Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

— Acha que serei desagradável se eu convidar Christian para um pequeno giro? Prometo não ser
uma “sarna”. Compreendo que ele deve ter passado por maus pedaços e essa é uma das
razões pelas quais gosto dele. Quero ajudá-lo a esquecer seus dissabores.
Mas ela sabia que, para Christian, não haveria meios para esquecer. Se Annie tinha conseguido
entender bem o estado de espírito da amiga, não podia, de jeito nenhum, encorajar uma
jovem vibrante e cheia de vida como Maite a apaixonar-se por ele.
— Seja sua amiga — propôs Annie. — Assim como sou de Alfonso. Aceite o fato de que é isso o
que ele espera de você.
— E se ele esperar mais do que isso, existe alguma razão assim tão terrível para que eu deva
recusar-me?
— Pode ser que exista — disse Annie, com cautela.
— Está bem — Maite assentiu com um levantar de ombros. — Viverei intensamente cada dia,
assim como você faz, Annie, e não pedirei a lua, se meu destino é ter somente um punhado de
estrelas. Se isto é ser adulta eu já sou uma.
Foram ao encontro dos dois homens e, de forma casual, Maite convidou Christian para dar um
passeio com ela. Iriam visitar uma igreja próxima e uns bazares.
— Você vai sentir-se como se estivesse no Marrocos!
— Como posso resistir? — Christian bateu de leve no braço do amigo. — Você se incomoda se eu
tomar sua irmã como guia durante uma horinha?
— De forma alguma — retrucou Alfonso. — Vá com ela olhar os arredores.
— Gracias, Alfonso.
Quando o par se afastou, Alfonso disse:
— Annie, precisamos evitar que Maite comece a alimentar idéias sobre Christian. Espero que ele
entenda.
— Tenho certeza de que ele entende — Annie hesitou por um momento. — Mas seria assim
tão desastroso se eles se enamorassem?
— Nenhum homem tem o direito de amar uma mulher se não pode dar-lhe um amor
completo. Não falo só por ele, mas por mim também. Não estou julgando Christian e excluindo
minhas próprias limitações. Se uma mulher está apta a amar, tem de fazê-lo de uma forma
integral. Em matéria de amor, tem que ser tudo ou nada!
Annie examinou o rosto triste de Alfonso, onde o sol batia em cheio, sem que ele ao menos
piscasse. Aqueles olhos que não podiam ver o brilho do sol não viam também a palidez das
faces de Annie. O que aconteceria se ela se arriscasse a contar-lhe que o amava,
com ou sem limitações? Será que ele a consideraria um estorvo e a mandaria embora?
Pediria ao pai para dispensá-la? Ou aceitaria seu amor para transformá-la numa vítima,
baseado na filosofia de que só se pode machucar as pessoas a quem realmente amamos?
A tentação era muito grande… Alfonso acreditava que iria morrer num futuro próximo e isso
poderia torná-lo inabalável. Seria arriscar-se ao ridículo inutilmente. De qualquer forma, ela
não iria confessar seus sentimentos enquanto estivessem ali, naquela praça tumultuada, sob
um sol abrasador. De repente, teve um sobressalto.
— Alfonso! Você nem imagina quem vem vindo! — ela anunciou, estupefata.
Quem atravessava a praça naquele momento era um homem de bela figura, muito alto e
elegante, vestindo um terno esporte de linho branco. Bateu amistosamente no ombro de
Alfonso, quando se aproximou, com os olhos castanhos muito abertos de surpresa.
— Meu irmão! E eu que esperava encontrar um pobre inválido! Não sabia que você estava tão
bem! Ninguém me escreveu para contar-me que você voltou a enxergar.
— Christopher! O nome foi pronunciado por Annie, quase num sussurro, pois a emoção
enfraquecera sua voz.
— Christopher? — Alfonso repetiu o nome. — É você?
Christopher Herrera ficou parado, observando o irmão, e pouco a pouco seu entusiasmo
arrefeceu. Olhou interrogativamente para Annie, que meneou a cabeça.
— Por todos os santos! — Christopher respirou fundo, os braços estendidos para o irmão. — Você está
com tão ótima aparência que eu pensei…
— As aparências enganam, hermano. Na verdade, estou apenas imaginando que você deva
estar com a mesma boa aparência de sempre. Como chegou assim, tão inesperadamente?
Veio na lancha?
— Não — Christopher ainda olhava insistentemente para o irmão como se não pudesse acreditar que
aqueles olhos tão vivos e expressivos não enxergavam. — Vim no helicóptero da empresa e
acabei de almoçar com o piloto. Oh, Alfonso, você está incrivelmente bem e é duro acreditar
que você não possa…
— É duro acreditar que sou cego? — Alfonso nunca parecera tão sarcástico. — Você deveria
ter empregado a palavra certa irmão, pois assim vai ser enquanto eu viver.
— Eu… eu nem sei o que dizer-lhe, meu velho.
Christopher passou o braço pelo ombro do irmão, num gesto protetor.
— Então não diga nada, Christopher. Só admita os fatos.
— Você já consultou especialistas?
— Já fui examinado por uma meia dúzia. Você acha que nosso pai deixaria por menos? Agora
satisfaça-me uma curiosidade: que tal é minha enfermeira?
Christopher deu um sorrisinho malandro e percorreu com os olhos a esbelta figura de Annie.
— Bonita não seria bem o termo— Christopher informou o irmão com os olhos pregados em Annie. —
Eu diria que ela é linda! Já tinha achado isso em Londres, e agora, que a revejo aqui na ilha, só
posso confirmar minha opinião.
— Fico contente — murmurou Alfonso. — Vocês dois devem formar um belo par. Que pena
que não os possa ver juntos, lado a lado.
Annie estremeceu ao ouvir aquelas palavras. Sua vontade era atirar-se nos braços de Alfonso e
gritar-lhe o que seu coração dizia em silêncio: Alfonso! é só você que eu quero… só você que
eu amo… agora e sempre!