Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Subitamente, Christopher estava cansado do jogo, de provocar a princesa mimada, embora ela tivesse lhe oferecido o único entretenimento valioso num mundo que estava de ponta-cabeça. A necessidade de resgatá-la o unira aos seus três amigos pela primeira vez em cinco anos, e tirá-la de seu detestável meio-irmão o presenteara com um momento de satisfação tão sublime que Christopher se deleitaria na vitória por anos à frente.

Exceto que agora, estava enfrentando uma princesa que acreditava poder dar palpite no que estava acontecendo. Por que ele a deixara pensar assim? Por que tinha tolerado as exigências dela, permitindo-lhe tal privilégio quando ela nunca o tivera?

Sabia por que... porque ainda estava muito zangado por ter sido colocado naquela posição. Porque não entendia o motivo de ser o único que sofreria e se sacrificaria, o único frustrado com a situação sem escolha na qual se encontrava. Então, por que não deveria experimentar alguma alegria em vê-la ser tirada de sua preciosa zona de conforto?

E que direito Dulce tinha de se sentir tão ressentida quando casamento era a única coisa requerida dela? Enquanto que, para Christopher, casar-se com a princesa era apenas uma necessidade irritante numa longa lista de requerimentos que seu vizir lhe dera, a fim de capacitá-lo a assumir o trono de Al-Jirad. E quem tinha tempo para todas aquelas coisas? A habilidade de falar Jiradi fluentemente, assim como árabe; a necessidade de ser capaz de cotar passagens do livro sagrado de Jiradi, as quais ele deveria saber de cor antes da coroação; precisar honrar a aliança entre os países vizinhos, casando-se com uma princesa de nascimento nobre de Jemeya.

Não. De repente, estava cansado daquilo tudo.

Ele suspirou quando ela o olhou, a expressão desafiadora e abertamente hostil. Estava cheio de uma situação que mal havia começado.

— Rei Hamra está morto.

Ela piscou. Então arregalou os olhos, abriu a boca em choque. Depois, balançou a cabeça.

— Não.— Dulce levou as mãos à boca.— Você disse que era rainha Petra. Não!

Ele observou aquelas mãos. Lembrava-se delas. Delgadas, com dedos longos. Mãos que tinham se aproximado perigosamente de seu sexo excitado na noite anterior. Mãos que, em breve, teriam esse privilégio e direito, um direito que ele esperava que fosse exercido.

Então Christopher descobriu que os olhos da princesa estavam cheios de lágrimas. Simultaneamente, perguntou-se sobre a habilidade dela de distraí-lo e praguejou em silêncio quando soube que a notícia que precisava lhe dar a faria se sentir ainda pior.

— Mas como?— perguntou Dulce. -Quando?

— Na manhã antes de você ser sequestrada. Rei Hamra estava em seu caminho para férias no Egito... ele e a rainha num helicóptero, com seus conselheiros mais próximos, a mãe e os filhos, as esposas e famílias, no outro. Por algum motivo, os dois helicópteros se aproximaram muito. Ninguém sabe por quê. Mas parece que suas hélices se tocaram, e os dois helicópteros caíram.

Ele lhe deu um momento para absorver a notícia, antes de acrescentar:

— Não há sobreviventes.

A princesa empalideceu, os olhos e cílios escuros subitamente realçando numa pele tão branca que Christopher temeu que ela desmaiasse.

Ele segurou-lhe os ombros antes que ela pudesse cair, e conduziu-a para a cadeira mais próxima, onde Dulce se sentou.

— Mas certamente não todos eles? Não Akram e Renata? Não Kaleem e Akra? E, por favor, não as crianças? Elas eram tão pequenas, apenas bebês...

Ele não podia lhe oferecer nada, então permaneceu em silêncio, apenas meneando a cabeça.

— Ninguém me contou!— gritou ela, quando percebeu a verdade e a extensão do desastre.— Eu não sabia de nada. Durante todo o tempo que fiquei naquele acampamento, eles não falaram nada. Oh, sim, riram e fizeram piadas rudes sobre o que Mustafa pretendia fazer comigo, mas ninguém me disse nada sobre a morte do rei e sua família.

Ela o fitou, choque e dor evidentes na expressão, e, por um momento, Christopher sentiu quase pena da princesa. Mas, ora, por que deveria sentir compaixão por ela, quando sua vida também havia virado de ponta-cabeça, seu futuro designado por regras criadas séculos atrás? Os dois eram vítimas naquela situação.

— Esse é o motivo de que tudo que está acontecendo? Porque isso está conectado com a tragédia?

Por que ela precisava parecer tão vulnerável? Ele queria estar zangado com a princesa mimada que teria de fazer o que a nação necessitava, em vez do que queria. A última coisa que Christopher desejava era sentir empatia por Dulce. Ou compaixão. Especialmente quando estava sendo submetido às mesmas forças externas. Respirou fundo.

— Al-Jirad precisa de um rei.

Ela o olhou, os cílios longos molhados de lágrimas.

— Aquele homem... o vizir... o chamou de Majestade. Você será o rei?

— Eu sou uma possibilidade. Rei Hamra era meu tio. Meu pai teve dois filhos com duas esposas diferentes. Um foi Mustafa. O outro, eu.— Ele pausou.— E, é claro, qual de nós substituirá o rei será decidido pelo pacto.

Ela assentiu, os olhos endurecendo com a percepção do que estava porvir, o sofrimento ainda lá, mas emoldurado por raiva agora.

— Então, é disso que se trata esse jogo de “Caça à Princesa”. Quem se casar com a princesa ganha a coroa de Al-Jirad.

— É isso que o pacto requer. No que diz respeito à coroa de Al-Jirad, a aliança será renovada pelo casamento entre as famílias reais de nossos dois países. Por causa da situação de sua irmã mais velha...

— Você quer dizer, porque ela tem dois filhos de dois pais diferentes, e nunca se incomodou em se casar com um deles, ela não é mais elegível para a posição? Mas, certamente, minha irmã tem um passado comprovado. Se é de herdeiros que vocês precisam... e tudo na monarquia não se trata de herdeiros?... Marina se provou capaz de conceber, o que eu, infelizmente, não fiz.

— Sua irmã é, para colocar isso de modo suave, excessivamente qualificada para a posição. O fato que você ainda não concebeu está ao seu favor.

Ainda não concebeu. Ela queria socar alguma coisa. Talvez Zoltan. Mas princesas não expressavam tais instintos tão básicos. Entretanto, a declaração de que aquele acordo a favorecia irritou-a em demasia.

— Como isso pode estar ao meu favor, quando me força a uma situação?

— Esse é um dever, princesa. Não é nada pessoal.