Fanfic: A aposta - Vondy - ADP | Tema: Vondy

Hoje é o último dia de aula no Prisma. Ucker, Poncho, Mai e Any conversam no pátio, debaixo de um Caquizeiro, um dos locais preferidos de Dul no colégio. Ucker conta como anda a investigação de Rei Trancinha e as notícias não são nada animadoras. Bola não sai do quarto há dias. Segundo Rei, ele já comeu todos os salgadinhos do mundo e bebeu quinhentos litros de refrigerante. O cara está na maior depressão desde que Belinda foi presa na loja de departamentos. Ela responderá em liberdade, mas essa liberdade não inclui Bola. Parece que a garota disse por telefone, com todas as letras, que não o suporta. O chamou de gordo, ridículo, nojento, asqueroso, imbecil e por aí vai. O garoto realmente merece tudo o que está acontecendo. O problema é que ele não sai do quarto e Rei não tem acesso ao computador do cara.
— Não dá para acessar remotamente? – Dul pergunta para Poncho.
— Daria se o filho da mãe ligasse a merda do computador. – Poncho dá um soco no ar.
— E se conversássemos com o Bola? – Mai especula. – Quem sabe?
— O Hulk e o Edgard já tentaram, sem sucesso. – Poncho elucida.
— Quando a Dulce viaja? – Ucker pergunta, sem olhar para ninguém em específico.
— Hoje a tarde. – Mai engole em seco. – Ucker, ela está irredutível.
— Não sei o que fazer. – ele lamenta, chutando um caqui ao se levantar. – Sem as provas, ela não vai me ouvir.
— Temos que conseguir essas provas o mais rápido possível. – Any se levanta num salto, como se estivesse pronta para uma briga.
— Mas como, bebê? – ok, ok, ok… parem tudo agora mesmo. Bebê???? Bem, é assim que Poncho trata Any desde que eles se entenderam. Ai, fala sério, não?
— Não sei, Ponchito, mas temos que conseguir.
Sessenta e seis: Embarcando para Paris
Quatro da tarde. Check-in feito. Momento da despedida. Nina segura as lágrimas do jeito que dá. Uma ou outra teima em cair e ela as enxuga rapidamente. Já abraçou Any e Mai umas quinhentas vezes e parece não ser o suficiente. Dan, que não é de se emocionar facilmente, está com os olhos marejados e a garganta seca. Ele se aproxima de Dul e começa a dizer:
— Eu amo você. Sabe disso, não é?
— É claro que sei. – Dul dá um soquinho de leve no estômago do irmão.
— Não arrume confusões por lá. Fique longe de caras que usem cuecas, tá bom?
— Pode deixar, Dan.
Os olhos de Dul percorrem o saguão do aeroporto, desesperados por uma miragem, uma aparição do além. Para sua completa surpresa, Ucker e Poncho estão bem próximos, recostados numa pilastra. Ucker está particularmente lindo hoje, vestindo calça branca, camiseta cinza e uma camisa xadrez por cima. É impressionante, mas toda a mulher que passa por ele, até mesmo garotinhas, giram o pescoço de forma sobrenatural para admirá-lo. Ucker possui esse poder, essa aura expandida que atrai a atenção sem precisar de qualquer esforço.
— O que esse palhaço está fazendo aqui? – Dan brada, irritadiço.
— Por que não vai até lá se despedir? – a mãe de Dul sugere.
— O quê? Pirou, mãe? – Dan mostra os dentes, doido por uma confusão.
— Concordo com sua mãe. Vá até lá. – o pai de Dulce não é o máximo? Debaixo das vociferações de Dan, Dul busca os olhares de Anahí e Maite. Ambas meneiam a cabeça, em concordância. Ela respira fundo e toma coragem. Não conseguirá simplesmente ignorar a presença dele e partir. Coloca-se a caminho, mirando as próprias mãos que agora tremem sem controle. Dulce sente como se tivesse sido atirada de um avião, sem para-quedas. Poncho os deixa a sós quando Dulce alcança o seu destino.
— Ainda não consegui as provas. – Ucker leva as mãos aos bolsos da calça, fitando o chão.
— As meninas disseram que você está se esforçando muito para isso. – Dulce suspira tristemente. – Ucker, não foi só a gravação, é o todo, você entende?
— Começou tudo errado, eu concordo com você. Mas precisa terminar errado?
Dul não consegue se segurar. Suas mãos rasgam o ar, tocando o rosto dele, alisando a barba dourada por fazer. Ucker fecha os olhos, sentindo a troca de energia entre eles. Numa ânsia insuportável, as mãos dele saem dos bolsos, envolvendo a cintura de Dulce, puxando-a para si. Num sussurro embargado, ele declara:
— Eu amo você e esperarei para sempre se for preciso.
— Não faça isso. – Dul fecha os olhos, afundando o rosto no peito dele.
— Diga que tenho uma chance.
— Não posso dizer uma coisa dessas. – ela abre os olhos e o encara. – Não posso lhe dar falsas esperanças.
— Dul, o que eu preciso fazer? Me diga e eu farei. – Ucker implora, os olhos úmidos.
— Não há nada a ser feito, desculpe.
Nos autofalantes do aeroporto, a chamada para o embarque tem início. Dul sente um nó se formar na garganta, assim como Ucker. Ele quer beijá-la, prendê-la, sequestrá-la. Uma urgência toma conta do cara e, mesmo com os pais e o irmão de Dulce por perto, não consegue se segurar. Os lábios se encontram em desespero. Ucker escuta quando Dan vocifera um palavrão, mas não se retrai. Dul se agarra a ele, sem saber se conseguirá soltá-lo, deixá-lo para trás. Mas ela precisa muito se afastar. E por incrível que pareça, ela consegue. Ambos arfam, sem ar. Olhos nos olhos. Eles se encaram por um curto período, até que a voz nos autofalantes retorna relembrando sobre o embarque.
— Eu tenho que ir. – Dulce chacoalha a cabeça e se põe a andar antes que desista de vez da viagem. Ao passar por Poncho, se despede do cara. – Cuide bem dele, tá bom?
— Eu não tenho esse poder, Dulce. – Poncho a puxa para um abraço. – Boa viagem.
Dulce se despede de todos uma última vez, antes de pegar sua coisas e finalmente entrar na área do embarque internacional. Já estava preparada para ser repreendida pelos pais ou pelo irmão. Contrariando todas as expectativas, nenhum deles se pronuncia com relação ao beijo. Talvez tenham entendido que as coisas são mais complicadas do que aparentam ser. Ela não queria, mas olha para trás quando o funcionário do aeroporto lhe devolve a passagem e o passaporte. A imagem é terrível e a garota fraqueja. Ucker chora compulsivamente e está sendo amparado por Poncho e Any. A cena faz o coração de dulce se estraçalhar dentro do peito. Não. Ela não desistirá da viagem. Mudar de ares vai lhe fazer bem e ela precisa muito pensar. Engolindo suas vontades, sufocando todos os sentimento, abafando a voz interna que grita para que ela fique, Dulce junta os cacos e caminha mais do que apressada para bem longe dali.