Fanfic: Dívida de Honra - AyA (Adaptada) FINALIZADA | Tema: AyA

O quarto ficou vazio e silencioso. Anahí rememorava os últimos acontecimentos. Depois
correu para o banheiro e vomitou. Não conseguia parar de tremer, nem controlar os
pensamentos. Com muita dificuldade, tirou o vestido, que deixou jogado no chão, e se deitou
entre os lençóis macios. O quarto girava, diante de seus olhos cansados; fechou-os e o sono
tomou conta dela, imediatamente, pesado, como se ela tivesse desmaiado.
Ao acordar, pela manhã, ela se lembrou. O passado voltou, nítido, diante de seus olhos, e ela
recordou cada momento, como se estivesse vendo um filme. Cada quadro lhe era familiar;
percebeu que tudo sempre estivera em sua mente, mas que, até então, só conseguia ver
fragmentos, imagens isoladas.
Ela e Alfonso tinham voltado de um passeio pelos brejos; era de tarde. O ar estava úmido e
frio, carregado de eletricidade, com a promessa de uma tempestade. Ela estava sozinha em
casa. Alfonso tinha ido à cidade buscar a correspondência da semana; tia Constance tinha
levado Mia para uma visita numa chácara próxima. Kit tinha saído e ela não o via desde a
manhã. A casa estava silenciosa. Anahí andava tranquilamente por ela, pensando no pôr-dosol
a que assistira ao lado de Alfonso; era um belo espetáculo, o sol se pondo no loch. Eu amo
Alfonso, pensara, e, quando ficar moça, vou me casar com ele. E nunca mais conhecerei
infelicidade, falsidades e mentiras em minha vida. Foi para seu quarto, onde o vidro da janela
estava dourado pelo reflexo do sol. Deitou-se na cama, com o queixo apoiado nas mãos,
apreciando a superfície do lago, banhada por uma luminosidade intensa. Não havia brisa e a
água parecia um espelho.
Não ouviu Kit entrar; talvez ele até tivesse ficado algum tempo na soleira, observando-a. Um
sexto sentido a avisou da presença de alguém. Desde aquele tempo, ela não gostava dele;
havia algo em seu olhar que a desgostava, as mentirinhas desnecessárias a irritavam. Embora
não houvesse razão para ter medo, ela havia estremecido e ajeitado a saia, que estava
ligeiramente levantada. E Kit tinha rido. O que acontecera depois parecia ter se passado em
câmara lenta. Kit veio até a cama, pôs o braço em volta dela, de tal modo que ela não
conseguia se mexer. Ele começou a falar, falar, sem parar. Dizia coisas horríveis sobre a mãe
dela, e que tinha ficado espiando a ela e Alfonso, naquela manhã.
Depois pôs a mão na perna dela e, por baixo da saia, alisou suas coxas. Lembrava-se agora,
nitidamente, da raiva e da vergonha que sentira, e que ele, percebendo isso, tinha achado
graça. Os olhos de Kit brilhavam de um jeito estranho. Quando tentou se libertar dele,,
percebeu como era mais fraca. Foi então que ele lhe tapou a boca com a mão, obrigando-a a
se deitar na cama e pondo todo o seu peso sobre ela. Enfiou a outra mão dentro da blusa dela,
agarrando seu seio com brutalidade. O tempo todo ele falava, colando a boca em seu ouvido,
repetindo as mesmas palavras loucas, carregadas de ódio. Ódio dos próprios pais, ódio da mãe
dela, de Alfonso e dela. O ódio o excitava; mesmo em sua inocência, ela podia perceber. Ela se
retorcia debaixo dele, tentando se libertar. Foi quando Alfonso os encontrou.
Ele parou na porta, o rosto lívido, segurando nas mãos as cartas que trouxera.
E Kit tinha mentido! Com tanta facilidade! Num segundo, ele a tinha deixado, corado,
arrependido, dizendo, sem titubear, que a culpa fora dela. Ela é que o tinha trazido para o
quarto, quando ficaram sozinhos. E não era a primeira vez, ela estava sempre atrás dele. Sentia
muito, mas tinha perdido o controle. Com certeza, Alfonso compreenderia, tal mãe tal filha,
dissera ele, apontando para Anahí, que continuava deitada, incapaz de falar, mas Alfonso
bateu nele.