Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

A viagem até sua casa de campo pareceu durar cem anos. Quando entrei na garagem, o medo
esticou meu estômago. Todas as luzes da velha casa estavam acesas. Estacionei o carro e saí
rapidamente. A porta dianteira estava totalmente aberta, e quando entrei descobri que Lisa
estava sentada no sofá, com uma arma no colo.
Algo me disse que não era sua pistola de pintura.
— Lisa.
Girou e deixou a arma de lado.
— Anahí.
Entrei. Para sentir mais cômoda, fechei a porta e tranquei.
— O que acontece?
Lisa agarrou uma garrafa de vodca que eu não tinha visto antes, e tomou um gole comprido.
— O filho de puta do meu ex-marido.
Aproximei do sofá, agarrei a arma e, com ignorantes embora cuidadosas mãos, caminhei até o
extremo oposto da sala e a coloquei sobre a mesa.
— Ouvi isso frequentemente sobre os ex-maridos. Alegro de não ter um.
— Telefonou-me — Sussurrou como se parte dela ainda não pudesse acreditar que tivesse
ocorrido.
— O bastardo.
— Exatamente! — Abraçou a garrafa contra seu peito.
— Quanto tempo andou bebendo?
— Uns dois minutos.
— Então, não está bêbada?
— Oh, Anahí. — Suspirou. — Estou bêbada em muitos sentidos. Estou bêbada de
arrependimento e raiva por haver dado a esse homem tantos anos de minha vida. Estou
bêbada de desespero... do desespero que levei comigo desde a primeira vez que me bateu.
— Seu casamento terminou faz anos.
— Meu casamento terminou naquele dia. Naquele dia, hoje.
— O que? — Girei e a olhei franzindo o cenho. — Está segura de que não está bêbada?
Levantou a garrafa de vodca, estava quase cheia, e tomou um gole comprido.
— Hoje é o décimo aniversário da morte da minha dignidade e de meu casamento.
— Não o entendo.
— Hoje é o aniversário da primeira vez que meu marido me bateu. Da primeira vez que deixei
fazê-lo.
Estendi a mão e agarrei a garrafa. A vodca entrou em contato com minha língua com força.
— Ok, este dia, oficialmente, não presta.
— Sempre havia dito que uma mulher que fica com um homem que lhe bate é patética.
Prometi a mim mesma que nunca seria essa mulher.
— Você o amava. — Dava outro gole antes que ela agarrasse a garrafa. Supus que o
necessitava, assim não protestei.
— Sim, queria-o. Amava-o, pensava que podia mudá-lo. De verdade pensava que poderia fazer
compreender quanto eu amava que daria certo.
— Então o que se passa com a arma?
— Pensei que poderia vir aqui.
— Porque ele ligou?
— Neguei a aceitar os últimos dois cheques da pensão. — Apertou os lábios. — Não podia
seguir vivendo com seu dinheiro e, com a exposição perto, imaginei que não tinha que fazê-lo.
— Dentro de um par de semanas será uma mulher muito rica.
— Sim, já recebi algumas ofertas. — Riu e encolheu os ombros. — Disse que contatassem
você.
— Alguns já o têm feito. Então, queria saber por que tinha rechaçado seus cheques?
— Sim. — Franziu o cenho e suspirou. — E eu, que sou uma idiota, o disse.
— Queria gabar-se um pouco.
— Merda. — Lisa deixou a garrafa e levantou. — Inferno, sim, queria me gabar. Aquele
bastardo me teve sob seu punho durante anos. Não podia trabalhar, assim nunca tive dinheiro
para partir.
— Não podia trabalhar?
— Sabotava cada trabalho que aceitava. Ter amigos era impossível. E um dia me descobri no
banheiro de sua casa com um teste de gravidez na mão.
— Estava grávida?
— Não. — Negou com a cabeça. — Foi somente um susto. Depois do primeiro ano de nosso
matrimônio, dava-me conta de que não queria ter meninos. Comprava pílulas com o que
sobrava do dinheiro da compra e das faturas da casa. Ele não tinha nem idéia.
— Ele queria ter filhos.
— Queria outro modo de me atar a sua vida. — Fez um gesto, assinalando a cozinha. — Tenho
alguns copos de bebida.
Segui-a até a cozinha e sentei frente a ela enquanto servia um generoso copo.
— Levava muito tempo sem beber licores fortes.
Lisa riu.
— Sim, tem cara de ser das que preferem o vinho.
Agarrei o copo com ambas as mãos.