Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

CAPÍTULO 02

Estava sentada no carro em frente ao estúdio, um edifício de tijolo no centro de Boston. Tinha
os dedos agarrados com força ao volante. Baixei a cabeça e, depois de chafurdar na autocompaixão
durante um par de minutos, soltei o volante e agarrei minha bolsa. Arrastei-me
fora do carro, desejando que meu desgosto fosse óbvio.
O estúdio do Alfonso Herrera ocupava todo o segundo andar do edifício de três andares. O
piso superior era seu apartamento, mas havia rumores que apenas um par de pessoas
conseguiu um convite para entrar em seu espaço pessoal. Não conhecia ninguém conseguiu
estar tão perto do exclusivo senhor Herrera. O primeiro andar albergava uma exposição
permanente, e uma pequena galeria das mais famosas da área.
Abri a porta e entrei.
Alfonso estava falando com uma cliente em frente a uma enorme escultura de carvalho
representando duas figuras femininas. A pose era íntima e sensual, de um modo fazia com que
meu estômago se esticasse. A cliente estava passando as mãos pela suave e sedutora escultura
de madeira como se não pudesse evitar fazê-lo. Sabia que não partiria sem adquiri-la; só vê-la
acariciar a escultura fazia que eu mesma quisesse comprá-la. Envergonhada, recordei o buraco
deixado em minhas economias pela compra de um de seus trabalhos uns seis meses antes, em
um leilão.
A fascinação da mulher por aquela peça me incomodava, virei para jogar uma olhada ao resto
da galeria. Uma gigantesca escultura de pedra dominava o espaço; estava marcada como
VENDIDA. As linhas da figura feminina eram suaves e apaixonadas. Perguntei quem Alfonso
usou como modelo para aquele trabalho, e se ela seguia ainda em sua vida.
Escutei um murmúrio de vozes e passos no chão de madeira, e depois o tinido dos diminutos
sinos sobre a porta, indicando que a cliente partiu. Olhei o Alfonso e vi como fechava a porta, e
as persianas. Estávamos sozinhos.
— Parece preocupada, Anahí.
Limpei a garganta. — Senhor Herrera, eu gostaria de falar com você sobre a possibilidade de
proporcionar outra modelo.
— Só pode ser você. — Caminhou até a escada e desenganchou a corrente que sustentava o
sinal de PRIVADO. A corrente golpeou a parede brevemente, mas ressoou de forma
inquietante através da galeria vazia. — Meu estúdio é subindo as escadas.
— Por que eu?
— Possivelmente porque é impressionantemente bela.
— Possivelmente isso não seja suficiente. — Fiquei quieta, contendo a necessidade de passar
os dedos pelo cabelo. Odiava ficar nervosa.
— Você me inspira.
Bem, que diabos eu poderia dizer depois disso? Eu o inspirava, uma sensação de enjôo e
delícia feminina me atravessou, golpeou meu ego e pressionou meus lábios. Tinha deixado
sem palavras, e sabia que isso era exatamente o que Alfonso pretendia.
O que queria de mim? Lutando contra a necessidade de sair correndo dali, passei junto a ele e
subi as escadas. Alfonso Herrera parecia muito para mim. Eu abandonei todo desejo prévio de
desafiá-lo. Em seu estúdio, sobre uma lona, havia um bloco de alabastro de grande tamanho.
Frente ao alabastro havia uma plataforma baixa coberta com outra parte de lona. Girei para as
escadas, e o olhei. Estava no último degrau, me olhando.
— Começamos? — Eu tinha perguntado isso, de verdade?
Ele sorriu ante minha pergunta, divertido, suponho que pela voz de apito saída de minha boca.
— Sim, acredito que deveríamos.