Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Dulce não podia acreditar na situação que se encontrava. Estava deitada na grande cama macia, seus travesseiros ensopados de lágrimas. Mas agora, horas depois de ter retomado da reunião fatídica na biblioteca, suas lágrimas tinham acabado, seus olhos estavam inchados e doloridos, e havia um vazio em seu interior, onde esperança residira uma vez.

Não havia esperança agora. Não havia nada além de um buraco de desespero do qual ela não via saída.

Pois no dia seguinte, iria se casar com Christopher, um homem egoísta e arrogante, que não a considerava mais do que uma princesa mimada, achando que ela estava recebendo a melhor parte do acordo ao se casar com um bárbaro como ele, e não havia nada que Dulce pudesse fazer para evitar isso. Recusar o acordo resultaria na ruína das duas famílias reais, e a aliança que vinha mantendo os dois países fortes por séculos.

Apesar de saber disso, ela nunca se sentira tão impotente em sua vida.

Nunca se sentira tão sozinha.

Virou-se na cama, e quando viu o magnífico vestido de noiva dourado num manequim no canto do quarto, fechou os olhos novamente.

Um vestido tão lindo. Quanto desperdício. Um vestido como aquele merecia ser usado num casamento de conto de fadas, todavia, ela se casaria com um monstro, a fim de parir os filhos dele. Condenada a nunca encontrar o amor com o qual tanto sonhara.

Sonhos e esperanças tão tolos.

Afinal de contas, era uma princesa. Enxugou o rosto. Que direito tinha de desejar uma vida normal, mesmo tendo dois irmãos para herdar a coroa de Jemeya?

Entretanto, outros príncipes e princesas ao redor do mundo pareciam se casar por amor nos dias de hoje. Por que ela não deveria ter tido a mesma esperança?

Balançou a cabeça. Era inútil sentir pena de si mesma. Indo para o banheiro, molhou uma toalha de rosto e segurou-a contra seus olhos inchados. Podia chorar para sempre, e isso não mudaria as coisas. Aparentemente, nada que fizesse mudaria as coisas.

Ela voltou para seu quarto, passando pelas portas abertas do terraço quando as cortinas balançaram com a brisa, enquanto ela ainda segurava a toalha fria contra o rosto. Maite devia ter aberto as portas, supôs, antes de deixá-la sozinha em seu desespero, porque Dulce tinha certeza que estavam fechadas antes.

Pobre Maite. Estivera tão animada para lhe mostrar o vestido de noiva quando Dulce voltara da biblioteca, tão encantada em lhe contar sobre os preparativos do dia seguinte... os banhos em óleo fragrante, a henna e a cabeleireira. Dulce estivera tão deprimida que dera uma única olhada para o vestido, antes de se jogar na cama, cair aos prantos e mandar a garota embora.

A brisa vinda das portas abertas a atraiu, pois carregava o perfume do jardim abaixo, o delicioso aroma de jasmim e das laranjeiras. Ela foi para o terraço de sua suíte. O sol estava baixo agora, os raios de fim de tarde tomando as pedras do palácio douradas, mesmo nos lugares que não eram dourados. O jardim estava banhado em meia luz, o som da água e de pássaros vindo das profundezas verdes agindo como um antídoto para estresse.

Tudo parecia tão lindo e pacífico, tão perfeito, mesmo quando Dulce sabia que as coisas estavam longe de ser perfeitas, que ela não pôde resistir ao convite do jardim perfumado.

Havia uma escada que descia do terraço para o jardim. Ela olhou para sua suíte e notou que alguém já tinha guardado o casaco que ela removera e jogara em cima da cama, mas não importava. Provavelmente, não precisaria dele. A temperatura estava agradável, e ela não pretendia encontrar ninguém no caminho.

Não queria encontrar ninguém. Uma vida inteira de treinamento lhe ensinara que deveria estar apresentável em todas as situações, preparada para qualquer contingência. Dulce sempre obedecera a tal regra, somente para que sua vida desse uma virada bizarra e a forçasse a um casamento, apenas porque um pedaço de papel demandava aquilo. Então, o que importava sua aparência? Ela penteou os cabelos com os dedos e alisou a calça. Isso serviria. Um dia, teria se importado, mas hoje, depois de tudo que acontecera, sentia-se estranhamente distante de sua vida anterior.

Não importava mais.

Se devia se casar com alguém que detestava porque a aliança antiga entre seus dois países assim ditava, então nada mais importava... não sua aparência física, seu comportamento, ou os sonhos e desejos que tinha para sua vida. Apenas que você era uma princesa. E Christopher a detestava, de qualquer maneira. Não se importaria com sua aparência.

Christopher estava preso a ela, assim como ela estava presa a ele, e, de alguma maneira, esse pensamento confortou-a um pouco, enquanto ela descia os degraus para o jardim. Afinal de contas, por que deveria ser a única a sofrer com aquele a arranjo?

Suas pernas roçaram os arbustos de lavanda no caminho pelo qual ela andava, liberando seu perfume no ar. O jardim estava deserto, como ela imaginou que estaria, silencioso, exceto pelo roçar de folhas na brisa, pela música da água e pelo canto dos pássaros. Ela andou sem rumo, inalando o ar puro, encantada com toda a beleza ao seu redor. Parou perto de uma árvore carregada de flores, apanhou um jasmim branco e amarelo e levou-o ao rosto, absorvendo seu perfume doce.

A flor favorita de sua mãe, ou assim seu pai lhe dissera quando eles tinham visto as fotografias de casamento de seus pais.

Imaginou o que sua mãe lhe diria agora. Seria tão fria quanto seu pai, que lhe dissera hoje que era inútil desejar ou sonhar que as coisas fossem diferentes, porque ela era o que era, e nada podia mudar isso? Ou sua mãe teria sido mais compreensiva, pelo menos mais empática sobre a situação?

E não pela primeira vez, Dulce questionou-se sobre o casamento de seus próprios pais, desejando que soubesse mais sobre as circunstâncias que eles haviam se conhecido. Mas sua mãe morrera cedo demais, para que Dulce tivesse interesse naquilo, e agora tudo ocorrera tanto tempo atrás.

Ela chegou a uma abertura numa parede, em formato de buraco de fechadura, vasos de plantas de cada lado. Um caminho para outro jardim? , perguntou-se. Mas quando olhou para o outro lado, viu uma série de passagens arcadas, através das quais teve um vislumbre de palmeiras que pareciam chamá-la.

Dulce olhou para trás, tentando se orientar para que não se perdesse, viu o que devia ser seu terraço acima de muita vegetação, e percebeu que estava do outro lado do palácio, do lado oposto de onde a biblioteca ficava.

Longe de Christopher, pensou, então talvez pudesse se aventurar mais um pouco, especialmente se aquele seria seu novo lar.

Encontrou apenas outra pessoa, uma criada, que lhe fez uma reverência e afastou-se apressadamente.

Passou por uma fonte, onde pássaros tomavam água alegremente, e a brisa sussurrou através das palmeiras, a promessa dos caminhos arcados atraindo-a. Ela adorava todos os arcos. Cada um tinha uma decoração diferente, um era coberto com mosaico azul e branco, outro, incrustado com pérolas, o último, com pavões de plumagem brilhante e colorida, cada um deles uma obra de arte.