Fanfic: MULHER DE GELO - AyA - Adaptada Finalizada | Tema: AyA

Ela dormira aquela noite. Porém, na noite seguinte, mal conseguira pregar o olho. Rolara na cama, ardendo de desejo por ele.
Rapidamente, escapou dos braços dele. Caminhou até o lado oposto da mesa. Começou a folhear alguns papéis.
— Desculpe, Alfonso. Tenho muito serviço.
— Qual o problema? Você não permitiu que as palavras de Trish...
— Nada a ver com Trish. — Levantando a cabeça, encarou-o. — Não posso negar que adorei o fim de semana ao seu lado. Foi apenas um fim de semana. Agora, é trabalhar. Como já disse antes, a única coisa que conta em minha vida é a carreira. Não tenho tempo, nem inclinação para envolvimentos sentimentais.
O telefone tocou, para alívio de Anahi.
— Anahi? E Ken. Por acaso, Alfonso está aí?
— Sim. Quer falar com ele?
— Pessoalmente. Diga-lhe para vir até meu escritório. Anahi colocou o fone no gancho.
Era para você. Ken pediu para ir até a sala dele.
— Ani... — Dando a volta na mesa, Alfonso apoiou as mãos no tampo, inclinando-se sobre Anahi. — Gostaria de vê-la esta noite. Já tenho compromisso para o jantar, mas passarei para buscá-la depois...
Sim, Anahi já sabia do compromisso para a noite de segunda-feira. Laura, a mulher de sua vida! Não pôde evitar um sentimento de mágoa e revolta. Custava a acreditar que Alfonso pudesse ser tão cínico a ponto de correr de uma mulher para outra, na mesma noite. Somente o conhecimento dessa duplicidade dava-lhe forças para resistir à intensidade do brilho sedutor dos olhos dele.
— Vou levar trabalho para casa. Prometi a Ken que entregaria as primeiras provas amanhã bem cedo. — Olhou bem dentro dos olhos de Alfonso e disse: — Sinto muito. Ele ergueu as sobrancelhas.
— Amanhã?
— Estarei ocupada a semana inteira. De qualquer forma, agradeço pelo convite.
Alfonso endireitou o corpo.
— Não pense que desistirei com facilidade, Ani Portilla. — Seus lábios se curvaram num sorriso que teria derrubado as defesas dela, caso Anahi não estivesse prevenida. — Agora, preciso ir... mas, seguirei um velho conselho que diz: "um coração fraco não conquista uma bela mulher". E você é uma bela mulher, que pretendo conquistar.
Assoviando alegremente, saiu da sala, fechando a porta. Anahi deixou-se cair na cadeira. Alfonso deveria ter muitas mulheres bonitas em sua vida. Ela não tinha a mínima intenção de tornar-se mais uma.
Naquela noite, logo depois do jantar, Anahi foi para a câmara escura, em seu apartamento.
Normalmente, adorava permanecer ali, trabalhando. Amava a paz, o silêncio, o cheiro característico dos produtos químicos. E, mais do que tudo, amava o sentimento de satisfação ao ver suas fotos criativas, depois de reveladas.
Seu pai, um fotógrafo amador, a encorajara, desde criança, a ajudá-lo na revelação das fotos que ele batia. Anahi acompanhava fascinada o processo de transferir os negativos de bandeja para bandeja, observando as imagens tomarem forma sobre o papel. Aos olhos da criança que era, aquilo tudo parecia mágica.
Naquela noite, como sempre, trabalhava rápida e cuidadosamente, revelando os primeiros rolos de filmes tirados na ilha. Entretanto, seu pensamento não participava do trabalho manual.
Seu pensamento estava longe. Com Alfonso Herrera.
Não o vira mais no escritório, durante o dia. Concentrara-se tanto no trabalho que nem tivera tempo para pensar nele. Todavia, naquele momento, mesmo envolvida com a revelação das fotos, não conseguia afastá-lo da mente.
Verificou as horas. Onze e meia. Já era hora de se deitar. Além do cansaço, uma dor de cabeça começava a incomodá-la.
Tudo o que queria naquele momento era um banho relaxante e, depois, atirar-se na cama.
Deixaria as decisões importantes para o dia seguinte. Dependendo da freqüência com que teria que lidar com Alfonso Herrera no futuro, consideraria seriamente a possibilidade de demitir-se do Clarion.
