamos assim até acabar nossas bebidas.
– vou pegar mais, quer outra ice? 
– sim, obrigada – eu disse entregando a garrafa vazia.

– quer comer?
– agora não – eu sorri.
– vou lá então – ele saiu andando e parou, se virou e disse alto pra mim – teu sorriso é lindo – e foi em direção ao bar.

Na hora lembrei do Lucas, fiquei rindo sozinha, depois meus pensamentos se esvaíram. Ele voltou e continuamos a caminhar, fomos até um jardim e sentamos em um balanço e permanecemos em silêncio, apenas observando a pista de dança.
– quem é Lucas? – ele perguntou do nada.

Inicialmente tive um espanto com a pergunta, após um instante respirei fundo e olhei pra ele com um ar de tristeza.
– um carinha aí.
– ex?
– não chegou nem a ser namorado, quanto mais ex.
– e fez todo essa destruição nesse coraçãozinho?
– pois é... 

Ficamos mais um pouco calados.
– ele me ajudou a sair de um relacionamento devastador, então acho que me apeguei demais a ele, acabei me apaixonando, mas aí apareceu outro ex... Enfim, fiz uma merda só! – eu decidi falar. 
– e você gostava dele ou era só pra esquecer outro cara?
– no inicio era só porque eu o achava lindo, fofo, ele tem um jeitinho doce, aí ficamos, depois de novo, mais uma vez...

– e porque não assumiram logo?
– Eu namorava na época, há 3 anos já, mas não tava fluindo mais, então tivemos um término nada agradável, ai um outro ex, meu primeiro namorado que foi muito importante pra mim, queria voltar... – eu me calei, porque me veio o flashback da briga do Bê com o Pedro. 
– ficou em dúvida entre os dois?
– não... Aliás, fiquei. Sabe, eu não tenho vergonha de dizer que ainda gosto esse meu ex, mas não dá pra voltar, namorei com ele por uma semana e tenho certeza que não tenho mais sentimentos pra namorá–lo. Acho que fiquei com medo de me magoar de novo e o sentimento mudou.
– e ele te traiu ou te largou?
– me traiu – me calei novamente e fiquei o observando, era como se ele entendesse toda minha história.
– continua...
– então, ele me traiu, eu me mudei e ficamos sem nos falarmos, meio desse ano voltei e o reencontrei e ele quis voltar. 
– e o Lucas entrou nessa história toda porque era fofinho?
– haram... – eu disse rindo – to brincando. A primeira vez em que fiquei com ele era só por isso que eu te falei, mas depois que fiquei solteira, continuamos ficando, acho que por conta de toda essa confusão eu me apeguei a ele e assim foi indo, quando vimos estávamos apaixonados. Só que no final ficou tudo muito mal resolvido.
– você gosta muito dele, né?!
– bastante. Vim passar uns dias com minha mãe pra tentar melhorar a cabeça, mas parece que ela ainda está em BH, ao lado dele. Não vai ser fácil voltar.
– e você quer esquecê–lo ou pretende voltar com ele?
– a minha consciência diz pra eu esquecê–lo, mas do meu coração ele nunca saiu pra precisar voltar – nessa hora uma lágrima escorreu.

Nem eu mesma havia percebido o quão apaixonada pelo Lucas eu era, me afastar talvez não havia sido uma boa idéia, a saudade só aumentou, vontade de tê–lo, senti–lo, o Fê tinha razão.
– vocês terminaram por quê? – ele falou enquanto enxugava minha lágrima.
– não teve término. Brigamos porque o meu ex aprontou umas aí, ficava provocando o Lucas, depois inventou que nós estávamos ficando, que voltaríamos e por fim combinou com a ex do Lucas pra dar em cima dele e acabou que eles ficaram, depois namoraram, ai eu acabei aceitando namorar com ele também... – me calei por uns segundos – enfim... Caímos bonito. Discutimos e depois não conversamos mais. Meu irmão disse que ele ta pior que eu.
– então lute por ele. Porque vocês não conversam quando voltar?
– porque acho que ele ta feliz com a ex dele – eu disse cabisbaixa – mas quem sabe, né?! E você?
– ah... Eu to doido pra ficar com esse tal Lucas, ele é muito fofo – ele disse fazendo voz de gay.
– engraçadinho – eu disse rindo muito – você me disse que não namora, mas parece que entendeu muito bem a minha situação. Conta aí quem é a garota que destruiu esse coraçãozinho.
– é tão na cara assim mesmo? – ele disse sorrindo sem graça.
– hurum! Conta aí.

