Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Christopher esperou mais um pouco, não podendo evitar admirar o controle férreo de Dulce. Talvez ela não fosse tão frágil quanto ele imaginara, ou estaria tendo um acesso de choro pela derrota. Encará-lo depois de tê-lo instruído para ficar, apenas para significar que ele testemunhara sua humilhação, não seria uma tarefa fácil. Para ninguém, muito menos para uma princesa mimada.

Dulce o encarou.

— Meu pai... sheik Ashar... diz que eu não tenho escolha. Aparentemente, nenhum de nós tem. Parece que é mais complicado do que uma mera aliança. Ele diz que nossos países estão inexoravelmente unidos, e que se este casamento não acontecer, nossas duas famílias perdem o direito aos seus respectivos tronos. Então, se eu me negar, não será somente Al-Jirad sem um rei.

Christopher esperou. Sabia que isso era verdade, mas ela nunca teria acreditado se ele lhe contasse. Era melhor que a informação tivesse vindo do pai dela.

— Então está decidido. Não há escapatória deste casamento, para nenhum de nós.

Ela piscou, os olhos tão vazios quanto a voz.

— Não, a menos que eu deseje que meu pai perca a coroa, e meus irmãos percam seu direito de primogenitura.

Dulce respirou fundo e pareceu ficar mais alta, ergueu o queixo, os olhos resignados, mas ainda com um brilho de desafio.

— Eu não faria isso com a minha família, é claro.

— É claro.

— Estou presa a este casamento.— Os olhos dela se tornaram mais frios.— E, aparentemente, presa a você.

Christopher a observou saindo da sala, a cabeça erguida, a postura régia, os cabelos cascateando pelas costas. Cabelos que tinham parecido seda em suas mãos. Ele lembrou-se da sensação de tê-la nos braços, do calor daquela boca carnuda, do corpo curvilíneo e suave contra o seu, e gemeu baixinho.

Apesar de todos os protestos de Dulce, havia uma mulher viva sob aquele exterior soberbo, ardente e desejosa, e ele teria grande prazer em remover cada uma daquelas camadas protetoras.

— O que aconteceu com você?— Havia risada nas palavras de Rashid, enquanto ele conduzia os dois outros amigos para dentro da biblioteca, e via o rosto de Christopher.

— Deixe-me adivinhar— disse Bahir com um sorriso travesso.— A princesa aconteceu para ele.

Kadar encostou-se na mesa, perto de onde Christopher estava sentado e estudou as três linhas no rosto de seu amigo.

— Não é de admirar que ela não tenha ficado impressionada com meus fogos de artifício. Parece que ela está produzindo seus próprios.

Christlceopher recostou-se em sua cadeira. Seus amigos achariam aquilo duplamente divertido se soubessem o que ele estivera fazendo antes que Dulce o arranhasse com as unhas.

— Fico contente que vocês acham isso tão divertido. O que estão fazendo aqui, de qualquer forma? Pensei que iriam caçar com falcões, hoje.

— Achamos que você pudesse estar solitário— disse Rashid, pegando um peso de papel de cima da mesa e jogando-o de uma mão para a outra.— Não imaginávamos que estaria ocupado com outra coisa.

— Não derrube isto— avisou Christopher, grato pela oportunidade de mudar de assunto.— É vidro de Murano, e com trezentos anos. Um presente do rei da época para sua sheika. Vale uma fortuna, aparentemente.

Rashid parou de brincar com o peso de papel, olhando para o vidro colorido na mão, antes de colocá-lo de novo sobre a mesa.

Kadar girou o livro grosso na frente de Christopher e olhou para baixo.

— O que é isto?

— O livro sagrado de Al-Jirad. Eu preciso decorá-lo para a coroação.

— Inteiro?

— Sim, inteiro, capítulos e versos. Tenho de estar pronto para cotar a coisa certa no momento apropriado e citar a sabedoria de anos.

Rashid assobiou.

— Então, amigo, você realmente precisa de salvação.

Kadar fechou o livro antes que Christopher pudesse impedi-lo.

— Vamos.

— Eu não tenho tempo— replicou ele.— Vejo vocês no jantar.

— O quê? Está ocupado demais para passar alguns minutos com seus melhores amigos, quando viemos de tão longe para ajudá-lo?

— Absurdo— concordou Rashid, pegando o peso de papel novamente e jogando-o na outra mão.— Além disso, você precisa se exercitar alguma hora. Iremos para a piscina.— E ele jogou o peso de papel para Christopher tão rapidamente que ele quase não conseguiu pegar antes que o vidro caísse no chão de mármore.

— Reflexos um pouco lentos, hoje?— provocou Rashid, olhando para o rosto dele. Christopher sabia que ele não estava falando do peso de papel.— Aposto que ganho de você na natação por vinte voltas. O que me diz.

Christopher já estava de pé.

— Sem chance.