Fanfic: MULHER DE GELO - AyA - Adaptada Finalizada | Tema: AyA

O corpo inteiro de Anahi tremia. Mesmo assim, ela continuou protestando:
— Será que não conhece o significado da palavra não, Sr. Herrera? — Apesar dos olhos cheios de lágrimas, encarou-o desafiadoramente.
Fitaram-se por um longo momento. A tensão entre ambos era tão forte que parecia pesar no ar. Com um suspiro de frustração, Alfonso largou o pacote com medicamentos sobre a mesa.
— Como queira. — Afastou-se em direção à porta.
Pela primeira vez, desde que se conheceram, Anahi notou que os ombros dele não estavam eretos, nem arrogantes, mas, sim, caídos, como se Alfonso se sentisse derrotado.
Esperou até ouvir o ruído da fechadura. Com passos lentos, caminhou até a porta, trancando-a. Depois, foi até o armário, de onde tirou lençóis limpos.
De volta à cama, apesar dos lençóis secos, da camisola de flanela e de dois cobertores, ainda tremia de frio. De repente, conscientizou-se de que agira como uma tola, ao recusar a ajuda de Alfonso.
No íntimo, porém, sabia por que agira assim. Alfonso já havia roubado seu coração. Não permitiria que roubasse, também, sua alma.
A gripe forte obrigara Anahi a permanecer em repouso durante duas semanas. Ficara fraca e debilitada. Entretanto, conseguira revelar todas as fotos de Flame Cantrell, enviando-as, através de um portador, para Ken. Fora isso, não mantivera qualquer contato com o escritório. Somente no final da semana telefonara para Ken, avisando que já estava melhor e que retornaria ao trabalho na segunda-feira seguinte. No mesmo dia, ligara para Charlie.
Depois de alguns minutos de conversa, Anahi perguntou num tom casual.
— Alfonso contou sobre nossa viagem ao Caribe?
— Não o tenho visto, ultimamente. Ele tirou duas semanas de folga.
Anahi brincava com o fio do telefone.
—Você conhece a esposa dele?— Ansiosa, prendeu a respiração.
— Alfonso não é casado. Parece que ele tem uma mulher escondida em algum lugar. Comenta-se que existe uma loura na vida dele, que não reclama pelo fato de não poder vê-lo constantemente. Por isso, está em férias.
As palavras de Charlie confirmavam o que Anahi já deduzira. Alfonso Herrera apenas se divertira com ela. Nunca duvidara disso.
Talvez tivesse chegado o momento de deixar o Clarion. Ir embora de Vancouver. Procurar por um emprego no leste, novamente. Saíra de Halifax, para dar um guinada em sua vida, depois do rompimento com Derek. Em princípio, pretendera que essa mudança fosse temporária. Entretanto, apaixonara-se pela costa oeste. A mudança de estações, a paisagem maravilhosa, a proximidade da floresta, o oceano Pacífico. Seria muito doloroso deixar tudo para trás...
Ignorando o aperto no coração, decidiu que seria a melhor solução, diante das circunstâncias. Só que não pediria demissão de imediato. Não gostaria que Alfonso pensasse que sua partida tinha algo a ver com ele. Esperaria algumas semanas, antes de conversar com Ken. Talvez ele até a ajudasse a obter emprego em algum jornal de Halifax.
Apoiando o ombro na parede, olhou pela janela da sala. Seu apartamento situava-se na West Geórgia Street, próximo à entrada do Stanley Park. Da janela, podia ver Lost Lagoon. Notou que as águas brilhavam com o sol do entardecer. Abriu a porta que dava para um terraço. Apesar da neve ainda cobrir o pico do Lions, o ar estava morno, com um agradável perfume de primavera.
Num impulso, fechou a porta e correu para o quarto. Tirou um agasalho esportivo. Um corrida ao redor do Lost Lagoon seria o melhor remédio para o corpo e para a alma.
CAPÍTULO X

No domingo, Anahi já se recuperara totalmente. Tomara uma decisão. Uma decisão difícil, que lhe custara muitas horas de luta com a própria consciência, mas que lhe parecia muito justa. Pediria desculpas a Alfonso Herrera.
E seria naquele mesmo dia. Naquela tarde. Não gostaria de enfrentá-lo na manhã seguinte, com o peso de seu mau comportamento na consciência.
Alfonso mostrara-se solícito. Apressara-se em ir à sua casa, preocupara-se em comprar remédios, oferecera-se para cuidar dela. No entanto, ela fora tão teimosa, tão obstinada, que sequer lembrara-se de dizer-lhe obrigada.
E, uma vez que decidira pedir-lhe desculpas, melhor resolver o assunto imediatamente, antes que mudasse de idéia.
Aproximou-se da mesa do telefone, com as mãos úmidas pela transpiração. Respirou fundo. Não havia motivo para tanto nervosismo. Afinal, conversaria com Alfonso por telefone, não pessoalmente.
Procurou na lista o número do telefone dele. Quando o encontrou, ainda hesitante, começou a discar. Suas pulsações se aceleraram e, por um instante, teve ímpetos de desistir.
Ouviu vários toques, antes que alguém atendesse.
— Residência dos Herreras.
Anahi gelou. Voz de mulher! Macia, feminina, melodiosa. Sentiu uma pontada no estômago. Nunca lhe ocorrera que alguém que não fosse Alfonso pudesse atender o telefone.
— Alô? — A voz já não parecia tão suave. — Alô? Quem está falando?
Anahi fechou os olhos. Toda sua disposição de conversar com Alfonso e pedir-lhe desculpas dissipara-se inteiramente.
— Quem é, Laura? Para mim?
Ao ouvir a voz grave de Alfonso, ao fundo, seu coração disparou. Assustada, murmurou:
— Desculpe-me, foi engano. — Recolocou o fone no gancho, pressionando-o com toda a força, como se temesse que, de repente, Alfonso se materializasse diante dela.
Um enorme sentimento de frustração a invadiu. Frustração por, mais uma vez, ter se comportado como uma criança tola. Deveria ter pedido para chamar Alfonso e, calmamente, desculpar-se pela sua ingratidão ao recusar seu oferecimento de ajuda. Encerraria a conversa com um simpático "Vejo-o amanhã, no escritório."
Felizmente, Alfonso jamais saberia que fora ela quem ligara!
Mais tarde, decidiu correr pelo Stanley Park, para tentar espairecer. Uma hora depois, quando, com passos lentos, aproximava-se do Teahouse Restaurant, em Ferguson Point, ainda se recriminava pela sua atitude infantil. Independente do caminho que seguisse, seus pensamentos concentravam-se em Alfonso Herrera.

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