Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

Dulce apertou uma perna contra a outra, desejando que tivesse pegado seu casaco antes de sair ao ar livre, de modo que Christopher não testemunhasse mais nenhuma reação de seu corpo à presença dele. Cruzou os braços sobre os seios para que eles não a traíssem.

— Eu só estava caminhando— disse ela, desejando fervorosamente que ele usasse aquela toalha para se cobrir, mesmo que apenas para que ela não se sentisse tentada a olhar lá.— Para clarear a cabeça.

— Um bom plano— concedeu ele, frustrando as esperanças dela, quando jogou a toalha sobre a cadeira mais próxima. Mais um motivo para odiá-lo, ela disse a si mesma, pois qualquer homem decente se cobriria na frente de uma lady... uma princesa. Mas aquele claramente não era um homem decente. Era um bárbaro, que a tratava de maneira horrível. Um bárbaro arrogante e, sem dúvida, acostumado a desfilar quase nu em volta de mulheres. E daí se ele parecesse quase humano quando sorria e ria? Ele não sorria para ela, e não ria com ela.

Ria dela.

E Dulce o detestava.

Ela poderia ter lhe dito isso, mas naquele momento Christopher abaixou-se e pegou as flores que ela derrubara, e das quais se esquecera há muito tempo.

— Esta é uma boa hora para andar no jardim. Todas as flores noturnas exalam seus perfumes para adocicar nosso sono, nos fazer esquecer o calor do dia, e nos permitir sonhar com estações mais frescas.— Então, ele ergueu as flores para o nariz, inalando profundamente, fechando os olhos por um segundo, dando-lhe a chance de estudá-lo mais de perto... os cílios e sobrancelhas pretos, o nariz forte, e as três marcas vermelhas causadas por suas próprias unhas.— Lindas— murmurou Christopher, surpreendendo-a de novo.— Você as derrubou?

Quando Dulce assentiu, porque sua garganta estava muito seca para falar, ele gentilmente colocou uma das flores entre seus cabelos e atrás da orelha dela, presenteando-a com o resto do buquê.

— Eu vou indo— disse ela, pegando as flores e começando a se distanciar, extremamente perturbada apenas pelo roçar dos dedos dele em seus cabelos, pelo toque daqueles dedos bronzeados contra os seus. Sentia-se tão desconcertada pela proximidade de Christopher, e como esta aguçava seus sentidos. Confusa por um homem que, de repente, parecia mais com seu salvador da noite anterior, o homem em cujo corpo quente Dulce se aninhara, em vez do bárbaro que destruíra suas defesas hoje, sem a menor misericórdia.

Como um homem que ela odiava tanto podia lhe despertar sentimentos de desejo?

Pois este era o mesmo homem, disse a si mesma, que somente a resgatara para que pudesse ser rei. Mas é claro que ele parecia mais relaxado agora. Não tinha necessidade de discutir com ela, porque conseguira o que queria. Christopher sabia que ela fora forçada a aceitar o casamento, que não tivera outra escolha. Sabia que tinha vencido.

Ele não queria uma esposa.

Queria apenas ser rei. Por acaso, Dulce era a mulher que tomaria isso possível. Ela era um meio para um fim.

Oh, sim, havia boas razões para que ele risse com os amigos agora, e fosse mais educado com ela, e tal conhecimento deu combustível ao ódio de Dulce. Porque Christopher assumia que, uma vez que ela teria de ceder ao casamento, faria isso sem mais reclamações e se tornaria uma noiva obediente.

Nem morta.

E esse pensamento lhe deu forças.

— Você está ocupado, e eu estou interrompendo— disse Dulce. Mas quando olhou na direção da piscina, procurando a prova para apoiar seu argumento, descobriu o lugar vazio, os amigos tendo desaparecido. Como eles tinham ido embora sem que ela notasse? Agora, estava sozinha com Christopher, com ele usando nada mais que um pedaço de lycra preta. Ela olhou para as flores em sua mão, tentando focar no detalhe das pétalas, nas cores delicadas. Qualquer coisa que pudesse impedi-la de olhar para a lycra preta, e o volume que vira de relance naquela região.— Eu realmente tenho de ir.

— Assim você disse.— Ele sorriu, notando o esforço que ela fazia para permanecer fria. Por um momento, Dulce parecera recobrar alguma compostura, alguma daquela prepotência que ele testemunhara na biblioteca, mas agora ela parecia insegura novamente, quase confusa, como uma atriz tendo dificuldade de representar seu personagem.

Há quanto tempo ela estivera parada nas sombras, observando? No que estivera pensando que levara um delicioso rubor de culpa às faces alvas?

Fosse o que fosse, Dulce não parecia arrogante agora, como quando tinha saído da biblioteca. Parecia tímida e vulnerável. Uma mulher, em vez de uma princesa fria. Uma mulher que parecia não saber para onde olhar.

— Alguma coisa errada, princesa? Você parece... agitada.

Ela o fitou agora, a expressão exasperada.

— Você poderia se cobrir! Eu não estou acostumada a conversar com homens quase nus.

— Apenas a observá-los, aparentemente— murmurou ele, enquanto se deleitava ao ouvir aquilo. Não queria pensar em Dulce com outros homens. Ela obviamente os tivera... tinha quase 24 anos, afinal de contas. Mas pelo menos, diferentemente da irmã, Duce escolhera ser discreta sobre eles.

— Eu não sabia que você estava aqui!

— E quando soube, foi embora imediatamente.— Ele já estava pegando a toalha que largara mais cedo. Num movimento flexível, enrolou-a ao redor dos quadris e prendeu-a. Abriu as mãos em suas laterais.— Assim está melhor?

— Um pouco— respondeu ela.— Obrigada. E agora, eu devo ir.

— Fique mais um pouco— convidou ele, apreciando a companhia de sua princesa irascível. Ela era estranha, movendo-se através de uma faixa de emoções e reações rapidamente demais para que Christopher acompanhasse ou entendesse, frustrando-o, porque ele não sabia com o que estava lidando, mas intrigando-o, ao mesmo tempo.

— Quero que você conheça alguns amigos meus. Ou os conheça novamente, sem máscaras, desta vez.— Então Christopher olhou para trás, a fim de chamá-los para apresentá-los, surpreso ao descobrir que eles haviam desaparecido. Mais surpreso ainda que eles não estivessem na fila para congratular a mulher que o marcara, não somente uma, mas duas vezes no espaço de 24 horas.