Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Foi enquanto passava sob o último arco ricamente decorado, e se perguntava o que encontraria adiante, que Dulce ouviu uma voz, um grito, e então barulho de água espirrando e risadas. Risadas masculinas, vindas de algum tipo de piscina. Ela virou-se, pressionando as costas contra a parede fria de ladrilhos, grata por ter ouvido as vozes antes de se aproximar deles. Não deveria estar lá. Tinha ido longe demais.

E então ouviu a voz de Christopher entre as outras, e o gosto amargo de bílis subiu à sua garganta ao lembrar quão difícil tinha sido sair daquela biblioteca com a coluna reta e a cabeça erguida, quando se sentia tão arrasada... como precisara de todo seu autocontrole para esperar até que estivesse trancada em sua suíte antes de cair em prantos. Não suportaria vê-lo de novo com todas essas memórias tão vívidas em sua mente.

A voz dele soou novamente, emitindo algum tipo de desafio. Houve gritos e risadas, e o desafio pareceu ser aceito por outro. A injustiça daquilo irritou-a ainda mais. Claramente, Christopher não estava agonizando sobre o casamento forçado, apesar de todos os seus protestos de que não queria uma esposa. Claramente, não estava sofrendo, se podia se divertir com os amigos numa piscina. Mais uma vez, a verdade abalou-a. Para Christopher, ela não passava de uma peça num jogo que não tinha chance de ganhar.

Houve barulho de água espirrando e de torcida, e a curiosidade a venceu. Quem eram aqueles homens com Christopher? Poderiam ser aqueles que o tinham acompanhado ao acampamento no deserto? Talvez ela devesse dar uma espiada. A piscina não era particular, afinal de contas. Não havia placa, e Dulce estava apenas caminhando.

Certificando-se de ficar nas sombras sob o arco, olhou para o jardim que cercava a piscina. Havia dois homens lá, nenhum deles era Christopher, do lado de fora da piscina, parcialmente sombreados pelas palmeiras. Mesmo assim, ela pôde ver as cicatrizes que marcavam as costas de um dos homens, e imaginou o que causara marcas de aparência tão brutal, quando a água foi dividida por braçadas vigorosas de mais dois homens atravessando a piscina.

Até que eles chegaram ao fim, um deles subindo à superfície segundos antes de seu rival, e saindo da piscina.

— Eu ganhei— disse o primeiro, oferecendo a mão para o segundo.

Christopher, ela percebeu desapontada, enquanto olhava para o corpo musculoso molhado. Que típico que ele ganhasse a corrida. E que pena. Dulce teria adorado vê-lo perder. Adoraria ver alguma coisa ou alguém que lhe tirasse aquele ar arrogante de superioridade.

Todavia, seus olhos o percorreram, observando os ombros largos, descendo para o torso poderoso, para quadris estreitos envoltos num calção de lycra preto, até as longas pernas grossas.

Dulce fungou, recusando-se a ficar impressionada. Então talvez, estivera errada antes. Talvez ele não fosse exatamente como Mustafa, pelo menos não fisicamente, pensou ao se lembrar do homem gordo, coçando a barriga grande através da túnica, com dedos quase femininos, adornados com anéis exagerados.

Ela tremeu, sabendo quão perto chegara daquele destino repulsivo.

Entretanto, não importava quantos músculos Christopher possuísse, ou se a pele cor de oliva brilhasse como ouro na luz. Não quando, na essência, ele era igual ao meio-irmão. Não quando ainda havia tantos motivos para ela detestá-lo com cada fibra de seu ser.

— Eu lhe dei vantagem na saída— disse o rival de Christopher.— Vamos considerar a melhor de três.

Christopher riu e bateu nas costas do amigo, erguendo o rosto para o céu, a fim de balançar água de seus cabelos escuros. Dulce teve de piscar e olhar de novo para se certificar de que era ele.

Christopher realmente ria? Este era o mesmo homem que o monstro que a encontrara na biblioteca? O mesmo bárbaro que a informara, de modo implacável, que ela não possuía escolha? Porque quando ele sorria, quando ria tão abertamente, o rosto dele se transformava. Não o tornava bonito exatamente. As feições eram muito fortes para que Christopher pudesse ser considerado bonito. Mas rindo, ele parecia quase humano.

Um arrepio percorreu a coluna de Dulce. No dia seguinte, este homem seria seu marido. Este homem detestável estaria deitado na cama ao seu lado, usando menos do que usava agora. E esperando...

Dulce tremeu, sentindo uma apreensão crescente que o desconhecido logo se tornaria conhecido.

Ela levou as flores que apanhara no caminho ao rosto, inalando seu perfume.

Não era assim que havia imaginado que aquilo seria.

— Princesa Dulce?