Fanfic: Casada com um estranho - ( Vondy e um pouquinho de Ponny) | Tema: Vondy

Entrando na sala de visita, acenou para Spencer, recusou o charuto que lorde Hammond lhe ofereceu, e caminhou sobre o tapete Aubusson em direção à janela, onde Vilard obser­vava o cenário bucólico.

Não pôde deixar de notar o porte elegante e as roupas de corte impecável do conde. Aquele homem convivera da intimi­dade de Candy durante dois anos, conhecendo-a, portanto, melhor do que ele.

— Vilard — murmurou.

— Lorde Christopher. — O conde se voltou, fitando-o com olhos frios. — Antes que me acuse de tentar reconquistar Dulce, permi­ta-me dizer-lhe que não tenho a menor intenção a esse respeito.

— Não?

— Não, mas se ela me procurar, não a mandarei embora.

— Apesar do perigo que tal gesto poderia representar? — Christopher era um homem de ação, não de ameaças. Pelo leve as­sentimento de Vilard, ele viu que o conde sabia disso.

— Você não pode prender uma mulher como Dulce. Ela va­loriza sua liberdade mais do que tudo. Tenho certeza de que ela só se casou com você para garantir a liberdade, e agora, sente-se trapaceada. — Ele ergueu os ombros. — Além disso, eventualmente, você se cansará dela, e esse seu desejo de cla­má-la sua de um modo tão primitivo, logo desaparecerá.

— Minha reivindicação não é apenas primitiva. É também legal e consistente.

Vilard meneou a cabeça.

— Você sempre quis mulheres de outros homens.

— Neste caso, a mulher que eu quero pertence a mim.

— E mesmo? Estranho você descobrir isso cinco anos depois de negligência marital. Tenho-os visto juntos desde sua volta. Aliás, como toda a sociedade. Na verdade, parece que vocês apenas se toleram.

Christopher curvou os lábios num sorriso indolente.

— Definitivamente, entre nós, há muito mais do que apenas tolerância mútua.

O conde enrubesceu.

— Dulce jamais se prenderá a você, Christopher. Ela é incapaz disso, e mesmo que estivesse aberta a sentimentos elevados, um homem inconstante como você não teria chances. Você se pa­rece muito com o falecido Eslaviero. Ele também não valorizou o tesouro que tinha. Perdi a conta das vezes que Dulce contou-me histórias de suas proezas que terminavam assim: "como Eslaviero costumava fazer".

Um soco no estômago não teria atingido Christopher com mais força.

Apesar da aparência impassível, intimamente ficou apreen­sivo. Markham dissera a mesma coisa. Não poderia haver pior referência do que saber que suas atitudes faziam sua esposa lembrar-se do falecido marido. Se não provasse ser melhor que Eslaviero, jamais conquistaria o afeto de Dulce.

— Você diz que Candy é incapaz de afetos profundos, e mesmo assim, acredita que ela voltará para seus braços. Ambos sabe­mos que ela nunca voltou para os ex-amantes.

— Somos amigos. Conheço bem suas preferências. Ela era feliz comigo antes de você voltar.

— Não. Ela não era feliz. Você sabe disso tanto quanto eu.

Os maxilares do conde se comprimiram.

— Penso que já nos entendemos, Christopher. Não temos mais nada a dizer. Você está ciente de minha posição. Eu estou ciente da sua.

Christopher inclinou levemente a cabeça concordando.

— Ouça bem, Vilard. Eu me irrito facilmente e, acredite, não terei este tipo de conversa novamente. Na próxima vez que eu tiver que lembrá-lo de meu casamento, demonstrarei os pon­tos mais delicados deste discurso com a ponta de minha espada.

— Cavalheiros, posso distraí-los com minhas histórias da Índia? — lorde Hammond interveio, seu olhar correndo nervo­samente de um para o outro. — Um país fascinante, acreditem.

— Obrigado, Hammond — Christopher disse. — Talvez mais tarde. Com uma mesura, ele atravessou a sala em direção a Spencer.

— Só mesmo você, Chris, poderia ser tão inflamado — Spencer foi logo dizendo.

— Aprendi que o tempo é precioso. Não vejo razão para rodeios quando a objetividade funciona tão bem.

— Admito que já estava resignado a uma semana de lassidão. Felizmente parece que não haverá um só momento de mono­tonia — Spencer comentou com um sorriso.

— Certamente que não. Pretendo mantê-lo ocupado.

— Como assim? — Os olhos de Spencer brilharam com a mesma intensidade que o sorriso. De novo, Christopher percebeu a influência que exercia sobre o irmão.

Só esperava que essa influência fosse positiva.

— Sim. Há uma propriedade Casillas apenas a uma hora a cavalo daqui. Amanhã, iremos visitá-la.

— Maravilha!

Christopher sorriu.

— Agora, se me der licença...

— Não consegue ficar muito tempo longe dela, não?

Christopher lançou ao irmão um olhar severo.