Fanfic: O Dever e a Paixão | Tema: Vondy

E ela estava com tanto medo.

Nunca deveria tê-lo provocado. Deveria ter sabido que ele encontraria um jeito de atingi-la de volta, que sua pequena vitória seria de curta duração.

Dulce olhou para cima e viu um pequeno avião cortando o infinito céu azul. Desejou do fundo de sua alma que estivesse naquele avião agora, voando para bem longe de Al-Jirad, de Christopher e de seu direito de primogenitura.

Mas não estava, porque era uma princesa, e o dever ditava que ela se casasse com um homem que não amava.

Dever.

Uma palavra tão pequena. E que impunha tanto. E esta noite, Christopher esperaria que ela fizesse seu dever mais uma vez, e o deixasse levá-la para cama.

Ela tremeu com o pensamento, de súbito assaltada por imagens e sensações: a sensação dos braços fortes ao seu redor na biblioteca, a boca sensual explorando a sua, a visão do corpo magnífico brilhando com a água da piscina...

Dulce inalou o ar perfumado e observou o avião desaparecer a distância, enquanto pensava sobre seus sonhos e esperanças destruídos. Não havia mais esperança de se casar com um homem que amasse. Não havia escapatória de um casamento forçado. Não agora.

Mas isso não significava que ela fosse completamente impotente.

— Princesa— Maite falou ao seu lado - o sheik ficará preocupado.

— Ela assentiu, quando uma idéia se formou em sua cabeça, mas sabendo que o que Maite dizia era verdade. A qualquer momento, Christopher enviaria pessoas para encontrá-la e arrastá-la de volta.

Então ela estava presa naquele casamento. Mas Christopher era um tolo se pensasse que conseguiria tudo que quisesse, e que ela se entregaria a ele numa bandeja.

Dulce não se desperdiçaria daquela maneira.

Não tinha se guardado durante todos aqueles anos para ser tomada por um bárbaro.

* * *

— O que você está fazendo aqui?

 Dulce parou à mesa onde estava sentada, pausando no meio da frase na carta que estava escrevendo para sua irmã, a fim de contar-lhe sobre o casamento. Era altamente provável que a carta nunca fosse enviada, os detalhes sendo muito reveladores, mas escrever aquilo tudo, colocar seus pensamentos e sonhos destruídos em palavras era catártico.

Mas em parte, aquilo tinha sido alguma coisa para passar o tempo, para aplacar seu nervosismo crescente, enquanto esperava a inevitável batida à porta.

Soubera que, mais cedo ou mais tarde, Christopher terminaria seus drinques com os amigos, ou qualquer coisa que o fizera pedir licença e desaparecer depois da cerimônia, e iria procurá-la. Deveria ter sabido que ele não esperaria que ela abrisse a porta, mas entraria no quarto, exibindo o orgulho masculino afrontado.

Ela levantou-se para encará-lo. Contra os protestos chocados de Maite, Dulce se livrara dos metros e metros de tecido dourado, soltara os cabelos e removera a maquiagem, vestindo uma camisola branca simples, com um penhoar branco amarrado na cintura. Agora apenas as tatuagens de henna adornando suas mãos e pés permaneciam, mas estas também sairiam com o tempo, e pelo menos ela não se sentia mais como algum tipo de prêmio a ser conquistado numa guerra. Sentia-se ela mesma. Nem sequer mais uma princesa, porém uma mulher.

Uma mulher com mente própria. Uma mulher que conhecia seus deveres, mas que também tinha suas próprias esperanças e sonhos para o futuro.

— Por que eu não estaria aqui?— perguntou Christopher com desafio.— Afinal de contas, esta é a minha suíte, sheik Christopher.

— E esta é a nossa noite de núpcias!

Ela deu de ombros, percebendo que não tinha sido a única a se livrar do traje de casamento. Christopher também trocara a túnica branca por uma calça de corte impecável e uma camisa que se aderia ao peito como a carícia de uma amante. Mas ela não pensaria sobre as amantes dele agora... sobre quantas ele tivera, ou o que as mãos delas fariam para explorar um peito como aquele. Não que estivesse com ciúme, exatamente. Apenas não tinha interesse em saber os detalhes.

Dulce ergueu o olhar para o rosto dele.

— Seu ponto sendo?

— Você deveria estar no meu quarto. Não lhe avisaram que eu estava esperando encontrá-la em minha suíte?

Ela olhou para as páginas que escrevera, refletindo sobre as coisas que falara, todas as suas esperanças e decepções, expondo seus sonhos inúteis. Pensando bem, talvez fosse melhor não enviar a carta. Sua irmã provavelmente, riria, e diria que nenhum homem merecia que uma mulher esperasse por ele, muito menos um que ela nem sabia se existia.

— Creio que alguém mencionou alguma coisa assim.

— Então, por que eu tive de vir procurá-la aqui?

— Porque eu não vi sentido em ir para seu quarto.

Christopher passou uma mão pelos cabelos.

— Do que você está falando? Por que não?

— Porque pensei que isso pudesse lhe dar a idéia errada— replicou ela, pausando para se deleitar na expressão confusa no rosto dele, antes de declarar:— Considerando o fato que eu não tenho intenção de dormir com você.