Fanfic: Casada com um estranho - ( Vondy e um pouquinho de Ponny) | Tema: Vondy

Havia uma pequena multidão no gramado da casa do vigá­rio. Debaixo de duas árvores frondosas, algumas pessoas dan­çavam ao som de instrumentos musicais, enquanto outras con­versavam e riam animadamente.

Dulce foi recebida com simpatia e amizade, e retribuía os cumprimentos com seu sorriso encantador.

Christopher, por sua vez, conversava com todas as pessoas, in­dagando sobre suas famílias e vizinhos. Erguia as criancinhas no ar, brincava com as maiores e fazia elogios às adolescentes.

Dulce admirava essa faceta do marido que ela não conhecia. Cada gesto dele a emocionava. Seu peito vibrava de amor e esperança. O entusiasmo inocente que sentira por Eslaviero não era nada, nada, comparado à alegria madura que encontrava com Christopher.

— O pai dele tinha o mesmo carisma — a marquesa-mãe murmurou ao lado dela. — Meus outros filhos não são assim, e receio que suas esposas acabem destruindo o pouco que eles herdaram dessa característica. É uma pena que Christopher não possa transmitir esse dom para seus descendentes.

Envolvida no clima de alegria, Dulce decidiu ser mais tole­rante com a sogra.

— Quem poderá antecipar a personalidade de uma criança que ainda nem foi concebida?

— Já que Christopher me garantiu ainda há pouco que não tem intenção de engravidá-la, penso que posso afirmar com toda a segurança que ninguém herdará dele essa e outras características.

Dulce encarou-a. Com o rosto meio encoberto pela aba do chapéu, a marquesa-mãe não revelava a amargura e feiúra in­terior que sufocavam os traços bonitos de seu rosto. Dulce, po­rém, sabia do que ela era capaz com tanta dissimulação.

— Do que a senhora está falando?

— Cumprimentei Christopher pela decisão de dedicar-se à pre­servação do título. — Ela inclinou a cabeça, escondendo os olhos, mas ainda revelando as linhas irônicas dos lábios. — Ele se apressou em afirmar que Emily seria a única mulher a carre­gar no ventre um filho seu. Ele a amava, e ela é insubstituível.

Dulce sentiu um frio no estômago ao lembrar da felicidade de Christopher ao saber da gravidez de Emily. E desde que retor­nara, mesmo nos momentos de maior arrebatamento, ele nunca mencionara a vontade de ter filhos com ela. A preocupação dele em usar preservativo ou interromper o ato sexual antes de che­gar ao clímax eram fatos incontestáveis.

— A senhora está mentindo.

— Por que eu mentiria sobre algo que poderá ser facilmente esclarecido? — a marquesa-mãe perguntou num tom de ino­cência. — Realmente, Dulce, vocês formam o casal mais descombinado que já vi. Claro, você pode esquecer o sonho de ter filhos seus e conviver com o fato de o herdeiro de Christopher vir do ventre de outra mulher. Depois, é só continuar vivendo e fingindo que está tudo bem.

A vontade de Dulce era de gritar como um animal feroz. Mas conteve-se e, erguendo os ombros, conseguiu sorrir.

— Terei grande prazer em provar que está errada, milady. Com licença.

Afastando-se, procurou refúgio atrás de uma árvore. Ali, lon­ge dos olhares maldosos da sogra, encostou-se no tronco. Tre­mendo, juntou as mãos e respirou fundo. Não poderia voltar descontrolada à reunião.

— Dulce?

Assim que Christopher chegou perto, ela percebeu seu olhar preocupado.

— Sim, milorde?

— Tudo bem? Você está tão pálida!

Ela fez um gesto evasivo com a mão.

— Sua mãe está destilando veneno de novo. Mas já passou.

— O que ela lhe disse?

— Mentiras, mentiras e mais mentiras. O que mais lhe restou? Você e eu estamos nos entendendo às mil maravilhas, dormi­mos na mesma cama. Portanto, o único recurso para me magoar é a questão de filhos.

Chris ficou visivelmente tenso.

— Como a questão de filhos? — ele arriscou.

— Ela garante que você não quer ter filhos comigo.

Ele ficou imóvel por um longo momento, depois, meneou a cabeça. Dulce sentiu o coração disparar.

— É verdade? — Ela levou a mão ao peito. — Christopher? — insistiu ante o silêncio dele.

— Quero dar-lhe coisas — ele respondeu evitando olhá-la. — Todas as coisas. Tudo. Quero fazê-la feliz, Candy.

— Mas sem filhos?

Os maxilares dele se contraíram.

— Por quê? — ela gritou.

Finalmente sustentando o olhar da esposa, disse:

— Não quero perdê-la. Não posso perdê-la. Arriscá-la aos perigos de um parto não é uma boa opção.

Cambaleando, Dulce cobriu a boca com a mão.

— Pelo amor de Deus, Dulce, não me olhe assim! Podemos ser felizes apenas nós dois!

— Podemos? Lembro de sua alegria ao saber da gravidez de Emily. Lembro de sua exuberância. Quero lhe proporcionar essa alegria.

— Você lembra também do meu sofrimento? — ele se defen­deu. — O que sinto por você é maior que tudo que senti por qualquer outra pessoa. Perdê-la será minha destruição.

— Você acha que sou muito velha.

— Não, Candy. Não tem nada a ver com idade.

— Tem, sim. — Ela se afastou, mas Christopher segurou-a pelo braço.

— Prometo que serei suficiente. Posso fazê-la feliz.

— Solte-me. Preciso ficar sozinha.

Encarando-o, Christopher viu nos olhos dele frustração, medo e uma ponta de raiva. Não que isso a afetasse. Estava entorpecida, como se tivesse recebido um golpe mortal.

Sem filhos.

Ela puxou o braço que ele ainda segurava.

— Não posso deixá-la ir assim, Dulce.

— Não há escolha, Chris. Você não pode me segurar à força na frente de toda essa gente.

— Então vou com você.