Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

— Pelo amor de Deus, Maite! O que é isto? Num dia você morre de amores por um
guitarrista, no dia seguinte já acha que está apaixonada por um homem que mal conhece. O
amor não vai chegando assim, de uma hora para outra. Leva tempo para alguém apaixonar-se
de verdade. Você está confundindo amor com atração.
— Está falando por experiência própria? — Os olhos de Maite faiscavam de ciúme. — Você está amando?
— Já estou cansada dessa conversa.
Annie foi na direção da porta, decidida, e estava quase abrindo-a,quando Maite segurou-lhe
o braço com os dedos tensos.
— Nunca tivemos segredos uma para com a outra, mas ultimamente você anda tão reservada!
Parece que sua profissão tomou-a mais adulta e séria. Por que você deveria saber de coisas
que eu não sei?
— Se quer ser tratada como adulta, comporte-se como tal — retrucou Annie. — Já sabemos
que Christian é um homem atraente, mas passou por uma experiência traumatizante, e você não
vai querer imaginar que ele veio a Bayaltar com intenção de envolver-se sentimentalmente
com alguém. Não se afobe, Maite. Ele, antes, tem de chegar a uma conclusão sobre… sobre ele
mesmo.
— O que é que que está me escondendo? — insistiu Maite. — Por acaso, ele é divorciado?
— Não. É viúvo. Sua esposa morreu num acidente, poucos meses depois de casados.
— Meu Jesus! — Maite exclamou. — Não é à toa que eu senti que ele se afasta das pessoas, ao
mesmo tempo que gostaria de tê-las por perto. Pobre Christian, deve ter medo de ser feliz e ser
atingido novamente pela fatalidade. Adoraria poder ajudá-lo.
— Maite, você é quem poderia ser atingida novamente. — Annie encarou a amiga com a
fisionomia preocupada. — Christian tem uma bela aparência, mas tudo o que lhe aconteceu é
recente e ele está sofrendo muito.
— Ele tem alguma coisa que me toca, que me atinge bem aqui — Maite apontou para o
coração. — Quando ele me olha com aqueles olhos… fico enlouquecida! Nunca me
aconteceu uma coisa destas. Você entende do que estou falando?
— É lógico que entendo — Annie afirmou com segurança. — Mas não faça confusão de
sentimentos. Como ele foi ferido, pode ser que lhe inspire uma espécie de ternura, assim
como a que sinto pelo seu irmão.
— E diferente. Você conhece Alfonso desde criança e o considera como irmão. Você já faz
parte da família!
— Sim… talvez.
Aquela afirmação doeu fundo, pois nem por um segundo Annie considerara Alfonso um irmão.
Quando ele se apoiava em seu braço para ser guiado, seu corpo reagia àquele contato.
Quando ele caía naquela melancolia profunda, ninguém sabia o quanto ela batalhava para
levantar o seu ânimo. Annie sentia na própria carne todas as dores e angústias dele. Estava tão
sintonizada com ele, que era capaz de acordar durante a noite, sem ser chamada, pressentindo
que Alfonso estava desperto, precisando de atenção. Quantas vezes descera de penhoar, em
plena madrugada, para preparar-lhe uma bebida quente e reconfortante. Ninguém sabia que,
às vezes, ela passava a noite toda em claro, sentada ao lado da cama de Alfonso, velando seu
sono agitado.
— Você deve estar pensando que sou volúvel — disse Maite. — Ainda mais você, que é o tipo
da criatura capaz de amar um homem até a morte, mesmo sem ser amada.
— No caso de nós estarmos falando de amor e não de fantasias — Annie enfrentou a outra
corajosamente —, é preciso esclarecer que o amor não é uma chave mágica que nos faz entrar
no reino do romance e do encantamento. Muitas vezes o amor exige sacrifícios, tolerância e
ternura, de uma qualidade muito especial. Não acho que você seja volúvel, Maite. Mas
acredito que tenha uma imaginação romântica muito exaltada e que veja Christian como um belo
herói de capa e espada, ao invés de vê-lo sob o prisma da realidade, como um homem cujas
emoções e cujo corpo foram literalmente massacrados.
— Quer dizer que você está me prevenindo para não me apaixonar por ele? É isso?
— Estou apenas aconselhando.
— Dispenso seus conselhos!
Uma faísca de raiva acendeu os olhos de Maite.
— Você também gostou dele e pretende afastar-me, assustando-me com suas alusões e
indiretas. Vi como você olhou para Christian durante o almoço. E pensar que depois de todos
estes anos, iríamos brigar por causa de um homem! Não quero desentender-me com você,
Annie, mas em relação a Christian, melhor seria que você se metesse com sua própria vida!
— Pois muito bem — disse Annie tranqüilamente. — E isso mesmo o que farei. Mas depois não
vá correr para Alfonso se acontecer alguma coisa que a venha ferir mais tarde e...
— O que está insinuando? — irrompeu Maite. Christian é um homem violento?
— Não é isso, Maite.
— Então o que há com ele para você fazer tantas objeções?Conte-me
— Não cabe a mim contar-lhe.
— Alfonso sabe, não é? Pois vou perguntar a ele.
— Você não vai fazer nada disso! — De repente, Annie sentiu-se tomada de raiva. — Você
tornou-se uma moça caprichosa Maite, e quer tudo o que lhe agrada, como uma criança numa
confeitaria. Esses dois homens sofreram as penas do inferno, portanto não aborreça Alfonso, e
deixe Christian em paz se ele assim o preferir. Comece a comportar-se como uma mulher
Maite ficou olhando para Annie de boca aberta, como se as palavras que queria dizer tivessem
ficado travadas pela explosão da amiga.