Fanfic: MULHER DE GELO - AyA - Adaptada Finalizada | Tema: AyA

Anahi conteve-se para não rir das palavras de Flame.
Quando guardou a câmera, duas horas depois, estava tão frustrada e irritada quanto estivera após a sessão de fotos da tarde. Apesar de Derek ter cooperado, Flame, mais uma vez, arruinara, propositadamente, a chance de uma série de boas fotos.
Em determinado momento, Flame decidiu que não precisava mais de Derek. Em seguida, convidou-o para jogar bilhar. Saíram juntos da sala. Ela retornou sozinha, alguns minutos depois. Ao ver Anahi guardando a máquina, disse num tom que não admitia contestações.
— Apenas mais algumas fotos. Depois, encerraremos seu trabalho por hoje.
Anahi abriu a boca para retrucar, mas preferiu calar-se. Preparou novamente a câmera. Entretanto, não batera mais do que três fotos quando Flame reclamou:
— Oh, céus! Leve essa coisa para longe de mim!
A raiva que Anahi reprimira por toda a tarde, de repente, explodiu. Colocou a máquina dentro da maleta e pendurou a alça no ombro.
— Tudo bem. Porém, antes de subir, gostaria de dizer-lhe algo. Estou muito ofendida pelo fato de ter me obrigado a vir para o Caribe apenas para me fazer de boba. Estou ofendida também por você insistir em não cooperar de jeito nenhum com o meu trabalho. Só que não consigo entender, nem sequer imaginar, por que se sentiria satisfeita em me ver desmoralizada profissionalmente. Sim, porque nenhum editor se interessará pelas fotos que tirei aqui. Planejou tudo isso porque fui noiva de Derek? Por isso deseja vingar-se de mim? Quanta perversidade sob uma aparência tão bonita! Preste atenção, Srta. Cantrell. Como atriz, você pode ser o máximo, mas como pessoa, para mim, não merece mais do que um sonoro zero!
Anahi fechou os olhos, por um instante. Podia imaginar o rosto vermelho de Ken se transfigurando, à medida que ouvia as reclamações de Flame, por telefone. Não tinha a menor dúvida de que a atriz telefonaria para Ken, o mais rápido possível. Abriu os olhos.
— Não é correto um operário culpar as ferramentas por seu péssimo trabalho. No seu caso, Srta. Portilla, não é justo uma pobre fotógrafa culpar a máquina por sua incompetência. — A voz fria de Flame quebrava o silêncio da sala. — Pelo modo como Derek sempre a elogiou, esperava mais de você. Mais, muito mais.
— Derek não tem nada a ver com isso. — Anahi retrucou. Apesar das palavras ameaçadoras de Flame, queria ir até
o fundo da questão. Alfonso já a havia prevenido de que estava envolvida, de algum modo, com o que quer que estivesse acontecendo na villa. Respirou fundo, tentando recuperar o autocontrole. Não queria que a raiva anuviasse sua lucidez.
— Creio que já está na hora de colocar as cartas na mesa, e contar-me por que realmente exigiu minha presença na ilha.
Flame abriu os braços, com expressão inocente.
— Eu a convidei para vir à ilha por uma única razão. Detesto lidar com a mídia. Então, imaginei que, se abrisse uma exceção à minha regra de não falar com a imprensa, nem permitir repórteres e fotógrafos em minha casa, talvez, os paparazzi perdessem o interesse de viverem me espreitando. Naturalmente, para essa... exceção, que pretendo seja a única, queria um fotógrafo de alto calibre...
— Que estupidez! — As palavras escaparam da boca de Anahi. — Se existe uma pessoa fazendo papel de boba nesta história, essa pessoa é você mesma, não eu! — Mordeu o lábio, perguntando-se se deveria continuar ou não. A hesitação, durou apenas um segundo. Depois que começara a enfrentar a atriz, iria até o fim. "Perdido por um, perdido por cem", pensou.
Mais uma vez respirou fundo, para recobrar o fôlego.
— Independente dos verdadeiros motivos, imagino que acredite que valeu o esforço. Pessoalmente, acho que foi pura perda de tempo. Irei embora amanhã e, pelo que pude observar, tudo o que você obteve com seu plano ingênuo foi uma bebedeira homérica para Derek. — Calou-se, admitindo que extrapolara. De repente, percebeu que não se importava. Seu trabalho com Flame Cantrell já fora pelos ares, mesmo. Nada mais tinha a perder. Dando as costas para a atriz, caminhou em direção à porta da sala. Já estava quase saindo, quando Flame gritou:
— Pare!
