Fanfic: Céu sem Estrelas (FINALIZADA) | Tema: AyA

CAPÍTULO VIII

O quarto estava iluminado pela fraca luz do pôr-do-sol e as vidraças das janelas reverberavam
como rubis. À distância, ouvia-se o som grave dos sinos de uma capela espanhola.
Os sinos e o céu purpúreo deram a Annie a impressão de estar num teatro, como se o pano de
cena estivesse prestes a levantar-se para o espetáculo de danza y musica que logo mais teria
lugar no pátio da Residência.
Durante todo o dia, os empregados da casa haviam estado atarefadíssimos, preparando
mesas, suspendendo lanternas chinesas por entre as árvores e abrindo toneis de vinho. O
clima era de excitação e expectativa, pois toda a vez em que o governador dava uma festa, era
sempre uma coisa sensacional, com danças flamencas e muita comida e boa bebida.
O sol desapareceu por completo e sua auréola dourada diluiu-se no céu. Logo as lanternas
seriam acesas e os convidados começariam a chegar.
Mas Annie demorava-se no quarto, já às escuras. Pela manhã, comprara aquele vestido de
seda azul-turquesa, numa das lojas da Ramblas. Delicados brincos de pérola pendiam de suas
orelhas, ela se perfumara com uma colônia Chanel e fizera um penteado diferente.
Afundada em seus pensamentos, Annie não percebeu que havia mais alguém no quarto, até
que sentiu duas mãos pousarem sobre ela.
— Não precisa sobressaltar-se — a voz era de Alfonso. — Se a assustei deste jeito é sinal que
você está no escuro.
— De fato, estou.
O toque inesperado daquelas mãos fizera seu coração disparar, mas ela permaneceu quieta,
sentindo na escuridão aquela presença perturbadora.
— Você está com um perfume gostoso, como uma garota pronta para ir a uma festa. — Annie
sentiu a respiração dele em seus cabelos. — Foi você mesma quem disse que minhas mãos
seriam minha visão e que meus outros sentidos se tornariam cada vez mais aguçados.
Os sentidos dela também se intensificaram com aquela proximidade, havia ainda o odor da
brisa noturna que entrava pela janela aberta e o rádio, tocando baixinho uma canção que
falava sobre o encantamento do anoitecer e de um estranho surgindo na multidão. Era do
repertório de Frank Sinatra.
Alfonso nunca seria um estranho, mas logo estaria afastado dela, em meio à multidão de gente
que lotaria o pátio da casa, de braço com outra mulher — uma mulher de cabelos dourados
enfeitados com uma flor.
— Uma mulher parece tão estranhamente frágil e delicada quando um homem só pode tocá-la
e não consegue vê-la. Qual a cor de seu vestido, Annie?
— Azul… azul-turquesa.
— Azul é uma cor bem inglesa. Fria e distante, como o céu e o mar. A noite está cheirando
bem… sinto o perfume dos jasmins e do mar… Estou contente por termos uma noite linda para
a festa de Christopher. E você… você está muito apaixonada por ele?
A pergunta atingiu-a em cheio e travou-lhe a garganta.
— Invadi um terreno proibido? — Ele retirou as mãos dos quadris de Annie e ela sentiu a dor
de uma perda. — Respeito sua reserva, Annie, mas só queria afirmar que vocês dois têm
minha inteira simpatia e aprovação.
Aquelas palavras, para ela, tinham o efeito de lâminas cortantes ferindo-a cruelmente. Mas
Annie encontrou um certo consolo ao dizer:
— Estou usando a pulseira que Christopher me deu, e espero que seu pai também aprove. Gostaria de
apalpá-la?
— Se você quiser… — Annie segurou-lhe a mão e conduziu-a para o pulso contornado pelo
bracelete. Um substituto espanhol dos grilhões das escravas mouras, pensou ela.
— É de ouro? — Ele quis saber.
— De que mais poderia ser? — Annie sentia-se morrer sob o toque daqueles dedos em seu
braço. — Bem mais difícil de quebrar, não é mesmo?
— Você quer mesmo casar com Christopher, não quer? — Os dedos circundaram seu pulso, formando,
com a pulseira, um duplo grilhão.
— Estou mesmo querendo casar. Ele é bonito, é um homem que sabe o que quer, um homem
de sucesso. São qualidades que qualquer moça apreciaria. Além disso, sempre fomos muito
amigos, desde a adolescência. Você não percebe tudo isto, na sua astuta sabedoria?
— Annie, o que há de errado com você?
Subitamente, ele a segurou pelos ombros e a sacudiu. Ambos ficaram parados, naquela
escuridão, olhos nos olhos, sentindo-se perdidos, mas por razões diferentes.
— Por que deveria haver algo de errado comigo? Afinal, hoje ficarei oficialmente noiva de um
homem maravilhoso.

Queridas leitoras, como quase não houve comentarios só postei apenas um capítulo, é chato chegar aqui e ver que quase ninguém comentou, desamina continuar postando, postarei mais capitulos assim que tiver comentarios, por favor meninas comentem, a web já esta no finalzinho e quero saber o que estão achando dos capitulos postados.