Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

— Uma enfermeira é treinada para ser objetiva. Se tudo correr bem,
Alfonso pode viver mais cinqüenta anos.
— Que os anjos digam amém — completou Christopher.
— Nenhum de nós conhece o próprio destino, Christopher. Eu mesma posso
morrer amanhã.
— Pois eu conheço o meu — disse ele, com uma certa arrogância. — Meu pai nunca se
conformou com minha vida artística. Estou aqui em casa só de passagem. Apesar de nossas
divergências, ele até está querendo que eu organize um churrasco, regado a vinho. Você acha
que Maite vai convidar esse jornalista com quem andou se encontrando? Que
acha dele?
— É um homem encantador — disse, com cautela.
— Pena eu não ter estado presente no dia em que ele veio jantar aqui. Pelo que disse tia
Francisca, ele é mais velho do que Maite. Você acha uma desvantagem o homem ser mais
velho e experiente?
— Não posso falar por Maite.
— Acho que isso não passa de uma amizade passageira que terminará quando ele for embora
de Bayaltar. Assim mesmo, minha irmãzinha parece muito envolvida. Você considera Christian
um conquistador?
— Não. Mas é um homem interessante e insinuante e pode, sem qualquer intenção, provocar
o interesse de sua irmã.
— Eu diria que ele causou uma grande impressão nela. As moças são propensas a devaneios,
quando se apaixonam. Devaneios… Não foi o
termo que você empregou?
— Só espero que… — Annie mordeu os lábios. — Bem, Christian é viúvo e poderia não ser bom
para Maite viver com dele.
— Acha que o coração dele foi enterrado junto com a esposa?
— Sim. acho.
— Sabemos o que acontece quando alguém muito querido morre. Mas a vida tem de
continuar, e Maite ainda pode fazê-lo muito feliz. Por que você duvida tanto? Não acredita que
as pessoas possam amar novamente?
— Não acredito que possam amar com a mesma intensidade.
— Pode ser verdade. Mas as pessoas precisam de companheirismo.
Não é bom ficar sozinho.
— Estar sozinho não significa ser solitário.
— Você não nasceu para ficar sozinha. Mais uma vez, Christopher a puxou para junto de si e ela
submeteu-se, permitindo um beijo, sem entretanto senti-lo.
Percebendo essa frieza, ele aumentou a pressão contra sua boca e a jogou de encontro às almofadas
da espreguiçadeira.
— Que cena mais romântica! — irrompeu uma voz. — Talvez seja
melhor não interrompê-los.
— Interromper quem? — a segunda voz era masculina.
— Annie e seu irmão, meu caro, agarradinhos, um nos braços do outro, à sombra do
jacarandá. Não seria justo estragar-lhes o divertimento.
Annie gelou nos braços de Christopher. O abraço desfez-se lentamente e ele voltou-se para o lado de
Belinda e Alfonso. Annie sentou-se e ajeitou os cabelos, muito envergonhada, vendo o sorriso
de escárnio da outra. Aquela cena seria um prato cheio para Belinda, que não hesitaria em ir
correndo relatar a don Carlos que surpreendera Annie em idílio com seu filho Christopher. Seria
o suficiente para provocar imediata demissão da enfermeira e seu afastamento de Alfonso.
Christopher levantàra-se e estava encarando o irmão.
— Não se precipite com conclusões erradas. Alfonso, Annie e eu
estamos planejando casar.
Nem que um raio tivesse caído na cabeça de Annie naquele instante, ela se sentiria tão
atordoada. Continuou sentada, sem forças, mal acreditando nas palavras de Christopher.
Belinda deu uma sonora gargalhada.
— Bem, congratulações para ambos! — Segurou no braço de Alfonso e o manteve a seu lado.
— Não são boas notícias, meu querido? Só espero que seu pai abençoe esta união.
Alfonso estava com os olhos sobre o irmão, com expressão atônita.
— Você não perdeu tempo, não é, Christopher?
— Graças a você. Foi você quem ajudou Annie a decidir-se, fazendo com que ficássemos juntos
a maior parte do tempo. Até parecia que estava planejando que isto acontecesse!
No intervalo silencioso que se seguiu, Annie sentia, com imensa dor, as batidas violentas de
seu coração. Estava disposta a negar a afirmativa de Christopher, mas antes queria ouvir a resposta de
Alfonso. Ele precisava negar que desejava ver o irmão casado com ela.
— Pois muito bem — Alfonso encolheu os ombros e deu um sorriso sem graça. — Confesso ter
bancado o cupido. Meus parabéns, Christopher!
— Não! Annie teve a impressão de que pronunciara aquela palavra em voz alta.
mas, se o fez, Alfonso não ouvira, pois naquele instante, virara-se para Belinda, convidando-a
para tomar chá com ele.
— Vamos, Belinda. — Alfonso convidou. — Vamos deixar os dois pombinhos arruinando em paz.