Anahi tremeu. Indignou-se com o atrevimento de Flame, por dirigir-se a ela naquele tom de voz. Sentiu ímpetos de ignorar o chamado da atriz. Ao mesmo tempo, a razão aconselhava-a a ficar. Flame gritara num tom autoritário. Entretanto, sob aquele autoritarismo todo, havia um princípio de... pânico.
Anahi surpreendeu-se. Não concebia que uma mulher como Flame Cantrell pudesse entrar em pânico. A curiosidade venceu e, obedecendo a um impulso, ela se virou, encarando a atriz.
— O que você quer? — perguntou.
— Quero que volte.
Com passos lentos, Anahi caminhou até o centro da sala.
— Sente-se.
Anahi sentou-se no braço de uma poltrona, observando Flame, que começou a andar pela sala. Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, ela parou na frente de Anahi. Os olhos verdes de Flame pareciam mais frios do que nunca.
— Você e Derek já foram noivos. Parece que você já estava fazendo os preparativos para o casamento. — Sua voz soava tensa. — Eu a trouxe até aqui para saber o que aconteceu para romperem o noivado.
Anahi arregalou os olhos. Aquela mulher planejara toda aquela encenação apenas para descobrir por que Derek a abandonara.
— Ele não contou? — perguntou, com incredulidade.
— Não. — Flame brincava nervosamente com um pingente de esmeralda. — E acho que um homem que pretende casar-se não deve esconder nada da futura esposa. Como ele não me contou, não tive outra opção exceto procurá-la para obter a informação diretamente de você.
Anahi não estava preparada para dar aquela informação. De repente, sentiu-se abatida e cansada. O tom de voz revelava seu estado de espírito.
— Sinto muito. Prefiro não discutir esse assunto.
— Não entendo a razão para tanto segredo. Derek me disse que foi ele quem rompeu o noivado. Se é mesmo verdade, por que... — ela se calou repentinamente.
—- Continue. — As pulsações de Anahi se aceleraram. Em silêncio, Flame caminhou até as portas francesas.
— Continue — Anahi repetiu, levantando-se do braço da poltrona. Um frisson de ansiedade percorreu sua espinha. — O que você ia dizer?
Flame virou-se lentamente.
— Se foi Derek quem rompeu o noivado, por que há sempre uma sombra de tristeza nos olhos dele, quando alguém menciona seu nome? Por que Derek se recusa a falar no assunto? Acho que ele está mentindo. Acho que não foi ele quem rompeu o noivado, mas sim você.
— Você está enganada.
— Tenho essa suspeita há algum tempo. E, hoje, quando Alfonso disse que você saiu da cama de Derek direto para a dele, compreendi que estava certa. Derek não a abandonou. Foi você quem abandonou Derek!
O rosto de Flame tornou-se estranhamente acinzentado.
— Não. — Anahi queria desfazer o mal-entendido. — Você está enganada. Foi Derek quem rompeu nosso compromisso. Mas que diferença faz saber quem abandonou e quem foi abandonado? O que realmente importa é que você e Derek se amam. — Será que ele me ama? — Flame colocou a mão na boca, mas era tarde. As palavras já haviam sido pronunciadas. Anahi não acreditava no que ouvira. Perplexa, viu um brilho nos frios olhos verdes. Lágrimas! Sim, o brilho era causado pelas lágrimas. O rosto da estrela de cinema se transformara numa máscara de desespero. Com um soluço, Flame jogou-se na primeira poltrona que encontrou, escondendo o rosto entre as mãos.
Kathr3m permaneceu imóvel por alguns instantes, incerta do que fazer ou falar. Considerou a possibilidade de Flame estar fingindo. Porém, logo afastou a idéia. Os soluços que sacudiam o corpo da atriz pareciam sinceros.
Flame levantou a cabeça, afastando os cabelos do rosto molhados pelas lágrimas.
— Eu os vi de mãos dadas hoje pela manhã. Vi, também, quando Derek a beijou. Sempre que pergunto a respeito do passado, ele se mostra muito evasivo. Por que essa atitude, se não a ama mais? — A atriz não conseguia controlar o tom de voz.
As palavras de Flame iluminaram a mente de Anahi. Finalmente, compreendera por que a tratara com tanta hostilidade: por acreditar que Derek ainda a amava.
Para Anahi, a situação era absurda demais. Flame, uma das mulheres mais bonitas do mundo, com ciúme de uma mulher comum, que podia andar tranqüilamente pelas ruas, sem atrair os olhares masculinos.
