Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

CAPÍTULO 09

Tinha passado a noite com o Poncho, resultando tive que cruzar a cidade como uma louca até
meu apartamento para tomar banho e trocar de roupa antes de ir trabalhar. Cheguei vinte
minutos atrasada, o que era novidade. Entrei na galeria e subi as escadas que conduziam aos
escritórios privados sem jogar nenhum só olhar ao redor. Como esperava, Jane estava em sua
mesa. Ofereceu-me um tenso sorriso enquanto levantava, agarrou várias pastas e se preparou
para me seguir a meu escritório.
Minha agenda para o dia estava cheia; não esperava poder descansar até depois do termino
do contrato de Milton. Aproveitava qualquer oportunidade para chatear nosso trabalho, e se a
diretoria não o tinha despedido ainda devia a cláusula de indenização generosa em caso de
rescisão do contrato. Podia ser um pouco rude, mas também tinha seus momentos brilhantes.
Mesmo assim, até que se fosse, tinha que fazer o que a diretoria esperava de mim, embora
sem queimar minhas pontes com o Milton. Ele tinha seu círculo de amigos e, já que alguns
deles gastavam obscenas quantidades de dinheiro na galeria, não podia permitir me distanciar
dele totalmente.
— Quem é o primeiro? — Perguntei a Jane.
— Um desastre absoluto.
Olhei a Jane, alarmada.
— Uma boa afirmação antes do almoço, o que acontece?
Mordeu o lábio e sentou em sua cadeira favorita. Cruzou as pernas e me olhou com o rosto
muito sério.
— Lisa Millhouse fez com que prendessem Sarah ontem a tarde, por invasão.
Soprei enquanto tentava me manter seria.
— Meteram-na no cárcere?
Jane olhou pela janela e parecia estar mordendo o interior da bochecha. Limpou a garganta.
— Sim. Lisa retirou a queixa, mas há uma ordem de restrição.
— Oh, meu Deus. — Olhei o teto, e depois a área de trabalho. A mesa de Sarah estava vazia e
limpa. — Demitiu?
Jane suspirou.
— Sim. Deu um chilique e recolheu todas suas coisas.
— Um chilique? — Perguntei em voz baixa.
— Sim, mais que um piti e menos que um episódio psicótico.
— Eu adoro quando usa essas expressões.
Jane riu e encolheu os ombros. Sabia que tinha passado vários anos aprendendo a mascarar
seu sotaque, quase tinha eliminado todos seus rasgos de origem. Era uma pena, mas eu sabia
por que. O mundo da arte já é muito difícil para uma mulher, sem ter que acrescentar "do sul"
à mescla. Justo ou não, há muita gente por aí que pensa que as pessoas do sul são estúpidas,
ou ao menos, tão pouco sofisticadas que não seriam capazes de trabalhar no mundo da arte.
— Onde está Milton?
— Ao telefone com James Brooks, insistindo que a galeria corte sua relação com a Lisa.
Citando-o, "É uma bruxa incivilizada".
Olhei meu telefone e, depois de um momento, suspirei.
— Que mais poderia sair mal hoje?
— Guardei as piores notícias para o final.
Olhei-a fixamente, consciente de que agora falava a sério.
— Fale.
— Ainda está aqui.
Não tive que perguntar a quem se referia.
— Entendo.
— Tem uma reunião com o senhor Storey às dez, esta manhã. A secretária do Storey me
contou que vai oferecer lhe um trabalho.
— De que?
— Storey convocou uma reunião com a diretoria. Vai sugerir que Jeff King ocupe seu posto. —
Sabe que esse é meu trabalho.
— Storey disse à diretoria que você é a responsável pela situação com a Lisa Millhouse, e da
detenção de Sarah. Entregou um relatório sugerindo que atribuiu a conta da Lisa para te
liberar dela, e que conspirou com a artista para lhe desacreditar.
— Se eu atribuí a Sarah a conta, como poderia desacreditar a ele? —perguntei tranquilamente,
embora estivesse em ponto de ebulição.
— Não tenho nem idéia.
Quando a olhei, Jane estava desabada sobre a cadeira. Tirei o cabelo dos ombros e o recolhi
com minhas mãos para manter ocupadas. Depois de um momento, deixei cair o cabelo e levei
as mãos ao colo.
— Jeff está ainda aqui?
— Sim, a segurança o escoltou até a sala de reuniões. — Sorriu enquanto o dizia.
O prazer que provocava chatear ao Jeff divertia, mas não tinha suficiente energia para rir. No
dia anterior tinha sido duro, mas tinha podido suportá-lo porque sabia que iria logo. Suponho
que Milton se deu conta de quão tensa tinha estado com o Jeff durante a reunião, e que por
isso o havia convidado de novo.
— Milton é um bastardo.
— Sim.
— Não vou sair fugindo, de nenhum desses dois canalhas. Quando chegará James?
— O senhor Brooks me escreveu um email no qual pedia que assegurasse de que você estaria
presente na reunião. Tem meia hora para te preparar.
Incorporei.
— Tudo bem, me deixe sozinha um momento.
Não olhei para trás, mas escutei que a porta fechava brandamente. Jane era uma pessoa única,
ousada e corajosa quando menos se esperava, e malditamente atenta e doce no minuto
seguinte. Valorizei-a como amiga muito antes de haver me dado conta sequer de que o era de
verdade.