Fanfic: Dispa-se Para Mim (FINALIZADA) | Tema: AyA

— Está segura de que quer ir para casa?
Ri e soltei a mão do Poncho enquanto descíamos as escadas e entrávamos na galeria.
Reposicionei a bolsa e assenti.
— Sim, tenho que me ocupar de algumas coisas, e preparar a reunião com o Samuel
Castlemen. Estará aqui pela manhã.
Poncho me aproximou dele e agarrou meu rosto com suas mãos. Sua boca era suave e tenra.
Poderia perder-me nela com facilidade, mas depois de um momento separei e saí pela porta,
para a noite. Joguei uma olhada por cima de meu ombro, sorri-lhe e entrei no carro. Não
fechou a porta até que estive no carro com as portas fechadas.
Passei a maior parte da viagem de volta a meu apartamento me arrependendo de não transar
com ele antes de partir. Em meu apartamento, encontrei um serviço de manutenção do
edifício. Tinham arrumado minha porta e substituído minha corrente com uma muito mais
forte. Depois de entrar em meu apartamento e fechar por dentro, fui até minha secretária
eletrônica, por costume, e apertei o botão.
Havia uma mensagem de minha mãe. Suspirei e a escutei falar de suas compras recentes. Não
deixou de tagarelar até que minha secretária eletrônica a cortou.
— Assim se quer vir só tem que me ligar, e te mostrarei meu novo chapéu... É de cor púrpura
intensa e tem...
Na secretária eletrônica soou um clique, e agitei a cabeça. Não podia imaginar o que havia em
cima daquele chapéu, e uma parte de mim não queria descobrir. Apartei o cabelo enquanto
começava a seguinte mensagem. Escutou-se um sonoro suspiro, e olhei a secretária eletrônica,
esperando que Lisa continuasse. Era a única que suspirava na secretária eletrônica.
— Anahí, me ligue quando puder. Já tenho pronta a última obra para a galeria, e estou
cavando um buraco para um corpo. Diga a esse imbecil do Brooks que fique em Boston, ou
acabará nessa fossa.
Esfreguei a cara e sentei, debatendo entre rir ou chorar. Deus, odiava a hostilidade que Lisa
sentia pelos homens. Odiava-a, entendia-a, e queria desesperadamente ajudá-la a curar-se.
Instintivamente, compreendia que o passado da Lisa tinha sido horrível, e não queria conhecer
todos os detalhes. Entretanto, como amiga dela, acreditava na responsabilidade de ajudá-la
com sua nova vida.
A terceira mensagem começou.
— Ei, Anahí. É Jane. Olhe, quando cheguei em casa esta tarde Jeff King estava me esperando
em minha porta. Já se foi.
Escutei como se detinha a secretária eletrônica enquanto abria a porta e punha
apressadamente um par de sapatilhas que encontrei na entrada. Uma vez dentro do carro,
obriguei-me a acalmar e concentrar em conduzir. Jane só morava a dez minutos de carro da
minha casa, mas foram os dez minutos mais compridos da minha vida. Odiava pensar que ele
podia estar perto de Jane.
Sua risada e despreocupado sorriso me pareceram muito frágeis nesse momento. Estacionei
frente a seu edifício e corri ao interior como se o diabo estivesse a minhas costas.
Seu apartamento estava no primeiro andar; chamei a sua porta e depois apertei a campainha.
— Jane?
Ouviu-se a fechadura, e Jane abriu a porta. Por um momento, limitei a olhá-la. Levava uma
camisola no qual punha FODA-SE, NÃO PEDI SUA OPINIÃO. Fez um gesto para que passasse, e
seus chinelos de ficar em casa com forma de bebê foca agitaram enquanto se separava da
porta.
— Não tinha visto uns chinelos rosa como esses desde... bem, desde fazia muitíssimo tempo.
Jogou-me um olhar e bocejou.
— O que acontece, Anahí?
Traguei saliva e agitei a cabeça.
— Jeff esteve aqui?
— Sim. — Espreguiçou e sentou no sofá. — Não sei o que queria.
— Como conseguiu que fosse embora?
Jane soprou.
— Apontei-o com minha 9mm.
Sentei com a boca totalmente aberta, senti aliviada quando minha bunda conectou com a
cadeira.
— Tem uma arma?
— Sim. — Encolheu de ombros. — Meu pai e meus irmãos são policiais. De fato, eu estive na
academia e me graduei.
— Poderia ser policial?
— Não, é por isso que visto roupas caras e olho coisas bonitas todo o dia. Não poderia ser
policial. — Deitou no sofá. — Anahí, você me acordou de um sono profundo. — Bocejando de
novo, olhou-me. — O que acontece?
— Que Jeff veio aqui.
Jane sentou bruscamente.
— Estava preocupada comigo?
Assenti e depois neguei com a cabeça.
— Sim. Estava preocupada. Pensava que te fez mal, ou que poderia fazer. Seria minha culpa,
Jane. Se te fizesse mal. — Respirei profundamente.
Levantei e lhe dei as costas. O suspiro se converteu em um soluço. Não dava conta de que Jane
tinha abandonado o sofá até que seus braços me rodearam e abraçou com força. Aceitei seu
abraço e deixei que me guiasse de volta à poltrona.
— Todo este tempo considerei que o que tinha me passado era pessoal.
— Foi.
— Sim. — Assenti. — Mas era algo mais. Como pude pensar que seu castigo era menos
importante que minha dignidade? — Minha pergunta só recebeu silêncio como resposta. —
Em meu interior sabia que tinha que fazer um esforço para proteger as outras mulheres dele.
Ao menos, se o etiquetassem como agressor sexual, seria algo.
— É muito tarde?
Neguei com a cabeça.
— Não acredito que seja. — A olhei, e vi preocupação em seu rosto. —Sinto muito, Jane. Sinto
que te veja exposta a ele, e que ele pensasse que podia vir aqui e te ameaçar porque não pode
chegar até mim.
— Chegou até você. — Jane levantou e se afastou de mim. — No momento no qual deixei
aquela mensagem em sua secretária eletrônica dei conta de que tinha feito exatamente o que
Jeff esperava. Não tinha vindo me fazer dano, Anahí; somente estava usando a mim, e a seu
carinho por mim, como uma arma.
Tinha sido efetivo. Olhei a Jane, vi seu controle e presente atitude de posso-com-tudo, e soube
que já não podia permitir o luxo de esconder atrás da minha dignidade. Havia outras mulheres
em alguma parte; poderiam ficar no caminho do Jeff King, e ele lhes faria mal se eu não fizesse
nada para impedi-lo.
Levantei.
— Tenho que ir.
— Anahí?
Olhei-a.
— Não posso seguir guardando isto durante mais tempo.
Não seguiu imediatamente, assim esperei do lado de fora do apartamento até escutar que trancava a porta.