Fanfic: A aposta - Vondy - ADP | Tema: Vondy

Ucker localiza a caixinha de bambu. Está posicionada sobre uma rocha branca, próxima às margens do riacho. A corredeira é feroz e se os dois entrarem na água, poderão ser levados. A melhor opção é um deles se agarrar a uma árvore e o outro resgatar a caixa.
— Eu vou. – o tom alterado de Ucker não deixa opção.
— Tudo bem, vá lá. – ela dá de ombros, analisando as árvores ao redor. Um galho grosso e forte o bastante poderá ajudar na estratégia.
— Acha que consegue nos segurar? – ele pergunta.
— Acho que sim.
— Se for soltar, me avise. – Ucker entra na água.
— Tá legal.
A operação é executada com maestria. Ucker pega a caixa de bambu e volta para a margem, encharcado da cintura para baixo. Só então percebe que Dulce morde o lábio, olhando para algum lugar próximo.
— O que foi? – ele olha para trás.
– Que merda! Corremos risco à toa. Sobre um tonel cinza, uma corda foi deixada pelos monitores, propositalmente.
Realmente Ucker estava achando aquela operação de resgate muito arriscada.
— Agora já foi. – ela diz, indiferente.
– Por favor, nos solte logo. Ucker abre a caixa e pega a chave. Sem qualquer dificuldade, consegue livrá-los das algemas. A garota sacode o braço, avaliando se o pulso está ferido. Não está. Ucker desenrola o mapa envolto em um saquinho transparente.
— Para onde agora? – Dulce enche o cantil de água.
— Tem uma trilha mais à frente. – Ucker aponta para algum lugar além das árvores. — Ok, vamos lá.
~~***~~
Eles caminham – na verdade se arrastam – pela nova trilha. Dulce está cansada e não consegue absorver a beleza da mata. Desvia de folhas, arbustos, galhos e nem sequer nota os micos que pulam acima de suas cabeças. Ucker segue logo atrás, tomando o último gole de água do cantil. Abre uma barra energética e manda para dentro em três dentadas. Já passa das três e meia da tarde.
— Esse tesouro tem que valer a pena. – Ucker comenta para si mesmo.
— Se não valer a pena, vou socar alguém. – Dulce rosna, enxugando o suor da testa. O caminho ziguezagueia entre outras trilhas. Mas o mapa é perfeito, cheio de marcações, impossível de se perderem. Dulce ainda está com aquela forte sensação de estar sendo seguida e não é por Ucker. Olha para trás uma vez. Mais outra. E mais outra.
— O que foi? – ele finalmente pergunta, olhando também para trás.
— Juro, acho que estamos sendo seguidos.

— Dulce, você está paranoica.
— Não estou não. Tenho quase certeza disso.
— Tudo bem, vou ficar atento. Agora anda, ainda temos chão pela frente. – Ucker mira o mapa e confere se estão no caminho certo. – De acordo com as instruções, vamos encontrar a garrafa logo ali. Ele aponta para um conjunto de árvores que formam um semicírculo. Vasculham a área a procura do objeto. No mapa, uma árvore está marcada com um xis vermelho. Dul olha em volta, mas é Ucker quem encontra o tronco pintado. A garrafa está presa nos galhos mais altos, balançando com o vento. Dul olha para Ucker. Ucker olha para Dulce. Alguém precisará subir.
— Certo, eu vou. – ele decide.
— Nada disso. – ela interpõe. – Você resgatou a caixa, nada mais justo que eu pegue a garrafa.
— Está alto demais!
— Está duvidando da minha capacidade? Quer apostar? – Dulce leva as mãos à cintura.
— Pensei que nunca mais apostaria algo na vida. Não depois de… bom, deixe para lá. – Ucker está em dúvida se deve permitir ou não que Dul escale a árvore.
— Eu subo. Fique aqui – ela o posiciona – Para o caso de eu despencar lá de cima.
— Por favor, não despenque, é sério. Dul analisa a árvore detalhadamente. Possui ranhuras no tronco, o que facilitará a escalada. Ucker une as duas mãos, entrelaçando os dedos. Ela se posiciona e toma impulso.
Tranquilamente, Dul encontra pontos de apoio para os pés. Cautelosa, chega aos primeiros galhos e tudo fica mais fácil ainda. Seus dedos já podem tocar a garrafa. O objeto está preso a um galho grosso e pesado. Dul se segura e corta a corda, com a ajuda do canivete suíço. Olha para baixo e vê quando Ucker a pega ainda no ar.
— Agora desça daí, com cuidado. Uma brilhante ideia pisca no cérebro de Dulce como um painel de neon. Quando inicia a descida, lembra-se das palavras de Mai e resolve colocar o plano em prática. Se algo der errado, ela poderá se machucar. Será que os fins justificam os meios? Bem, só testando para descobrir. Engolindo em seco, Dul finge colocar o pé em falso e despenca da árvore. Ucker a alcança, mas não consegue se equilibrar. Os dois desabam no chão. A antiga Dul teria levantado num pulo, afastando-se de Ucker. A nova Nina, criada por Mai, não faz nada disso. Permanece onde está, por cima do garoto. Os olhos estão cravados um no outro. Ucker está arfando? Oh sim, ele está. Não consegue controlar a mão que rasga o ar, tocando os cabelos dela. A sensação é de que o tempo parou. Com os polegares, ele traça o desenho dos lábios de Dul, suavemente. Ela não se afasta quando a mão dele desliza para sua nuca, puxando-a para mais perto. Ela sente o hálito quente de Ucker. As bocas já estão entreabertas e as pálpebras semicerradas. Se a garota precisa agir, o momento é agora. Tomada por uma urgência, Dul se desvencilha das mãos de Ucker. Levanta-se sobressaltada, sustentando uma expressão que denota surpresa e algo mais. Ucker nem imagina que a cena foi premeditada.
— É melhor irmos andando. – Dul bate as mãos na bermuda, livrando-se das folhas secas e da terra.
— Dulce. – Ucker se senta, tentando domar a respiração.

— Vamos, Ucker. – ela pega a garrafa do chão, puxa o novo mapa para fora e retoma a trilha, sem olhar para trás.