Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

— Então você não está interessado em mim a nível pessoal.
— Eu não disse isso. — Sorriu, e senti como se tivesse levado um murro na boca. — Já sabe
que é bonita.
— Já disse isso antes. — Pegando um garfo espetei um pedaço de frango. — Quando era mais
jovem, a atenção dos homens me fazia sentir muito incômoda. Não é que tenha desejado ser
feia, mas freqüentemente sentia frustrada porque nunca pareciam capazes de ver além de
meu rosto.
— E o que há além desse precioso e encantador rosto?
— Sou licenciada em Administração e em História da Arte. Se tudo sair bem, serei a diretora da
galeria Holman em agosto deste ano. Sou filha única de uns decepcionados pais que nunca
imaginaram que sua filha resultaria ser tão diferente deles. — Abri a garrafa de água que tinha
colocado para mim, e tomei um gole.
— Seus pais se sentem decepcionados contigo de verdade, ou é algo que você imagina?
Rindo, não pude evitar encolher os ombros.
— Bem, é óbvio que não sou o que imaginaram que seria. Se tivessem dado conta de que eu
nunca compartilharia sua insana necessidade de aceitação social, teriam tido outro filho. Não
compreendem por que escolhi trabalhar, como posso viver fora de Nova Iorque, e por que não
caso com algum homenzinho curto de idéias de minha classe social, e lhes dou um neto.
— Não há nenhum homem em sua vida?
Deixei cair o olhar até minha comida.
— Não.
— Me conte por que escolheu estar sozinha.
— Não acha que vou despir minha alma só porque conseguiu me pôr entre a parede e a
espada.
— Quer que te diga o que eu vejo, Anahí?
— Não. — O olhei. — Me dá a impressão de que vai dizer isso de qualquer maneira.
Riu e apoiou o queixo sobre sua mão enquanto olhava meu rosto.
— Vejo uma mulher que se esforça muito por parecer feliz, ao invés de esforçar-se para ser
feliz. A primeira vez que te vi, pareceu uma mulher que tinha o controle de seu mundo. Isso foi
há mais de dois anos atrás, quando trabalhava em Nova Iorque. O que aconteceu lá, que te
transformou?
— Não recordo haver te visto em Nova Iorque. — Certamente era algo que lembraria.
— Não, nunca nos apresentaram. Embora temos um amigo em comum, Edward Morrison. —
Fez uma pequena pausa. — Por que deixou Nova Iorque?
— Dava-me conta de que eu não gostava de trabalhar em um museu. Descobrir um artista é
muito mais excitante que proteger o trabalho dos mortos. A vida é para os vivos. Os museus
estão dedicados ao passado. — Havia dito aquelas mesmas palavras mais de vinte vezes desde
que tinha chegado a Boston, e ainda não soavam convincentes. Mas como não podia ir
contando a todo mundo que tinha fugido de Nova Iorque porque tinha medo do Jeff King, isso
era a única coisa que poderia dizer.
— Há algo mais.
Olhei-o nos olhos.
— Está pressionando senhor Herrera, e eu não gosto.
Inclinou para trás em sua cadeira.
— Quando te vi a primeira vez dava por certo que não era loira natural.
Seu aviso de quão íntima tinha sido nossa situação a noite anterior foi como uma jarra de água
fria. Empurrando meu prato, levantei.
— Terminei.
Levantou, caminhou até a poltrona vermelha, e me olhou. — Então vem aqui.

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