Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

Leitoras comentem, houve tão poucos comentarios que chega desanima continuar postando, comentem meninas, a web é linda  e emocionante e as cenas de AyA são lindas e já vou dizendo que também terá cenas de Chaverroni 

Comentem!

Quantas recordações de infância lhe traziam aquela cozinha cheirosa, os potes de conservas,

os vidros com cerejas em calda, ameixas e damascos, que eram usados nas deliciosas tortas
que todos saboreavam depois do banho de mar, acompanhadas de limonada gelada. Só
Alfonso, por ser mais velho, podia tomar sangria. Annie deu um suspiro de saudade enquanto
preparava o chocolate. Encontrou alguns biscoitos numa lata, colocou tudo numa bandeja e
subiu pela escada dos fundos, para evitar encontrar-se com alguém.
Levar a Alfonso aquele lanche noturno tinha um sabor de coisa proibida, muito íntima. Annie
tinha acesso à cabeceira dele por ser sua enfermeira e com as portas fechadas, com apenas a
luz tênue do abajur iluminando o quarto, pareceu-lhe que aquele homem ali deitado pertencia
só a ela.
Alfonso aceitou a bebida quente, sem comentários, e ela, sentando aos pés de sua cama,
começou a abrir o envelope que deixara perto do relógio.
Os ouvidos afiados de Alfonso captaram o ruído de papel rasgado.
— Já lhe disse para jogar essas cartas numa gaveta, sua cabeça-dura.
— É falta de educação não tomar conhecimento das cartas que nos escrevem — contestou ela.
— Não vou ler as que lhe enviou sua amiguinha, portante sossegue. A carta que abri é de um
homem chamado Chavez.
Christian Chavez! — exclamou ele, eufórico.
Então? Posso ler?
Alfonso deu uma mordida num biscoito e enrugou a testa.
— Estivemos internados juntos no hospital. Bem que imaginei.
^nnie começou a ler em voz alta a carta daquele companheiro de nome
tão estranho. Dava notícias de que já estava andando e dizia que gostaria de saber se poderia
fazer uma visita. Ambos haviam passado por uma experiência traumatizante, com suas vidas
destruídas por graves ferimentos e, às vezes, dois homens que têm pela frente um futuro
incerto, podem encontrar consolo repartindo seus temores e esperanças.
Annie tornou a colocar a carta no envelope e estudou as reações fisionômicas de Alfonso.
— Parece uma boa pessoa — comentou ela. — Seu ferimento foi muito grave?
— O impacto de uma granada o castrou!
— Oh, meu Deus! — Apesar de ser uma enfermeira acostumada com a desgraça alheia, ela
empalideceu. — Por que… por que as pessoas são tão cruéis umas com as outras? Por que tem
de haver tanto ódio neste mundo?
— Seria bom responder a esta carta — sugeriu ela cautelosamente. — Se quiser ditar a
resposta amanhã, eu mesma poderei colocá-la no correio.
— Não! Ele sacudiu a cabeça. — Se eu não responder, Christian não virá a Bayaltar.
— E por que não deveria vir? Afinal ele está pedindo que um amigo lhe estenda a mão.
Dios! E você acha que eu estou em condições de estender a mão a alguém? Um cego
guiando um aleijado! Você está sugerindo que fiquemos chorando juntos o que perdemos: um,
a visão, e o outro a virilidade?
Annie viu que ele apalpava a mesinha de cabeceira em busca do maço de cigarros, mas forçou-se
a não ajudá-lo. Ele conseguiu pegar um cigarro, levou-o aos lábios e começou a procurar o
isqueiro. Dessa vez, Annie colaborou, acendendo o cigarro para ele. Alfonso deu uma profunda
tragada e seus olhos pareciam fixá-la.
— Chorar não faz mal a ninguém. A não ser que você se considere hombre demais para isso.
— Aproxime-se um pouco mais desta cama, enfermeira, e vou dar-lh uma demonstração do
meu machismo. Você mesma disse que a cegueira não torna um homem menos potente. —
Soltou a fumaça pelas narinas — Então você me aconselha a responder à carta de Christian?
— E a coisa mais bondosa que poderia fazer, amigo-
— Mas pode não ser a mais sábia, Annie. Pode ser que você se veja envolta com duas almas
penadas.
— Espero poder dar conta do recado. Eu não escolheria ser enfermeira
se não me dispusesse a ajudar às pessoas. Isso não significa que me considere virtuosa.
— Meu Deus! Salve-me de uma enfermeira muito virtuosa! — Deu um sorriso cínico. — Apesar
do chocolate quente, acho que não vou pegar no sono tão já. Ligue o rádio. Talvez
retransmitam a tourada de Madrid.
— Tourada!
— Sei que vocês ingleses detestam touradas.
— É um espetáculo cruel.
— Pode ser. Mas a vida é cruel. Faça o que lhe pedi, enfermeira, para não deixar seu paciente
nervoso.
— Que Deus me ajude!
Ela girou o botão do rádio até sintonizar o som inconfundível da narrativa de uma corrida de
toros. Alfonso ficou atento, fumando e ouvindo.