Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

Quando a secretária de Lesley fechou a porta a minhas costas, sentei na cadeira reclinável e
apertei minha bolsa contra meu peito. Era como se tivesse ocorrido no dia anterior. Como se
nunca tivesse partido de Nova Iorque. Inalei profundamente e fechei os olhos, Jeff King
invadindo meu mundo, somente vindo a Boston. Odiava-o por isso. Em realidade, odiava-o por
um montão de razões, mas no momento o odiava por poder vir a Boston.
— Normalmente te deixo sentar aí até que esteja pronta para falar.
Abri os olhos e a olhei. Parecia preocupada, o que me surpreendeu. Lesley Price tinha sido
muito boa escondendo sua expressão, até agora. Inclusive quando os detalhes do meu estupro
apareceram, ficou sentada na cadeira sem mostrar nenhuma emoção em seu rosto.
— Jeff King vai vir à galeria, e a meu escritório, dentro de duas horas e meia. — Odiava
inclusive dizê-lo. Mas mais que isso, odiava o modo em que o medo saturava minha voz. —
Pensei ter superado isto, mas quando percebi que ele estaria na reunião, me revolveram as
tripas. Estou destroçada.
— Não é estranho que uma mulher siga temendo a presença do homem que abusou dela
inclusive anos depois do ocorrido. Tem todo o direito a esperar que ele não apareça em seu
mundo. Infelizmente, como escolheu não apresentar queixa contra ele, essa esperança é um
pouco mais difícil de fazer realidade. Ainda segue te ligando? — Pressionou os lábios formando
uma fina linha, como se queria dizer algo mais.
— Sim. — Assenti. — Estive recebendo chamadas perdidas. Não estou segura de que sejam
dele. Entretanto, o bastardo chamou meu celular para conversar um pouco. Pediu que me
encontrasse com ele. Neguei e desliguei.
— Disse que se sente destroçada. — Recordou Lesley com voz suave.
— Como me senti aquela noite quando estava no chão do escritório, onde ele me deixou. Não
podia levantar, não podia pedir ajuda. — Pressionei os dedos com força contra meus lábios
para evitar que tremessem. Não podia fazer nada exceto ficar ali atirada, como ele havia me
deixado.
— Mas não ficou ali. Levantou-se Anahí. Levantou-se, e construiu uma vida aqui em Boston,
que te faz feliz.
— Sim.
— Jeff King não pode te tirar isso. Pode tentá-lo. É possível que veja seu êxito aqui como uma
ofensa. Foi o suficientemente forte para superar o que te fez, e isso poderia fazer que se
enfurecesse.
— Não importa o que ele pensa. — Tentei relaxar e, lentamente, pus minha bolsa no chão
junto à poltrona. — Não pode me importar.
— Goste você ou não, Anahí, esse homem deixou rastro em sua mente. O fato é que
possivelmente não haja um dia no qual não pense nele. Esconder a ele e a suas ações, ao
fundo da mente, não é uma boa coisa.
— Funciona para mim. — Franzi o cenho. — Não. Isso é mentira. Não funciona, maldição. —
Cruzei os braços e a olhei. — Estou vindo à terapia há quase um ano. Deveria ser capaz de
confrontar isto.
— Fui cristã durante quarenta e dois anos, e posso te dizer com toda segurança que não estou
preparada para o fim do mundo.
— O que isto significa? — Perguntei, franzindo o cenho.
— Significa Anahí, que pode te preparar para algo durante toda sua vida, e mesmo assim pode
se surpreender. A vida não é previsível, e tentar controlá-la somente pode te conduzir à
loucura.
— E deveria tomar cada dia como vier. — Ela me havia dito isso um par de vezes. Não era um
conselho que tivesse levado a cabo nunca. — Ontem à noite me deitei com o Alfonso Herrera.
— Bem. — Encostou-se a cadeira, e me observou. — Arrepende-se, ou sente medo?
— Não, por nada. Sinto-me muito confortável e segura com ele. Relaxei um pouco, aliviada
porque aceitou minha súbita mudança de tema.
— Acredita que se precipitou?
— Eu gostaria de dizer que sim, porque parece que seria o apropriado. — Encolhi de ombros,
suspirei, e depois estalei a língua.