– bom, sabe a Luana? Era minha namorada.
– e o que ela faz com seu irmão? – eu disse surpresa.
– Agora é ex. Namorávamos desde o colégio, quando nos formamos eu decidi fazer vestibular fora daqui também e ela decidiu que queria morar comigo independente de onde eu fosse morar, prestamos vestibular juntos em quatro Estados, então eu passei pra uma universidade em BH e ela passou aqui, só que ela queria que eu ficasse aqui e morasse com ela. 
– e a tua faculdade? – perguntei.
– ah, ela queria que eu esperasse um ano pra fazer prova de novo e tentar passar aqui.
– folgada hein? Porque não tentaram um namoro à distância?
– ela não quis. Quando eu disse que iria embora, ela se rebelou, mas não teve jeito, eu me mandei, continuamos nos falando, quando dava eu vinha pra cá e a gente ficava junto. 
– então acabaram por quê?
– porque desde que eu fui embora ela resolveu namorar meu irmão?! – ele respondeu com ironia e riu – Quando eu voltava pra cá e ficava com ela, eles já estavam juntos – ele fez uma careta e eu fiquei boquiaberta – Ele nem imagina isso, preferi não voltar com ela porque não quero brigar com meu irmão. 
– mas ela era sua namorada, ele nem te respeitou... – eu disse indignada.
– eu já tinha ido embora, ele achou que tínhamos terminado, ela deve ter feito aquele drama que eu a larguei e ele caiu na de consolar a menina carente... afinal, ele tem direito de namorar quem quiser, os dois eram solteiros, né?!

Eu fiquei calada, preferi nem opinar, pra não magoá–lo, porque ele estava com uma carinha tão triste.
– você ainda gosta dela? – perguntei.
– não, tenho pena. 
– e ela ainda gosta de você?
– não sei. Prefiro pensar que não.
– então porque você sofre? – eu perguntei confusa.

Ele ficou calado um tempo, depois respirou fundo pra me responder.
– ela continua me procurando, mesmo estando 2 anos com meu irmão. Acredito que ela esteja com ele pra me atingir, mas no fundo quero pensar que eles se amam e vão ser felizes. 
– você não me respondeu...
– ver os dois juntos mexe comigo. Mas to agindo igual a você, não voltaria com ela, não quero me magoar, aquilo pra mim foi uma traição – ele falou as palavras com certa rispidez.
– que vida amorosa sofrida a nossa, hein?! – eu disse.
– vamos brindá–la então – ele sorriu.
– minha ice acabou – eu mostrei a garrafa vazia.
– outra?
– melhor esperar se não eu sairei carregada daqui hoje.
– eu carrego com maior prazer – ele fez uma cara sem vergonha.
– ta sofrendo, mas não deixa de ser sem vergonha, hein?! – dei um tapinha no seu braço.
– e perder a oportunidade? – ele deu um sorriso safado.
– bobo. Quero comer, vamos.

Sai o puxando pela mão, atravessamos a pista de dança até as mesas com comidas. Pegamos uns salgadinhos e comemos ali mesmo, olhando o pessoal dançar. Ficamos comentando sobre as pessoas do lugar, até que vi a Luana no bar sozinha, nos olhando. Eu avisei a ele, que olhou pra trás. Eles ficaram se encarando por uns segundos.
– já volto – ele disse sério e foi até ela.

