Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

O trajeto para a casa de Lisa Millhouse foi relaxante. Ela mora a quarenta e cinco minutos de
Boston. Lisa trabalhou muito com bronze e ferro, numa época que pouco se interessavam com
uma mulher de maçarico. Depois começou a trabalhar com madeira e plástico. Eu estava feliz
por conseguir assinar com a galeria.
Lisa estava no alpendre com uma xícara de café na mão quando entrei na sua garagem. A
primeira vez que a vi estava atrás do cano de uma pistola de paintball. Demorei três semanas
em ganhar sua confiança, e ainda me olhava com um pouco de apreensão. Mas, como
aparentemente via todo mundo desse modo, não tomava como algo pessoal.
Seu trabalho era provocante e sensual de um modo que resultava quase violento. Em sua
paixão não havia tranquilidade. Tirei o projeto de sua nova exposição do assento do carro e a
saudei com a mão. Assentiu brevemente em minha direção e voltou para o interior da casa.
Entrei e encontrei-a na cozinha, me servindo uma xícara de café. Aceitei-a e coloquei o tubo do
projeto na mesa de sua cozinha.
— Tem cara de não ter dormido.
Lisa encolheu de ombros e sentou à mesa.
— Os sonhos são piores no verão. Não sei por quê.
Além de seu truculento divórcio, sabia muito pouco sobre ela. Mas sabia tudo sobre os sonhos,
ao menos sobre os meus. Perguntei se seus sonhos a adoeciam de raiva e medo, vagaria por
sua casa verificando janelas e portas? Lisa era um mistério em muitos sentidos, e uma parte de
mim queria tirar toda a dor e jogá-la longe dela. Mesmo assim, sabia que algumas pessoas
usam a dor como combustível. Como combustível para a paixão, a raiva, e a vida. O que seria
da Lisa sem sua dor?
Sentei e tirei os planos do projeto do tubo.
— Tenho à equipe de construtores esperando para começar a trabalhar no espaço da
exposição. Queria assegurar de que você gosta de tudo, antes de começar.
Inclinou sobre os planos e os estudou cuidadosamente. Depois de um par de minutos,
assentiu.
— É bom. Eu gosto do modo no qual flui o espaço... — Fez uma pausa, e depois assentiu. —
Tenho uma peça que é perfeita para o centro. Será a obra mais importante da exposição.
— Perfeito. — Encostei na cadeira e franzi o cenho ante o café dado. — Deveria saber que
Milton decidiu te usar contra mim.
— A política trabalhista empresta. — Sentou. — Estou contente contigo e com a galeria
Holman. E estou disposta a colaborar no que seja que tenha que fazer nos próximos meses
para te assegurar seu posto de trabalho.
— Agradeço-lhe isso.
— Mas não posso te prometer que não vá brincar.
— Sei.
— Além disso, é divertido contrariar um tipo como Milton Storey. — Sorriu de orelha a orelha,
e estalou a língua. - Suponho que vou ter que comprar mais munição para minha pistola de
paintball.
— Que Deus nos ajude. — Sorri atrás de minha xícara de café. Não ia a animar a atuar, mas
tampouco ia dizer-lhe o que tinha que fazer.
— Inteirei que está posando para o Alfonso Herrera.
Merda. Esperava poder evitar falar dele.
— Sim, como o soube?
— Chamou-me esta manhã, por um carregamento de pau-rosa que compramos juntos a
semana passada. Shame é tão amável que avisa quando os entregadores vão passar por aqui.
— Olhou e riu. — É muito atraente, não acha?
— Suponho. — Encolhi os ombros. Alfonso era tão bonito como pode chegar a ser um homem,
e ela sabia.
— Além disso, tem muito talento. Há poucos artistas que possam captar a essência de alguém
como você, Anahí. Morro de vontade de ver o resultado.
— Sua exposição inaugurará três semanas depois da tua, e ocupará todo o piso superior da ala
norte. — Lisa levantou, aproximou da cafeteira e preencheu sua xícara. — Posso fazer algo
mais por você?
— Não, vou dormir finalmente. Quer ver o que fiz até agora com a peça principal da
exposição?
Levantei e assenti.
— É obvio.