Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

Annie apertou o cálice de vinho com força. Não tinha mais dúvidas de que Maite se deixara
enfeitiçar pelo encanto daqueles olhos e pelo charme de um homem mais velho do que
ela. Podia compreender aquela atração, pois sentira a mesma coisa por Alfonso.
Mas, pelo menos, Annie tinha uma profissão a que agarrar-se quando terminasse aquele
interlúdio e voltasse aos hospitais da Inglaterra para um trabalho tão intenso que não lhe
sobraria tempo para lamúrias. Levou o cálice aos lábios e tomou um longo gole do vinho. Não
queria pensar no momento em que deveria deixar Alfonso. Gostaria que o tempo parasse para
sempre e que os quatro pudessem continuar ali, como estavam agora, na atmosfera
acolhedora do restaurante. Mas no momento em que essa idéia lhe atravessou a mente,
Alfonso pediu-lhe para chamar o garçom a fim de pagar a conta.
— Traga a nota para mim — pediu Christian ao garçom. — Faço questão, Alfonso. Há muito
tempo não como tão bem, até esqueci dos meus problemas.
— Se insiste…
O jeito como Christian tinha dito aquilo estimulou a curiosidade de Maite, que colocou sua mão
sobre a dele, como para querer confortá-lo de algo que ela não sabia o que era.
— Por quanto tempo vai ficar aqui? — indagou.
— Ainda não fiz meus planos.
— Sabe, conheço cada palmo desta ilha, os recantos mais bonitos, e faço questão de mostrálos.
É um lugar muito interessante para ser visitado, com muitas praias. Temos uma praia junto
à residência. Gosta de nadar?
— Não muito. — Ele retirou a mão. — Gosto de praticar iatismo, mas não nado.
— Acho a natação um esporte maravilhoso. Com certeza você aprendeu a nadar quando
criança.
— Aprendi, mas não é um esporte que me atrai.
— Maite, você parece uma sarna! Alfonso chamou-lhe a atenção, rispidamente. — Christian
veio a Bayaltar para descansar, portanto deixe que ele escolha seus próprios divertimentos,
que não precisam obrigatoriamente incluir seus programas turísticos.
— Eu… eu sinto muito. Não pretendia ser insistente. — Logo os olhos de Maite ficaram marejados
de lágrimas e ela levantou-se, propondo: — Annie, você vem comigo?
As duas foram em direção ao toalete das senhoras e Maite queixou-se, muito ressentida:
— Alfonso não precisava falar comigo daquele jeito só porque me ofereci para mostrar a ilha a
Christian.
— É que seu irmão sabe melhor o que o amigo sofreu e imagina que ele possa estar com os
nervos abalados ainda.
Pouco depois, quando as duas estavam em frente ao espelho retocando a maquilagem Maite
comentou:
— Christian é tão atraente! É um tipo muito interessante! Tem uns olhos que dão arrepios na
espinha. O que achou dele?
— Cativante, sem dúvida, mas é um enigma. Seja prudente, Maite. Pode ser que você esteja
fazendo uma transferência dos sentimentos que tinha por…
— Não! — Maite a interrompeu, sacudindo a cabeça com veemência. — Com Roddy está tudo
acabado. E nem há termos de comparação entre os dois. Christian é um verdadeiro homem. Tão
envolvente e sedutor, assim como… como um oceano profundo!
— Nesse ponto, estou de acordo. Você foi criada numa praia, portanto sabe bem que com o
mar não se brinca.
— Está querendo me dizer que há algum mistério nele? — Maite olhou a amiga
interrogativamente.
— Existem pessoas com as quais devemos ter cautela.
— Você não acha ele e Alfonso parecidos?
— Ele e Alfonso passaram por situações traumatizantes que podem trazer resultados
imprevistos.
— Alfonso ficou cego e posso entender a amargura que sente, mas Christian… qualquer um pode
ver que ele se recuperou totalmente. Se tem alguma cicatriz, está bem oculta.
— Não é bem assim — disse Annie, com calma. — Cicatrizes nem sempre são visíveis, o que
não quer dizer que não existam.
— Annie, o que foi que Alfonso lhe contou sobre Christian? Ele revelou-lhe algo, não foi? E deve
ser alguma coisa muito séria. Ele tem algum problema?
— Parece que sim.
— Estou desconfiando de que você sabe de toda a verdade e não quer contar-me. Por que não,
Annie? Você está de olho nele?
Annie levou um susto.