Fanfic: Dívida de Honra - AyA (Adaptada) FINALIZADA | Tema: AyA

O ônibus ia muito devagar. Anahí olhou o relógio e se debruçou na janela, tentando ver a rua,
mais adiante. Ainda estavam em Píccadilíy e as ruas laterais tinham sido isoladas. Carros de
polícia, com suas luzes azuis brilhando, bloqueavam as entradas. Alguém disse que tinha
havido mais um atentado em algum consulado do Oriente Médio. O centro de Londres estava
completamente paralisado. Seria melhor continuar a pé?
Mas resolveu ficar ali mesmo. Recostou-se, procurando se acalmar. Mia havia dito que
Kit estaria lá a manhã toda; portanto, ainda tinha muito tempo. Mentalmente, refez as contas:
se vendesse as últimas ações, teria o suficiente. Dentro de poucos dias, daria a Kit a quantia
em dinheiro.
Suspirou profundamente, lutando contra o nervosismo. Não sobrara quase nada e, para piorar
as coisas, havia recebido uma carta do pai, dessa vez de Roma, com as mesmas explicações, os
mesmos pedidos. Teria que mandar alguma coisa a ele também.
Seria melhor se tia Constance não tivesse deixado o dinheiro só para ela. Ainda tinha nos
ouvidos as palavras da velha tia: "Quero que saiba, Anahí, que, quando eu morrer, tudo o que
tenho será seu. Não que seja muita coisa, mas, se tiver juízo, como acho que tem, nunca há de
casar, e vai gostar de contar com essa reserva, algum dia".
Típico de tia Constance, pensou, sorrindo com tristeza. Durante a vida toda, não pudera
suportar os homens. E, pelo jeito, sua profecia ia se reaiizar. Mas não tinha feito seu pé-demeia.
Com o dinheiro, havia comprado passagens de avião para o pai e pagado a educação de
Mia. E, agora, o que ia comprar? Uma proteção imoral para um ato criminoso da irmã,
pensou, amarga.
O ônibus voltou a andar e uma sensação de pânico a assaltou. Tinha que resolver tudo logo,
porque, se o caso chegasse aos ouvidos de Alfonso. ..
De repente, surgindo do nada, veio à sua mente uma cena de sua meninice: Kit, muito corado,
tentava lhe explicar alguma coisa, não se lembrava bem o que. . . Só se lembrava de Kit, que
apontava para ela, encolhida e apavorada, sem conseguir falar uma palavra, e de Alfonso,
lívido de cólera. Desde aquela época, Alfonso odiava mentiras; se ele descobrisse o desfalque,
tudo estaria perdido.
Suas mãos tremiam, quando empurrou as pesadas portas de mogno que conhecia tão bem
desde a infância. Parou no saguão, olhando em volta, Tudo estava exatamente igual, nada
havia mudado naqueles dez anos em que evitara ir até ali. As fotos dos fundadores nas
paredes; o sr. Kennedy, morto há muito tempo, e o velho sr. Herrera, fotografado quando
tinha pouco mais de trinta anos. Parou. A mesa da recepcionista ficava na saleta à esquerda.
Se fosse rápida. . .
Passou silenciosamente pelo saguão e chegou à escada. Teve sorte: a recepcionista estava
distraída, lendo uma revista, e nem levantou os olhos. Anahí subiu a escada sem fazer barulho.
No primeiro patamar, parou, procurando se lembrar bem das instruções de Mia. Sim, lá
estava o corredor que levava aos escritórios. De lá, vinha o som abafado das máquinas de
escrever. Devia ser a última porta.
Prendeu a respiração, tentando controlar o pânico. O tapete abafava seus passos e, quando
chegou à porta, não se permitiu hesitar. Bateu de leve, girou a maçaneta e entrou.