Fanfic: Casada com um estranho - ( Vondy e um pouquinho de Ponny) | Tema: Vondy

No jardim de lady Marley, Dulce e Alfonso observavam lady Susannah conversando com outros convidados.

— Ela é perfeita — Alfonso murmurou.

— Perfeita demais, se você me perguntar.

—Mas eu não perguntei — Herrera respondeu. No íntimo, porém, concordava com o comentário de Dulce. Lady Susannah era imponente, serena e bonita, e, embora eles tivessem conver­sado poucas vezes, ela o fazia lembrar-se de uma estátua am­bulante.

— Alfonso, você se imagina sendo amigo dela?

— Amigo?

— Sim, amigo. Vocês terão que viver juntos, dormir juntos ocasionalmente, discutir assuntos referentes aos filhos e à casa. Essas coisas são mais fáceis de resolver quando há amizade entre o casal.

— É o que você e Chris são? Amigos?

— Bem... — Dulce franziu o cenho. — No passado, éramos muito amigos. — Ela enrubesceu, surpreendendo o irmão.

— Muito amigos?

— Sim. — De repente, Dulce parecia muito distante. — Na verdade, ele era um amigo muito querido.

— E agora? — Não pela primeira vez, Alfonso perguntava-se que tipo de acordo existia entre a irmã e seu segundo marido. Antes, sempre aparentavam ser felizes juntos, rindo e trocando olhares eloqüentes, demonstrando conhecerem-se muito bem. Quaisquer que fossem as razões de procurarem sexo com outros parceiros, certamente, não era por falta de afeto de ambas as partes. — Os rumores sugerem que logo o casamento de vocês será mais... tradicional.

— Não quero um casamento tradicional! Alfonso ergueu as mãos.

— Calma, não precisa se irritar!

— Quer saber? Vou fazer um prato para mim. Não como desde o jantar de ontem.

— Boa idéia. Eu a acompanho.

— Não é necessário espere-me aqui.

Dulce se afastou em direção ao bufê. Alfonso tirou o relógio do bolso, perguntando-se até quando teria de suportar aquela reu­nião aborrecida.

Eram apenas três horas. Fechou a tampa do relógio e bufou.

— Não é de bom-tom parecer ansioso para ir embora.

— O que disse? — Alfonso olhou ao redor, procurando a dona da voz melodiosa. — Onde você está?

Ninguém respondeu.

— Vou encontrá-la.

— Encontrar significa que alguma coisa está escondida ou perdida, o que não é meu caso.

A voz era doce como um anjo e provocante como uma sereia. Andando entre os arbustos e contornando um enorme olmo, Alfonso chegou a um banco de mármore. Nele havia uma jovem loira segurando um livro.

Ele logo notou as pontas das sapatilhas gastas, o vestido flo­rido meio desbotado e o corpete muito apertado. Com uma me­sura, apresentou-se.

— Lorde Herrera. Senhorita...?

— Sim, eu sei quem você é. — Fechando o livro, ela o avaliou com a mesma intensidade.

Alfonso pôde vê-la melhor. Tinha feições delicadas, mas não era uma beleza extraordinária. Nariz arrebitado coberto de sar­das, a boca igual à de outras mulheres. Não era jovem nem velha. Talvez beirando os trinta anos. Os olhos, entretanto, eram tão agradáveis como a voz. Eram grandes, redondos, azuis. Refletiam um brilho de inteligência e, mais intrigante, de astúcia.

Passou-se um longo momento antes de Alfonso perceber que ela não dissera nada.

— Você está me olhando — disse ele.

— E você está olhando para mim. — A resposta direta o fez se lembrar de Dulce. — Eu tenho uma desculpa. Você não.

Alfonso ergueu as sobrancelhas.

— Conte-me sua desculpa. Talvez eu possa usá-la também.

A desconhecida sorriu e, de repente, Alfonso sentiu um calor estranho.

— Duvido. Você é o homem mais bonito que já vi. Confesso que demorei um segundo para reconsiderar minhas noções an­teriores sobre beleza masculina e processar a sua imagem.

Alfonso contemplou-a com um sorriso radiante.

— Pare com isso, milorde, e vá embora.

— Por quê?

— Porque você está afetando minha habilidade de pensar com clareza.

— Não pense. — Ele se aproximou, perguntando-se que cheiro ela exalava, por que suas roupas eram tão surradas e as pontas dos dedos manchadas de tinta. Por que estaria sozinha, apesar da reunião? As perguntas eram muitas e aguçaram sua curiosidade.

— Você é exatamente como o descreveram. Se eu não me impressionar com seus encantos, o que você fará?

A garota atrevida o estava provocando, mas talvez não fosse intencional. Parecia realmente curiosa e a pergunta direta in­crementou seu interesse.

— Não tenho certeza. Por que não descobrimos juntos?

— Alfonso! — Dulce chamou-o de não muito distante. — Onde você está?

Ele resmungou uma imprecação e a garota deu-lhe uma pis­cada.

— Salvo por lady Casillas!

— Quem é você?

— Ninguém importante.

— Não sou eu que devo decidir? — Alfonso indagou, relutante em deixá-la.

— Não, lorde Herrera. Isso foi decidido há muito tempo. — Levantando-se, ela pegou o livro. — Tenha um bom dia.