Assim que ele chegou lá, ela se afastou e ele a seguiu. Eu fui para o bar e fiquei os observando de longe. Eles estavam meio que escondidos no jardim. Pareciam estar discutindo, ela tentava abraçá–lo e ele tirava o corpo de perto dela. 
O Thiago veio até mim e me puxou pra pista, tocava reggaeton então dançamos juntos, ele dançava bem, acabei me distraindo do casalzinho e dancei duas músicas com o Thiago. Assim que terminou a música, eu olhei de novo pra onde o André estava e os vi se beijando, ela estava com os braços no pescoço dele e ele nem a tocava. Desviei o olhar e fui saindo da pista, pedi uma batida de frutas com vodka no bar. Me sentei e o Pablo veio falar comigo.
– o que uma menina tão linda faz sozinha aqui?
– bebendo?! – fiz uma careta e dei um gole na minha batida.
– o que aconteceu com o “não posso beber vodka porque não quero ter ressaca”?
Eu apenas ri.
– e aí, dança?
– claro.
– então vem – ele saiu me puxando pra pista, só deu tempo de largar meu copo no balcão.

Começamos a dançar, ele segurava na minha cintura com vontade e me apertava junto ao corpo dele. Eu estava ficando sem graça. Virei o rosto pra olhar pra onde o André estava e o vi tirando os braços da Luana de seu pescoço e querendo se afastar dela. Dei um sorriso e acabei me distraindo, quando o Pablo me surpreendeu com um beijo e eu o empurrei.

– eiiiii, me larga.

– o que foi gatinha?

– argh! Quem deixou você me beijar? – fiz cara de nojo.

– ah vai dizer que você não queria?

– não né!

– eu percebi que você estava me olhando – ele disse malicioso.

– eu??? Você ta doido – fiz gestos com as mãos.

– e porque não quer? Não vai dizer que é André – ele disse rindo debochadamente.

– não, é porque você tem namorada – eu disse irritada.

– e daí? A essa hora ela deve ta se agarrando com meu irmão mesmo. Qual o problema nós fazermos o mesmo?

– qual o problema? Você ainda pergunta?

– já ouviu falar que chifre trocado não dói? – ele ergueu a sobrancelha.

– já ouviu falar em respeito? – nessa hora eu me lembrei da minha relação com o Pedro, era exatamente desse jeito.

– ela não tem por mim, porque eu teria com ela?

As palavras dele cada vez me deixam mais confusas, ou melhor, me esclareciam coisas. Aquilo havia me abalado de uma forma diferente. O que poderia ter sido apenas um idiota querendo me agarrar, se tornou algo maior. O fato é que aquela relação era exatamente a que eu tinha com o Pedro e que por tantas vezes eu tentei entender e não conseguia. Pronto, estava entendido!

– já que você não tem por ela, tenha por mim. Até porque o que vocês têm ou deixam de ter no relacionamento de vocês não é problema meu, nem de ninguém aqui, mas é problema meu você me beijar sem eu querer. Você já pensou na possibilidade de ela só beijar teu irmão porque você também beija outras? Imaginou como isso pode estragar a relação de vocês? Que a relação de vocês pode ser realmente legal se tentassem? E outra... as pessoas que vocês beijam também tem sentimentos, já parou pra pensar nisso? Porque você não...

– calma gatinha – ele me interrompeu assustado – Foi só um beijo.

– que seja – eu disse cabisbaixa – me deixa... – eu fui me afastando.

– E não se preocupe que o André não viu, você ainda pode ficar com ele – ele disse sarcástico.

Eu nem respondi, me afastei da pista de dança e fui indo em direção ao balanço. Não sei por que, mas minha vontade era de chorar.

O André me viu e foi atrás de mim, me puxou pelo braço.

– Mabi, o que foi?