— Você está completamente errada, Flame. O que viu esta manhã foi apenas uma tentativa de duas pessoas reatarem uma relação de amizade. Derek a ama. Hoje cedo, enquanto conversávamos, confessou que, para ele, só existe você. Por isso rompeu nosso noivado. Acho melhor não insistir nesse assunto. Talvez ele não queira lhe contar. Se o ama realmente, deve confiar nele. Não estrague esse relacionamento com bobagens.
— Então, não está mais apaixonada por ele? Você ama mesmo Alfonso?
Flame esfregou os olhos com o dorso da mão, borrando o rosto com a maquilagem desfeita. O lado profissional de Anahi não pôde evitar de pensar em fotografá-la naquele momento. Sem dúvida, a foto faria o maior sucesso na capa da Time!
— Não, Flame, não amo mais Derek. Deixei de amá-lo quando rompeu nosso noivado. Quanto ao meu relacionamento com Alfonso, desculpe, mas trata-se de um assunto particular.
Aquela fora uma tarde de enlouquecer. Entretanto, o mais surpreendente fora Flame desmoronar emocionalmente diante de Anahi, revelando muito de sua personalidade. No fundo, era uma mulher insegura. E aquela cena não combinava nem um pouco com a imagem que a atriz passava para o público.
— Estou muito envergonhada. — Flame levantou-se, cambaleando. — Envergonhada pelo modo como me comportei com você. Você parece uma pessoa agradável. Tenho certeza de que é uma pessoa agradável. De uma família excelente.
Seu rosto se contraiu ao mencionar família. Apertando as mãos, ela hesitou por um segundo, antes de confessar:
— Menti para você. Menti para Alfonso, também — murmurou.
— Tudo que contei a respeito de minha família... é mentira.
— Soltou uma gargalhada histérica. — Toda minha vida tem sido uma grande mentira!
Anahi tentou coordenar os pensamentos. Eram acontecimentos demais para um único dia!
— O que quer dizer? — Anahi arriscou perguntar, cautelosamente.
— Meu pai... não queria filhos. Quando descobriu a gravidez de minha mãe, abandonou-a. Não sei nada sobre ele. Minha mãe o odiava tanto que jamais sequer mencionou seu nome.
— Você disse que a chamava de doce de abóbora.
— Inventei isso. Aliás, inventei tudo. Não queria admitir que meu próprio pai me abandonou.
Anahi a observava em silêncio.
— Por isso, sempre me senti insegura em relação a Derek. Sempre tentei parecer perfeita para ele, para que não me deixasse. — Enxugou uma lágrima que escorria pela face. — Sempre temi que alguma coisa em mim o fizesse me abandonar. Agora, principalmente, agora...
— Principalmente, agora? — Anahi repetiu. Flame gemeu.
— Tenho medo de contar a Derek. Oh, meu Deus... o que farei se ele me deixar? Como posso contar-lhe?
— Contar o quê?
Anahi adivinhou a resposta de Flame, antes mesmo que a atriz pronunciasse as palavras... As palavras que Anahi daria tudo para dizer, mas que jamais diria.
— Estou esperando um filho de Derek — a estrela sussurrou.
Passava da meia-noite, quando, finalmente, Anahi foi para o quarto.
Abriu silenciosamente a porta, entrando na ponta dos pés. Na escuridão do quarto, era impossível saber se Alfonso estava na cama. A luz do luar entrava pela porta francesa, entreaberta.
Com cuidado, colocou o equipamento fotográfico sobre uma poltrona, caminhando para o banheiro.
— Hei, aqui!
Resmungando, Anahi virou-se para responder. Alfonso prosseguiu:
— Sim, pensei que estivesse pescando para o jantar. As quatro horas de diferença...
Ele falava ao telefone e a voz parecia vir de fora. Anahi saiu para o balcão. Alfonso estava apoiado no batente da porta, com o telefone no ouvido. Estava de costas para ela. Aparentemente, não a ouvira entrar.
— Jantar na segunda-feira? Na sua casa ou na minha? Ótimo. Estou ansioso. — Ele riu. — Mal posso esperar para rever a mulher da minha vida.
A mulher da vida dele!
— OK, Laura. — A voz dele era toda carinho. — Telefonarei assim que voltar.
Alfonso dissera que não tinha esposa, mas nunca afirmara não ter uma mulher em sua vida. Nesse caso, não entendia por que insistira em flertar com ela, em provocá-la.