Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

— Está na hora, princesa.

Assustada, Dulce olhou para cima, do assento almofadado, onde parecia que centenas de mãos haviam estado ocupadas, fazendo os ajustes finais em seu véu e maquiagem, apenas um momento atrás, enquanto agora sentia seu estômago se contorcer de medo. Certamente, não estava na hora da cerimônia ainda. O dia se passara numa nuvem de preparativos, começando com um banho de sais aromáticos numa banheira, antes que ela fosse submetida a diversos outros mimos, como massagens, manicura, pedicura, e aplicação de henna, criando padrões dourados no dorso de suas mãos e pés, um gesto de sua aceitação à cultura de Al-Jirad.

Tudo isso tinha levado horas, entretanto, não podia estar na hora do casamento ainda. Mas, olhando para o relógio, ela viu que Maite estava certa. A cerimônia começaria em menos de dez minutos.

Dulce fechou os olhos, sentindo-se enjoada, apesar de mal ter comido o dia inteiro.

— Não fique nervosa, princesa— Maite a tranquilizou. — Você está linda.— Claramente, a garota confundia sua reação com nervosismo normal de noiva. Mas não havia nada de normal naquele casamento. Mesmo se o espelho que Maite subitamente produziu e segurou à sua frente a fizesse arfar.

Ela piscou, e olhou novamente. Aquela mulher no espelho, adornada em túnicas douradas, com os cabelos ruivos trançados com cordões de pérolas, e presos atrás da cabeça, era realmente ela? Seus olhos, pintados com kohl, pareciam enormes e brilhantes, seus lábios com batom vermelho estavam mais carnudos. Ela parecia uma noiva de verdade.

A enormidade do que estava sendo forçada a fazer era como um peso em seu peito. Casar-se com um estranho. Um déspota.

Um bárbaro que não se importava com ela, mas somente com o que Dulce poderia fazer por ele.

Que desperdício tinha sido sentir-se aliviada por escapar das mãos asquerosas de Mustafa, pois lá estava ela, sendo forçada a se casar com outro captor arrogante.

Uma das mulheres ajeitou a queda do véu, enquanto Maite estudava-lhe o rosto.

— Você está perfeita, princesa. Sheik Christopher não será capaz de resistir à sua nova esposa.

Sentindo uma onda de náusea, Dulce fechou os olhos e concentrou-se na respiração. Não se permitiria passar mal. Era uma princesa de Jemeya, afinal de contas. Não envergonharia seu pai ou seu país dessa forma.

Em vez disso, recobrou o controle, sorriu para as mulheres satisfeitas com o resultado de seus trabalhos e murmurou com uma ponta de ironia:

— Então não devemos deixar sheik Christopher esperando.

Seria um evento breve... apenas uma pequena reunião, ela fora avisada... em consideração à recente morte da família real, motivo pelo qual a cerimônia aconteceria neste palácio, em vez de no Palácio Azul. A coroação aconteceria lá dentro de alguns dias, após o período tradicional de luto, mas o casamento agora cimentaria Christopher como o novo rei.

A cerimônia em si foi dolorosamente breve. Com o estômago ainda em nós, Dulce foi conduzida para um salão de bailes dourado, onde tanto seu pai como Christopher a esperavam na frente de um pequeno grupo de convidados e oficiais, já sentados a mesas baixas para a festa que se seguiria. Ela estudou os rostos que a olhavam, mas não pôde encontrar sua irmã entre eles, e sentiu uma onda de desapontamento que Marina não se incomodara em ir. Mas aquela era sua irmã, e metade do motivo pelo qual Dulce a amava tanto. Em vez de seguir convenções e tentar fazer a coisa certa, Marina criava suas próprias regras e vivia de acordo com estas, e não culpava ninguém quando as coisas iam mal.

Talvez sua irmã estivesse certa.

A pequena multidão ficou silenciosa se levantou quando ela chegou, e, ao som da música, Dulce atravessou o salão e foi em direção ao seu destino. Seu pai sorriu-lhe em aprovação, o sorriso de um homem que não via a filha há alguns dias, mas também o sorriso de um homem que manteria sua coroa. E ela não poderia culpá-lo por isso. Seu pai nascera para ser rei. Não entendia de nenhuma outra coisa. Não conhecia outro caminho.