Fanfic: Dívida de Honra - AyA (Adaptada) FINALIZADA | Tema: AyA

O sol já estava desmanchando a leve neblina e a manha se tornava luminosa. Anahí olhou em
volta. Havia pouca gente na praça, pois estavam fora de temporada. Os famosos pombos
voavam em bandos e eventualmente pousavam, à procura de comida. À frente deles, a igreja
de São Marcos, o leão dourado brilhando ao sol, os enormes domos arredondados.
— Gosta? — perguntou Alfonso, que acompanhara seu olhar. — Eu gosto muito, mas há
pessoas que detestam. Acham que não é bastante pura e clássica.
— Eu também gosto — respondeu Anahí. — Olhe só aqueles arcos no telhado. São tão
delicados! Parecem espumas de ondas.
— Venha então — convidou-a Alfonso. — Podemos subir até o teto da basílica. A vista de lá é
magnífica.
Realmente. Anahí ficou fascinada, vendo a cidade a seus pés e, ao longe, todo o mar,
incrivelmente azul. — Ficaram ali, lado a lado, de mãos dadas, admirando aquele cenário de
sonho. Pouco a pouco, Anahí foi sentindo que não havia se enganado, quando a esperança
tomara conta de seu coração, na hora do casamento. Virou-se para Alfonso e surpreendeu-o a
observá-la com aquele mesmo ar de dúvida e sofrimento, e as palavras morreram em seus
lábios. Desceram em silêncio e voltaram à praça.
Embora caminhassem horas seguidas, Anahí não se sentiu cansada. Alfonso era o melhor dos
guias, contava mil histórias sobre os pontos mais importantes por onde passavam, mas sem
obrigá-la a seguir um itinerário rígido; deixava-a ir pelas estreitas vielas, atravessar as
pequenas pontes, bisbilhotar junto aos velhos portões cobertos de musgo. Ficava encantado
vendo o rosto radiante de Anahí, não se impacientando com suas indecisões e comentários.
Por volta do meio-dia, cruzaram o Grande Canal, no vaporetto, em direção à Accademia, e
passearam, praticamente a sós, por suas longas galerias. Chegaram finalmente diante da
madona de Bellini, a que Luke tinha se referido uma vez. Assim que viu o quadro, Anahí o
reconheceu, e parou diante dele algum tempo. A Virgem segurava no colo o Menino Jesus.
Seu rosto demonstrava interesse, mas também uma grande tranquilidade. Alfonso parou ao
lado dela.
— Acho que sei por que quis ver este quadro — disse ele.
Anahí se virou para ele, o rosto corado.
— Luke uma vez me disse que eu deveria ver este quadro — explicou ela. — Eu... talvez todas
as mulheres devessem.. .
— Talvez — concordou ele, desviando o rosto e parecendo, de repente, distante dela. Anahí
ficou apreensiva e seguiu a seu lado, mas Alfonso parecia não se interessar mais pelos
quadros. Parou somente diante de um, A Tempestade, de Giorgione, que ela sabia ser a obra
mais importante da galeria.
Era menor do que Anahí esperava, mostrando uma paisagem lúgubre, dominada por um céu
feroz e escuro, ameaçando uma terrível tempestade. Sob uma árvore estavam um homem e
uma mulher, ela com um dos seios descobertos, onde uma criança mamava. Uma angústia
inexplicável assaltou Anahí, ao apreciar aquela pintura. Havia alguma coisa desagradável, que a
deprimia, e se sentiu aliviada quando saíram de lá e voltaram para a rua.