Fanfic: Casada com um estranho - ( Vondy e um pouquinho de Ponny) | Tema: Vondy

Na escrivaninha do quarto de vestir, Dulce subscreveu o úl­timo convite para o jantar.

— Quer que os envie imediatamente, milady? — a secretária perguntou.

Dulce hesitou um momento e, depois, meneou a cabeça.

— Ainda não. Pode ir agora.

Admitia estar apenas retardando a inevitável tarefa de en­contrar uma amante para Christopher. Precisava de um pouco mais de coragem para dar o primeiro passo. A tensão e a ansiedade entre ambos era um enigma. Não imaginava por que a amizade deles mudara tanto. Se soubesse, talvez, encontrasse um modo de reverter a situação.

Como Chris havia pedido antes, ela se dirigiu ao quarto dele. Abriu a porta de comunicação, mas parou ao ouvir as vozes exaltadas do marido e de Spencer.

— O que me preocupa muito são os comentários, Chris — disse Spencer. — Como sempre evitei esse tipo de reunião so­cial, eu não tinha noção da gravidade. É horrível.

— Você não tem que se preocupar com o que falam ao meu respeito.

— Como não? — Spencer gritou. — Sou um Von Uckermann tam­bém. Você repreende minha rebeldia, no entanto, a reputação de Candy é muito pior. Todos se perguntam se você tem autoridade necessária para colocá-la nos eixos. Comenta-se até que sua fo­gosa esposa é demais para você e, por isso, você foi embora.

— Basta! — A ordem soou como uma ameaça.

— Fazer-se de surdo não resolve nada, Chris. Ela não demo­rou mais do que alguns minutos no toalete, mas foi o bastante para ouvir coisas de arrepiar o cabelo. Nossa mãe tem razão. Você deve ir ao Parlamento para livrar-se dela. Encontrará facilmente duas testemunhas para comprovar o adultério de Candy. Centenas, na verdade.

— Não brinque com fogo, Spencer.

— Não vou tolerar a desonra de nosso nome e espanta-me ver que você não faz nada para impedir. Ela é uma amante, Christopher. Não uma esposa.

Dulce ouviu um ruído abafado e um grito.

— Diga mais uma palavra contra Candy e não responderei por mim — Chris avisou-o. — Não tolerarei nenhuma calúnia contra minha mulher.

— Que diabos, Chris! O que aconteceu com você? Não o re­conheço mais.

— Não me reconhece mais? Sabe por quê? Porque escolhi honrar minhas promessas e meus compromissos. Isso é matu­ridade, Spencer.

— Ela não o merece.

O tom furioso de Christopher assustou-a.

— Fora daqui! Não quero vê-lo perto de mim.

— Então, empatamos, pois, também não quero vê-lo por perto.

Ouviu-se o som de passos e, depois, a batida ruidosa da porta. Dulce encostou-se na parede e fechou os olhos. Estava a par dos comentários que tinham começado na ocasião do casamen­to e que se agravaram quando decidiram manter vidas separa­das. O título de nobreza de Chris nunca permitira que lhe fe­chassem as portas da sociedade, e ela considerava os falatórios o preço que deveria pagar por suas decisões e pela liberdade desejada. Sempre acreditara que Chris não se importava com os comentários, mas agora, descobrira que se importava, sim. E muito. Magoara-o, e isso a incomodava demais.

Na incerteza do que fazer para minimizar os danos que causara, continuou ali parada até ouvir a respiração forte de Chris. Abriu a porta de comunicação e entrou.

Prendeu a respiração. Chris estava parado junto à cama, de costas, a mão na coluna de madeira entalhada, e só de calça.

— Christopher — Dulce murmurou, tremendo só de vê-lo tão bonito e sensual.

— Sim, Candy?

— Você queria falar comigo?

— Desculpe-me. Não é o momento.

— Sou eu quem lhe deve desculpas.

Ele se voltou.

— Você ouviu.

— Não foi minha intenção.

— Não quero discutir isso agora. Não estou com cabeça.

Dulce deu um passo à frente.

— Diga como posso ajudá-lo.

— Você não vai gostar de minha resposta, por isso, sugiro que saia. Agora.

Dulce comprimiu os lábios, mas não se moveu. Após um breve silêncio, murmurou quase que para si mesma:

— Como pudemos errar tanto? — Atravessando o quarto, parou junto à janela e continuou: — Ignorância, suponho. E arrogância. Por pensar que poderíamos viver de acordo com a nossa vontade e esperar que a sociedade nos aceitasse.

— Vá embora, Dulce.

— Recuso-me a ser um empecilho entre você e sua família.

— Ao inferno com minha família! E você também, se ficar mais um minuto aqui!

— Não grite comigo, Chris! Antes, você sempre me contava seus problemas. Agora que eu sou o problema, acho mais do que justo tentar ajudá-lo. E não me olhe assim... O que vai fazer?

— Eu a avisei, Dulce. — Segurando-a pelo braço, pratica­mente arrastou-a até o quarto dela, fechando a porta de comu­nicação.

— Lamento muito, Christopher.

— Por quê? — ele perguntou do outro lado da porta. — Por ter se casado comigo?

Ela estremeceu. A palavra "não" ficara na presa na garganta. Não conseguiria dizê-la em voz alta.

Suspirando, apoiou-se na porta. Chris estava certo. Aquele não era o momento para discutir. Nenhum deles tinha condi­ções de pensar com clareza.

— Só quero esclarecer uma coisa — ele disse. — Não lamento, e de todas as coisas que ouvi, o que mais me magoou foi você dizer que erramos muito.

Com passos lentos, Dulce foi ao quarto de vestir. Mais do que as palavras, o tom de voz de Christopher tocou-a profunda­mente. Tentou ignorar essa emoção. Não podia enternecer-se. Em sua vida não havia mais lugar para sentimentalismo.

Sempre encarara seus affairs com realismo, pois, as regras eram estabelecidas desde o começo, e o fim era sempre anteci­pado. Não havia o sentimento de posse, como estava começan­do a sentir por Christopher.

— Ah, Chris! — ela murmurou. Tinham sido amigos. E ele retornara como um estranho e assumira o lugar de seu marido.

Marido era posse. Amante, não.

Seu estômago se contraiu.

Ela é uma amante. Não uma esposa.