Fanfic: Dívida de Honra - AyA (Adaptada) FINALIZADA | Tema: AyA

Naquela mesma noite, tia Constance a chamou. Uma das cartas que Alfonso havia trazido era
da Itália e dizia que sua mãe estava gravemente doente. Anahí precisava ter coragem, para o
bem de Mia.
— O que ela tem? — perguntou Anahí.
— Leucemia. Uma doença no sangue. Terá, no máximo, seis meses de vida.
Ela não chorou. Mas uma dor de cabeça violenta começou naquele instante. Tia Constance lhe
disse para tomar uma aspirina, que ela foi buscar na cozinha, onde ficara longo tempo,
tentando chorar. Mas as lágrimas não vinham. Escutava um ruído abafado de vozes,
conversando na sala. Sabia que era tia Constance contando tudo a Alfonso. Sua cabeça doía
desesperadamente. Engoliu o comprimido e,
quando estava subindo a escada, a porta da sala se abriu e Alfonso apareceu. Ambos pararam
imediatamente, e ele falou:
— Sinto muito, Anahí... — Não sabia se ele estava se referindo à mãe ou ao que tinha
acontecido naquela tarde. Não sabia nem queria saber.
— Vou me deitar. — Ele não fez nenhum movimento para impedi-la. Mia estava quase
dormindo, mas abriu os olhos quando a irmã entrou.
— O que aconteceu? Todos estão com umas caras horríveis, Kit machucou o rosto e tia. . .
— Mamãe está doente.
— Muito doente ou só um bocadinho?
— Muito doente. — Falava com cuidado. — Vamos ter que ir visitá-la.
Os olhos de Mia se arregalaram.
— E nós vamos pegar a doença?
— Não, lógico que não. Agora, procure dormir.
— E nós vamos ver a mamãe?
— Sim, ela vai voltar para Londres, para se tratar.
— Que bom... — disse a menina, subitamente animada. — Vou gostar de ver a mamãe! Ela é
linda, tem um cheiro gostoso e roupas maravilhosas. Mas Kit disse que ela é malvada.
— Kit disse isso? — perguntou Anahí, a dor de cabeça aumentando cada vez mais.
— Disse. Outro dia, no barco. Disse que ela é má porque não mora com o papai. Porque muita
gente se apaixona por ela. — Mia sorriu. — Eu disse que isso era bobagem. E bom ter
uma porção de gente apaixonada pela gente. Quando eu crescer, quero ser igualzinha à
mamãe! Disse isso também para ele.
Anahí estremeceu.
— Agora é melhor dormir. Vamos partir logo pela manhã.
Em seu quarto, sentia um calor sufocante. Mesmo depois de abrir a janela, não conseguia
respirar direito. Seu corpo estava banhado de suor e, mesmo tendo se lavado em água fria,
aquele calor não passava nem ela se sentia limpa. Olhou-se no espelho, enquanto se lembrava
do que tinha acontecido. Tal mãe, tal filha, Kit dissera. . .
— Não é verdade — murmurou ela, desesperada. — Não sou igual a ela. Não sou!
Mas Alfonso pensava que era. Ainda agora se lembrava da expressão do rosto dele, quando Kit
dizia todas aquelas mentiras. Havia dúvida e repulsa nos olhos dele. Lembrou-se da vergonha e
do medo que a invadiram. Não conseguia chorar pela mãe. Só desejava não ser igual a ela.
Pela manhã, acordou com febre alta. O médico veio vê-la. Não podia viajar assim, tia
Constance lhe disse mais tarde. E não devia ficar sentida por não ter visto a mãe. A volta da
Itália fora demais para ela, acelerando seu fim. Mesmo que Anahí tivesse ficado boa, a mãe
provavelmente não a teria reconhecido. Mia estivera lá, junto com o pai e. . . Taddy
Herrera. . . Anahí precisava se recuperar. Ainda havia o funeral, embora tia Constance achasse
melhor que Anahí continuasse na cama e descansasse.
— Deve procurar tirar tudo isso da cabeça — aconselhou tia Constance.
— Prometo que vou tentar. — E tinha cumprido a promessa. Até agora. Até a noite da
véspera.