– nada.

– você ta pálida.

Eu fiquei parada sem responder nada.

– fala logo, você sabe que eu vou insisti até conseguir uma resposta.

– teu irmão...

– o que tem?

– me beijou a força.

– o que? Bicho, esse Pablo é foda – ele disse se virando pra ir atrás do irmão.

– ei André, espera – eu disse o segurando – deixa pra lá.

– que deixar o que Mabi? Ele não pode agarrar ninguém assim do nada, ainda mais a força.

– ele teve um motivo.

– qual motivo justifica essa burrada?

– ele fez isso por que... – eu hesitei.

– hum?

– ele disse que como a namorada dele devia estar se agarrado com você, então...

O André me olhou assustado.

– é, ele sabe de vocês – eu disse brava.

– e porque ele ta com ela ainda? Porque não falou comigo? – ele estava assustado ainda.

– ali é uma troca, um deve ta usando o outro, ele exibi ela pros amigos e ela exibe pra você. Com meu ex foi assim.

Ele foi até o balanço e se sentou, eu sai em direção ao bar, peguei dois copos de tequila e sentei ao seu lado, dei um copo pra ele.

– tim tim? – sugeri.

Brindamos com os copos e viramos a bebida. Ele se encostou no banco e ficou de olhos fechados, após a tequila minha cabeça ficou rodando, então encostei–me no seu ombro por uns instante, depois me afastei, de repente ele passou o braço por trás de mim, segurando na minha cintura. Fingi que nada havia acontecido, permaneci imóvel. Ele abriu os olhos e me olhou.

– precisa ter medo de mim não, sou bem diferente do Pablo, não vou te agarrar a força não – disse sorriu.

– não pensei isso... – eu sorri sem graça.

Ele me puxou pra perto dele, pus a cabeça no seu peito, cruzei minhas pernas e aconcheguei meu corpo no corpo dele. Parei o olhar na pista de dança enquanto ele fazia carinho nos meus cabelos. Ficamos assim por uns bons minutos. Até o Thiago chegar.

– os pombinhos vão ficar sentados aí à noite toda?

Nem respondemos, só rimos.

– to falando sério, vamos logo...

Continuamos calados.

– porra vocês estão parecendo o casal depressão.

– não enche Thiago – o André disse brincando.

– dançar? Beber? Comer? Se divertir? E ai, alguma coisa atrai vocês?

– ta parecendo você ontem me enchendo o saco – eu disse pro André.

– trás uma cerveja e uma... – ele se virou pra mim.

– batida de morango com vodka – eu respondi prontamente.

– ... pra gente Thiago.

– tão me achando com cara de garçom?

Apenas os olhamos, fingindo estar sérios.

– puta merda, viu?! – ele disse bravo indo em direção ao bar.

Estavamos ainda na mesma posição, levantei a cabeça do peito dele e o olhei.

– tinha que ser teu amigo pra ser inconveniente, né?!

Ele não respondeu, ficou me olhando sério, enquanto eu sorria.

– eu já te disse isso e vou repetir: que sorriso lindo.

Eu fiquei sem jeito, só consegui falar.

– o Lucas sempre diz isso.

Falei e voltei a fitar a pista de dança, ele segurou na lateral do meu rosto com a mão fazendo–me olhá–lo novamente.

– cara, eu não conheço o tal do Lucas, mas ele está sendo muito trouxa de te deixar sozinha.

– não posso dizer o mesmo da Luana. Ela não presta, você merece coisa melhor – sorri cínica.

– ah é? Nossa, eu não sabia que era tão bom assim. E quem eu mereço? – ele disse rindo.

– ah, uma menina mais legal, mais bonita, mais interessante...

– mais que você? – ele me interrompeu erguendo uma sobrancelha.

– obrigada pelo elogio – eu disse timida – mas pode ser uma mais que eu sim.

– e existe? – ele disse se aproximando da minha boca.