Fanfic: MULHER DE GELO - AyA - Adaptada Finalizada | Tema: AyA

Alfonso hesitou apenas por um instante. Quando Anahi o abraçou, trazendo-o para seu lado, com os lábios procurando freneticamente pelos dele, ela percebeu que o convencera.
Conseguira adiar a agonia que deveria enfrentar, ao menos até a manhã seguinte...
Recolhendo os copos de papel vazios do banco onde haviam sentado, Alfonso sugeriu:
— Agora, vamos caminhar e conversar.
Ele foi até a lixeira, onde jogou os copos e uma sacola com resíduos de comida. Suspirando, Anahi levantou-se do banco de madeira. Fora idéia de Alfonso irem de carro até West Vancouver, comprar pedaços de bolo, pães, queijo, frutas e copos com café, e fazerem o café da manhã ao ar livre.
Alfonso acordara antes dela, Quando Anahi levantou-se, enrolada num lençol, ele saía do banheiro apenas de cuecas. Alfonso estava muito à vontade, como se dormir com Anahi fosse a coisa mais natural do mundo.
— Bom dia, Ani. — Abraçou-a. O sorriso de satisfação não deixava dúvidas de que não se arrependera por ter passado a noite com ela. — Tome um banho e vista-se. A manhã está gloriosa. Pretendo levá-la para um dos meus lugares prediletos,
Beijara-a de um modo possessivo. Um beijo que pedia tudo, mas que dava tudo, também. Um beijo com o sabor de promessa. Um beijo com o significado de compromisso. Era como se, através daquele beijo, Alfonso afirmasse: "Sou teu, assim como sei que você é minha. Nós nos pertencemos. Jamais a deixarei."
Enquanto caminhavam pelo parque, em direção à beira da praia, Anahi sentia o coração apertado, os ombros pesados. Admitia que a noite anterior fora um erro. Jamais deveria ter acontecido. Ela se rendera ao desejo que a consumia, para passar uma única noite nos braços de Alfonso. Causara um dano irreparável na barreira que construíra cuidadosamente ao seu redor. E, com a barreira danificada, seu coração perdera as defesas. Se o tivesse mandado embora na noite anterior, com certeza teria se poupado de tanta agonia.
Pagara um preço muito alto por uma noite de amor.
Forçando um sorriso, segurou a mão que Alfonso lhe oferecia. De mãos dadas, seguiram para a praia.
O mar estava azul-acinzentado. Alguns barcos estavam ancorados na baía e muitos iates navegavam à distância.
Alfonso apontou na direção de uma imensa rocha.
— Olhe! Uma garça azul!
A ave voava com elegância, logo acima da superfície da água. Anahi observava distraidamente, os movimentos da ave, com o pensamento voltado para os problemas que a atormentavam.
— Ani — Alfonso interrompeu suas divagações. — Vamos caminhar até o cais, onde poderemos ficar a sós. Como lhe disse, ontem à noite, tenho algo para lhe pedir.
— Eu também tenho algo para contar. Posso falar primeiro? — Encarando-o, percebeu o olhar de adoração de Alfonso. Abalada, quase fraquejou.
— Com os cabelos soltos, parece uma deusa do mar. — Segurando uma mecha de cabelos, levou-os até os lábios, com os olhos fixos em Anahi. — Dourados, sedutores, misteriosos...
As palavras dele só tornavam as coisas mais difíceis. Queria pedir-lhe para calar-se. Mas não pediu. Apenas sorria, enlevada.
Em silêncio, caminharam até o cais. Depois, sentaram-se num banco de madeira. Alfonso a enlaçou pelos ombros. Instintivamente, Anahi se afastou. Sem protestar, ele pousou o braço nas costas do banco.
— Quero falar sobre mim e Derek — ela começou. — Sobre nosso relacionamento e por que ele rompeu o noivado.
Calmamente, Alfonso tentou impedi-la de continuar.
— Não é necessário, Ani. O que quer que tenha acontecido entre vocês, já terminou. Você não me deve explicações. Seu passado só diz respeito a você. Sei de tudo o que precisava saber a seu respeito.
— Quero contar o que aconteceu. — A voz de Anahi soou igualmente calma, porém, firme.
Alfonso, respeitando sua determinação, não a interrompeu mais.
— Conheci Derek quando eu cursava o último ano da faculdade. Ele era assistente de um dos professores. Apesar de muito mais velho do que eu, e de ser fotógrafo excepcional, interessou-se pelo meu trabalho. Decidiu me ajudar, tornando-se uma espécie de meu protetor. O que começou como uma amizade, com o tempo, transformou-se num sentimento mais sério. Começamos a namorar. — Anahi mordeu o lábio. — Apaixonei-me por ele. Pelo menos, achava que estava apaixonada. Ele me pediu em casamento, mas meus pais me aconselharam a esperar mais um ano para casar. Parecia que tinham alguma reserva contra Derek. Com relutância, concordei em esperar.
Anahi calou-se por um instante, como se para tomar fôlego.
— Não precisa continuar, Ani — Alfonso sugeriu. — Para que despertar lembranças tristes?
Ela olhou para as mãos cruzadas no colo.
— Um ano depois, mamãe e eu começamos a planejar o casamento. Entretanto, uma noite, não passei bem. Tive uma forte hemorragia. Fui hospitalizada. — Com um suspiro profundo, ela fechou os olhos. — O ginecologista detectou um tumor fibroso no meu útero. Um mioma. Benigno. Apesar disso... ele me disse que seria necessário remover o útero.
— Oh, meu Deus, Ani! — A exclamação continha tanta compaixão, tanto amor, que Anahi sentiu a garganta se apertando.
— Então, fui operada e meu útero removido. E transformara-se numa concha.
Começara a ventar. Com as mãos frias, Anahi afastou os cabelos do rosto.
— Isto significa que jamais terei filhos. — Tentou mostrar-se natural, mas suas palavras soaram tristes. — Derek não quis mais se casar comigo. Disse que queria filhos dele mesmo. Disse, também, que eu não era a mesma pessoa por quem se apaixonara, que aquela pessoa não existia mais.
Anahi surpreendeu-se por ainda encontrar forças para continuar.
— Por esse motivo, decidi concentrar todas as minhas energias na carreira que escolhi. Não sou uma "mulher de gelo", Alfonso. Apenas decidi não perder tempo com envolvimentos sentimentais.
O ruído de um hidroavião chegou até eles. Alfonso permanecia em silêncio. Envolvida por um sentimento de calma e alívio, Anahi compreendia o silêncio dele. Afinal, o que Alfonso poderia dizer?
— Poucas pessoas sabem desse fato — prosseguiu, observando as ondas quebrando na praia. — Meus pais, minha irmã Nicole e Derek, claro. Achei que deveria lhe contar.
Essa era a pior parte da história. Apesar de dor e do medo, obrigou-se a ir até o fim.
— Sei que não represento nada de especial para você, além de alguém que o faz ter forte atração física. Mas é só isso. Atração física. Porém, pensei que, se continuarmos nos vendo com freqüência... Talvez seja muita presunção de minha parte imaginar a possibilidade remota de você vir a se apaixonar por mim. Bem, jamais permitirei que homem algum se envolva comigo, Alfonso. Não quero magoar mais ninguém do modo como magoei Derek. Achei que o mais correto seria contar-lhe desde o início... enquanto somos apenas amigos.
Um longo silêncio caiu entre eles. Estático, Alfonso não movia um só músculo de seu corpo.