Fanfic: Dívida de Honra - AyA (Adaptada) FINALIZADA | Tema: AyA

Nossos quartos. Anahí sentiu o coração se apertar. Olhou para aquele homem que um dia
havia conhecido tão bem... ou que pensara conhecer. Esse homem. . . agora seu marido! Usava
um terno escuro, mais próprio para um enterro do que para um casamento. As mãos, longas e
fortes, estavam apoiadas nos braços da poltrona, tranquilas. Certamente, depois do que lhe
havia dito naquela noite, em casa dele, não pretendia. . . Anahí respirou profundamente,
procurando recuperar a calma. Estava sendo ridícula, pensou. Ele tinha deixado muito claro
quais eram suas preferências sexuais e a lembrança das palavras dele a enchia de vergonha.
Sentia-se sem graça, sem atrativos e por um breve segundo desejou ser uma mulher
sofisticada, como as que ele apreciava. Mas imediatamente afastou este pensamento. Ia
conseguir suportar essa situação. Mas com a condição de que Alfonso não a tocasse.
A aterrissagem foi tranquila e passaram sem problemas pela alfândega. Um carro já estava à
espera deles, para conduzi-los até o embarcadouro, onde uma lancha estava ancorada. Anahí
então entendeu o que Alfonso tinha dito. Subitamente, saindo da escuridão e de vielas
acanhadas, entraram numa cidade de sonho, de silêncio e de luzes. Além do suave ronronar do
motor da lancha, a cidade estava em silêncio, sob as estrelas. A água batia nos outros barcos,
chegava até velhos cais, se chocava com casas antigas de pedra, com reflexos irridescentes e
esverdeados. As casas e palácios ao longo do canal estavam iluminados, dourados,
contrastando com o céu negro. O caminho à frente era largo e claro; uma curva triunfal
conduzia até a praça e à Basílica de São Marcos, e o grande domo da igreja de Santa Maria
delia Salute, que parecia flutuar, apenas sustentado pelos anjos de pedra, reluzia iluminado
pelas luzes douradas.
Anahí se levantou no barco e a brisa suave acariciou seu rosto radiante. De repente ficou livre
de todos os temores.
— Alfonso! Que lindo!
Ele sorriu, como se estivesse se divertindo com o encantamento dela. Depois segurou em seu
braço, fazendo com que ela não olhasse só para a frente, mas também para os lados, onde os
canais estreitos, pequenas vielas de águas escuras, sumiam entre as paredes das casas
imponentes, com um ar levemente sinistro.
— Oh, Alfonso! — ela exclamou, olhando para ele. — Estou tão contente! Quero ver tudo, a
cidade toda! Podemos? Você me leva?
Ele riu e, pela primeira vez em anos, ela não teve medo dele.
Repentinamente, sentiu o calor
da mão dele sobre a sua; o barco deu uma guinada inesperada e ela foi atirada contra ele que
imediatamente a amparou. Ela ergueu o rosto para agradecer. Estavam mais perto do que
havia imaginado, e, quando seus olhares se encontraram, uma onda de emoção dominou todo
o seu corpo. Quase perdeu o fôlego, com a violência daquele sentimento, tão súbito e
inesperado. Era mais forte do que ela, como se brotasse do mais profundo de seu ser. Sentia o
corpo forte de Alfonso colado ao seu, o hálito dele contra seu rosto, a boca muito próxima da
sua.
Então a Lua foi encoberta pelas nuvens e o rosto dele ficou sombrio. Como viera, a magia se
quebrou, e Anahí se afastou, embaraçada. Imediatamente, ele a soltou.
— Estamos quase chegando — avisou Alfonso, com voz normal. Confusa, Anahí olhou na
direção que ele mostrava. A praça São Marcos surgia imponente e dos cafés vinha uma música
difusa. Mais além, viam-se os mastros dos navios maiores ancorados, e, atrás deles, o Danieli,
o hotel onde se hospedariam.
Ficava de frente para o mar. Olhou para o edifício antigo, pensando em todas as celebridades
que tinham se hospedado ali.
— Elizabeth Browning passou lá sua lua-de-mel — disse ela.
— Quem sabe teremos melhor sorte — comentou Alfonso, sorrindo, e ajudou-a a descer da
lancha e passar para o caís.

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