Fanfic: MULHER DE GELO - AyA - Adaptada Finalizada | Tema: AyA

CAPÍTULO I

Uma terrível nevasca desabara sobre Vancouver, durante a noite. Pela manhã, às oito horas de uma sexta-feira, uma camada grossa de neve caía sobre as pessoas que caminhavam pelas ruas.
Anahi Portilla sacudia os flocos de neve dos cabelos louros e da jaqueta azul, enquanto corria em direção ao hall de entrada do edifício do Vancouver Clarion. Tinha certeza de que não esquecera nada. Com os saltos das botas ressoando sobre o piso de lajotas brancas e pretas, mentalmente conferia suas prioridades: passaporte, passagens da Air Canadá, equipamento fotográfico, dinheiro...
Quando entrava no corredor que a levaria à sala do editor-chefe, o som de risos chamou-lhe a atenção. Notou uma ponta de malícia naquelas risadas. Ajeitou a alça da sacola do equipamento fotográfico no ombro e apertou com força a mala que carregava na mão.
Não se surpreendeu com o fato de as gargalhadas virem de Trish Rice. A secretária conversava no bebedouro com duas funcionárias do escritório. A fama que Trish tinha de ser maldosa e bisbilhoteira corria por todo o Clarion. Com o canto dos olhos, Anahi percebeu uma troca de olhares significativos entre Trish e as colegas.
— Olá! — Com um sorriso forçado, a secretária cumprimentou Anahi. — Ia justamente procurá-la, para contar-lhe as novidades... se é que já não está a par delas, é claro.
Anahi não ignorava que Trish não gostava dela. Parecia que a secretária ressentia-se de sua bem-sucedida carreira como fotógrafa. E, fitando diretamente os olhos castanhos que transmitiam um brilho estranho, Anahi perguntava-se que novidade seria aquela que provocara gargalhadas de satisfação. Nada que lhe favorecesse. Disso tinha certeza.
Anahi olhou-a por alguns instantes com ar distraído, como se não estivesse absolutamente interessada no assunto.
— Saiba o quê?
O tom de indiferença pareceu irritar a secretária, que, antes de responder, encheu um copo com água gelada, deliciando-se com o fato de fazer Anahi esperar. Depois, com voz estridente, anunciou triunfantemente: — Herrera voltou!
O sorriso de Anahi morreu nos lábios. Seu estômago pareceu retorcer-se com o peso de uma única xícara de café que bebera ao acordar.
— Verdade? — Recuperando rapidamente o autocontrole, ergueu os ombros cora indiferença. — Pensava que Alfonso não voltaria do Oriente Médio antes da próxima semana.
— Ontem, dei de cara com ele. Estava contando a Sarah e a Amanda que ontem, depois do expediente, fui ao aeroporto buscar minhas irmãs. De repente, quem eu vejo no estacionamento? A pantera preferida do Clarion!
Anahi olhou para o relógio de pulso.
— Oh, não! Já? Desculpe-me, mas estou atrasadíssima e...
— Alfonso comentou que está se sentindo muito cansado e que pretende tirar umas férias — Trish persistiu. — Disse, também, que hoje virá ao escritório.
Anahi quase não conteve um suspiro de alívio.
— Bem, nesse caso, não o verei. Estou a caminho do aeroporto.
— Para onde você vai?
A expressão de Trish era igual à de uma criança a quem fora negado um presente. Nesse caso, Anahi sabia que esse presente estava relacionado com o dia era que vencera o prêmio McGillivray, como autora da melhor foto do ano, no início de janeiro, dois meses atrás. Também tinha a ver com Alfonso Herrera.
Charlie e eu vamos para L`lle des Coquilles — disse.
— L`lle des Coquilles? — Trish repetiu.
— Sim. Uma ilha do Caribe.
— Nunca ouvi falar!
— Talvez por se tratar de uma das menores. Flame Cantrell tem um villa nessa ilha. Vamos entrevistá-la para nossa revista.
— Flame Cantrell! — Amanda, a mais jovem das duas funcionárias, fitou Anahi com inveja. — Você vai fotografá-la para a seção Weekends Wonderfull? — Sim.
— Mas ela nunca concede entrevistas! — Trish jogou o copo de papel no cesto de lixo, num gesto que traía sua irritação. — Comparada a ela, Greta Garbo teria ganho o título de Miss Simpatia! Flame, nunca, nunca fala à imprensa.
— Que bobagem, Trish! — Anahi caçoou, negando veementemente com movimentos de cabeça. — Você deveria saber que jamais se diz nunca! E eu, que pensava que você era fã de James Bond!
Amanda e Sarah riram com gosto, enquanto Anahi se afastava do grupo, com o salto das botas ressoando novamente sobre o piso. Virando o rosto, falou num tom falsamente doce:
— Oh... por favor, digam a Alfonso o quanto sinto não poder encontrá-lo!
Caminhando na direção do escritório do editor-chefe, riu da grande mentira que acabara de afirmar. Até preferia não reencontrar Alfonso Herrera. Era o homem mais arrogante, mais detestável, mais sensual... Soltando um suspiro de raiva, diminuiu os passos. Considerava simplesmente ridículo que um beijo sem a mínima importância a aborrecesse tanto...
O pior era que não compreendia os motivos pelos quais tanto se aborrecia.