Amá-lo, sabendo que deveria reprimir esse amor, seria um fardo muito grande para suportar.
Na manhã seguinte, acordou com uma terrível dor de cabeça, que a impediu de ir ao escritório. O corpo inteiro doía, os olhos ardiam e a garganta estava inflamada. Pegou o telefone, ao lado da cama. Ken ainda não chegara, mas deixaria recado na secretária eletrônica. Prometera-lhe entregar as primeiras fotos de Flame Cantrell logo cedo.
Com esforço, deixou a mensagem na secretária, esperando que ele entendesse as palavras ditas com voz muito rouca.
— Infelizmente, não poderei ir ao escritório hoje. Por favor, mande um office-boy buscar as fotos. Estarão todas prontas ao meio-dia.
Porém, no momento em que pousou novamente a cabeça no travesseiro, esqueceu-se de Ken, das fotos, de tudo.
Adormeceu. E, no sono profundo, sonhou com Alfonso, com L`lle des Coquilles, com as conchas.
Elas não são vazias, Ani. Ouça. Ouça a música do mar.
— Pare! Pare! — ela gritou. — Vá embora! Não quero ouvir! Acordou com o som de sua própria voz. Atordoada, tentando separar o sonho da realidade, ergueu a cabeça do travesseiro e ouviu.
Gemeu, apoiando-se novamente no travesseiro. Alguém batia à porta. Com força. Olhou para o relógio. Quase meio-dia! Com certeza, era o mensageiro, que viera buscar as fotos.
Umedeceu os lábios ressecados. Tentou levantar-se, mas seu corpo continuava doendo. Precisaria levantar-se para explicar ao office-boy que as fotos não estavam prontas. Depois, telefonaria a Ken, desculpando-se.
Com um esforço supremo, sentou-se na cama. Notou sua camisola úmida de suor. Apesar da transpiração e do aquecimento central, tremia de frio. Levantou-se, vestindo o robe de seda azul.
Com mãos trêmulas, abriu a porta, esquecendo-se completamente de espiar pelo olho-mágico para ver quem estava do lado de fora. Surpreendeu-se com o homem alto que a olhava ansioso. "Devo estar delirando, por causa da febre", pensou.
— Ani, o que aconteceu? — Era o mesmo Alfonso Herrera que aparecera em seu sonho. Só que, em vez de conchas, carregava na mão um guarda-chuva molhado.
Sem responder, ela sentou-se no sofá da sala de visitas. Alfonso entrou, fechando a porta.
— O que você quer? — ela murmurou, com voz quase irreconhecível.
— Por acaso, estava no escritório de Ken, quando ele ouviu sua mensagem na secretária eletrônica. Pela sua voz, achei que não estava nada bem. Queria certificar-me disso pessoalmente, então, ofereci-me para apanhar as fotos.
— Não ficaram prontas. — Anahi teve um acesso de tosse.
— Desculpe — conseguiu balbuciar, correndo para a cozinha. Tremendo, abriu o armário para pegar um copo, mas Alfonso antecipou-se a ela.
Encheu-o de água, levando-o até os lábios dela.
— Beba.
Com um gesto brusco, tirou o copo das mãos dele. Virou-se de costas, enquanto bebia a água. Sentiu as lágrimas provocadas pela tosse, escorrendo pelas faces. Antes de colocar o copo na pia, tirou um lenço de papel do bolso do robe, enxugando o rosto. Continuou de costas para Alfonso.
— Agora, por favor, vá embora — pediu. — Quero voltar para a cama.
— Tem alguém para cuidar de você?
— Posso perfeitamente cuidar de mim mesma.
— Não seja criança, Ani. Volte para a cama. Vou preparar um chá. Passei na farmácia e comprei alguns comprimidos. Aspirina, vitamina C...
Anahi sentiu os joelhos perigosamente trêmulos. Apoiou-se na pia.
— Não gosto de remédios. Por favor, não insista.
— Ani. — Segurando-a pelos ombros, obrigou-a a fitá-lo.
— Vá para a cama e, pelo menos... Meu Deus! — Sua expressão mudou. — Seu robe está encharcado! Tire-o e...
— Não preciso de ajuda! — ela esbravejou.
— Você é a mulher mais irritante da face da terra! Os lençóis também devem estar molhados. Diga-me onde guarda a roupa de cama. Vou trocar seus lençóis.